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Governo pressiona por redução dos juros
Guido Mantega diz a executivos do setor financeiro que todos precisam "fazer a sua parte" para o crescimento do país
Durante jantar anual da federação dos bancos, o anfitrião diz que o crédito continua fluindo e Henrique Meirelles fez crítica discreta
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURAL DE BRASÍLIA
KENNEDY ALENCAR
EM SÃO PAULO
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
Falando a cerca de 200 banqueiros na noite de anteontem
em São Paulo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, deixou
claro que é intenção do governo
liderar uma cruzada pela redução dos "spreads" bancários,
mas não deu pistas das medidas
que podem ser adotadas.
Durante o tradicional jantar
de final de ano promovido pela
Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Mantega afirmou que o custo financeiro elevado está dificultando a retomada do nível de atividade e
que "a prioridade do governo é
reduzir esse custo para nível
compatível com o crescimento
sustentável da economia". "Se
cada um fizer a sua parte, podemos ter crescimento de 4% em
2009. É um objetivo ambicioso,
mas exequível", destacou, referindo-se à importância da recuperação do mercado de crédito
para o crescimento econômico.
Para essa estratégia do governo Luiz Inácio Lula da Silva, reduzir o "spread" bancário (a diferença entre o custo de captação do dinheiro e o juro cobrado dos clientes) tem importância fundamental.
Na platéia, banqueiros de todos os tipos: os que estão à venda e os que estão indo às compras em tempos de crise, gente
que só precisa de um pouco de
dinheiro para esperar a tempestade passar e aqueles que
possuem recursos de sobra em
caixa mas ficam com receio de
emprestar, executivos que já
anunciaram queda dos juros
por imposição do governo e outros que resistem à idéia neste
momento.
Diplomacia
Mas, como o jantar era de
confraternização, a diplomacia
se sobrepôs às divergências. As
estocadas foram sutis e ocorreram antes de os executivos e as
autoridades se dedicarem às
garfadas no filé ao molho de cogumelos. A partir daí, eles eram
só sorrisos mútuos.
Anfitrião da festa, Fábio Barbosa, presidente da Febraban,
fez questão de frisar que os números divulgados nesta semana pelo Banco Central mostram que "o sistema [bancário]
não deixou de operar". Criticado nos bastidores do governo
por declarar que, em razão da
crise mundial, o crédito irá se
acomodar num patamar de
crescimento menor e que há
um "congestionamento no
mercado", já que, com a falta de
linhas externas, as empresas
estão procurando empréstimos
em reais, ele deu seu recado.
Seu discurso teve tom de um
sutil desagravo e bem que poderia ter sido precedido da frase: "Como eu disse e não quiseram acreditar".
Também presente ao evento,
o presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, não encampou abertamente a campanha do governo por redução
dos "spreads" -apenas disse,
em tom de crítica, que é necessário evitar a alternância de
momentos de "excessos" e "retração" no crédito.
Apesar de, nas reuniões da
equipe econômica com o presidente Lula, ser favorável à tese,
na frente dos banqueiros ele
optou por discutir a situação
econômica internacional.
Mais provisão
Meirelles defendeu um aumento na provisão dos bancos
em momentos de bonança do
crédito para poder fazer frente
aos momentos de dificuldades
-provisão é a parcela de recursos que as instituições financeiras são obrigadas a deixar reservada para cobrir eventuais
calotes nas operações de crédito. Citou especificamente o
modelo espanhol, que prevê
provisão adicional à necessária
para garantir a solidez do sistema financeiro toda vez que o
crédito fica acima de um patamar determinado pelo governo. Com isso, forma-se uma reserva que pode ser usada em
períodos de vacas magras.
Apesar de destacar que os
bancos brasileiros operam com
um bom nível de provisões e
que isso se mostrou acertado
com a crise deste ano, ele defendeu a aplicação de um mecanismo pro-cíclico nessa área,
mas disse que isso precisaria
ser acertado entre os países.
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