São Paulo, sábado, 29 de novembro de 2008

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Mercado Aberto

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

Mercadante defende empréstimo à Petrobras

O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) considera exageradas e equivocadas as críticas que foram feitas ao empréstimo de R$ 2 bilhões da Caixa Econômica para a Petrobras.
Para ele, em razão da forte restrição ao crédito no mundo, justifica-se a adoção por parte do governo de políticas anticíclicas para tentar amenizar os efeitos desta crise sobre a atividade econômica.
Mercadante atribui esse financiamento à Petrobras a uma saída encontrada pela companhia tanto para compensar a escassez de crédito externo como também para evitar a alternativa de corte no seu programa de investimento.
De acordo com o senador, uma outra saída seria a desaceleração dos investimentos, o que, a seu ver, seria o menos aconselhável.
Segundo Mercadante, a Petrobras responde por 12% do total da receita tributária da União e 10% da cadeia produtiva do petróleo. A companhia representa 90% dos investimentos do seu setor.
"A manutenção dos investimentos da Petrobras é fundamental para a manutenção do emprego no país", diz.
Para Mercadante, se for levado em consideração o que o mundo todo tem feito para tentar combater a recessão, as críticas ao empréstimo concedido pela Caixa à Petrobras são ainda mais injustificáveis.
Ele citou, entre outros exemplo, a decisão do Tesouro americano de resgatar mais de US$ 300 bilhões em títulos podres do Citigroup, as operações de capitalização de diversos bancos e os financiamentos subsidiados que estão sendo concedidos para o consumo.
"O mundo inteiro está tomando atitudes muito mais difíceis do que as nossas, como comprar ativos podres do "subprime" e adquirir participação acionária dos bancos", diz.
Mercadante chama a atenção também para o fato de que o empréstimo pela Caixa à Petrobras não foi subsidiado.
Enquanto o mundo sofre com dificuldades no setor financeiro, Mercadante argumenta que o Brasil não enfrentou problemas de insolvência bancária.
"E, em meio à crise, consolidou-se a fusão entre o Itaú e o Unibanco sem dinheiro público, constituindo o maior banco do hemisfério Sul", diz.
Por essas razões, Mercadante acha que a discussão sobre o empréstimo à Petrobras está deslocada. A grande preocupação, a seu ver, deveria ser o gasto com custeio, como o aumento ao funcionalismo público aprovado nesta semana no Senado, que vai custar mais de R$ 20 bilhões aos cofres da União.

Revendedoras de veículos têm queda forte com a crise

A crise atingiu com força não só as montadoras mas também os revendedores de veículos usados. Em outubro, foram realizados 163.321 negócios pelas revendas independentes do Estado de São Paulo. O número representa queda de 13,65% ante setembro, segundo George Assad Chahade, presidente da Assovesp/Sindiauto (associação de revendedores de SP).
E a tendência é que os resultados de novembro sejam piores, segundo Chahade. "Agora parece que nos últimos dez dias o crédito começa a ter um pouco de aceitação, mas temos que aguardar", diz.
A escassez de crédito foi o vilão para a queda nas vendas. Em outubro, só 49% dos negócios foram financiados, contra 82% em setembro, segundo a entidade. O prazo médio de financiamento caiu de 48 meses em setembro para 45 em outubro. "Estamos em um período muito ruim por causa da seletividade acima do normal que se criou no crédito. A dificuldade do consumidor em obter linhas de crédito reduziu o nosso negócio. Caíram os prazos e subiram os juros. E carro é uma coisa que, para vender, precisa de uma política de crédito."
"Trabalhávamos com um saldo financiado de 82%, que caiu para 64%. Para comprar um carro de R$ 10.000, era preciso dar R$ 1.800 de entrada. Hoje, precisa de uma entrada de R$ 3.600 a R$ 4.000." Nos último dias, Chahade diz que as lojas já sentiram os efeitos da nova incidência de crédito, "mas bem curtinho". Os números de novembro ainda vão mostrar resultados desastrosos, segundo ele. "Eu tinha expectativa de fechar o ano com 12% acima de 2007, mas estou revendo."
A desvalorização dos carros populares foi de 0,18%, os importados caíram 1,02%. Chahade não está otimista e diz que, mesmo que o mercado se recupere, não vai resgatar o patamar de euforia que vivia antes da crise. "Aquele aquecimento passou."

Investidores de alta renda retornam à poupança na crise

A crise econômica trouxe a poupança de volta ao topo da lista de investimentos entre pessoas das classes A e B. Hoje, 88% das mulheres e 66% dos homens investem nessa modalidade, segundo pesquisa da Quorum Brasil feita na primeira semana deste mês. No levantamento de 2007, que não faz divisão por gênero, apenas 37% das pessoas da mesma faixa de renda aplicavam na caderneta.
"Antigamente, o pensamento era que a poupança é um investimento de pessoas menos esclarecidas. Mas agora, com esta crise, a própria classe A se voltou para a velha e boa poupança em busca de segurança", disse William Horstmann, sócio do Quorum Brasil.
As mudanças na conjuntura econômica também provocaram uma redução nas aplicações em fundos de investimentos. No ano passado, eles lideravam a lista da Quorum de modalidades de investimentos entre as pessoas com renda entre R$ 5.000 e R$ 10.000, com 55% de adesão dos investidores. Agora, apenas 14% das mulheres e 48% dos homens investem em fundos.
Até os investimentos em imóveis sofreram redução, provavelmente pelo impacto da crise econômica, que começou no mercado imobiliário norte-americano com o crédito "subprime" (alto risco). Em 2007, 48% dos investidores de alta renda aplicavam em imóveis. Neste mês, o percentual caiu para 15% entre os homens e 20% entre as mulheres da mesma faixa de renda.
"As pessoas já estão contaminadas pela crise. Todos estão com maior aversão ao risco", disse Horstmann.
Para ele, as diferenças na forma como os homens e as mulheres investem apontam conservadorismo maior do público feminino na hora de escolher a modalidade de investimento.

LEITURA
O Etco (Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial) vai lançar, na segunda-feira, em São Paulo, o livro "Direito e Economia" (Editora Saraiva, 86 págs.). O trabalho resulta da edição 2007 de um ciclo de debates promovido pela entidade que reuniu estudiosos das duas áreas. Os textos foram organizados pelo jornalista Oscar Pilagallo, colaborador da Folha. Participaram dos debates Eros Grau, ministro do STF, Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda, e outros.

FECHADO
A TIM fechou a compra da Intelig.

TIJOLO
Além da ajuda de R$ 1,5 bilhão, a Caixa Econômica ampliou os prazos de financiamento de 48 para 60 meses do programa Construcard (para compra de material de construção). O juro é de 1,69% ao mês mais TR.

ENTRETENIMENTO
O grupo ABC, de Nizan Guanaes, mira sua próxima área de atuação: indústria de entretenimento. Nizan, que diz estar de férias em Trancoso, acaba de se associar à Mondo Entretenimento, produtora responsável por trazer ao país nomes como Queen e Duran Duran. Nizan quer criar a maior empresa de entretenimento da América Latina.

com JOANA CUNHA e MARINA GAZZONI


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