São Paulo, sábado, 29 de novembro de 2008

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Crédito para empresas teve recuperação de só 1,2%

Apesar dos dados, Meirelles diz que economia está forte

ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO

Estatísticas utilizadas pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em palestra ontem, na Federação de Comércio do Estado do Rio, ilustram o "colapso" de crédito que atingiu as empresas desde setembro, com o agravamento da crise financeira global.
Nos primeiros oito dias úteis de novembro, a concessão de crédito para empresas teve alta de apenas 1,2% -contra elevação de 14,8% para as pessoas físicas, no mesmo período. Os números corroboram a preocupação de muitos economistas, que temem agora que a falta de crédito afete a saúde financeira das empresas, o chamado "risco corporativo".
Na média, a concessão de crédito cresceu 5,7% nos oito primeiros dias úteis deste mês. Apesar da recuperação, é insuficiente diante da contração de outubro -nos oito primeiros dias úteis do mês passado, o volume de crédito cedeu 13% na comparação com o mesmo período de setembro.
Apesar disso, Meirelles disse que o Brasil está forte para enfrentar a crise financeira global- com o país registrando crescimento da massa salarial, do consumo doméstico e do nível de atividade industrial.
Na avaliação do presidente do BC, a economia vai se desacelerar, mas ainda assim terá crescimento superior à média mundial em 2009. Ele citou a projeção -que considerou "pessimista"- do Fundo Monetário Internacional, que prevê avanço de 3% do Produto Interno Bruto do país em 2009.
"Ainda assim, é mais do que o próprio FMI avalia para a economia mundial, 2,2% no ano que vem, e também ficará acima da média registrada pelo Brasil entre 1980 e 2003, que foi de 2,1%", disse Meirelles.
No seminário, o presidente do BC afirmou que o BNDES detalhará, na próxima segunda-feira, como será formatada a linha de crédito de R$ 10 bilhões a ser oferecida às empresas, para capital de giro. E fez um balanço das medidas adotadas pelo governo federal para atenuar os efeitos da crise mundial para o Brasil -que afetou dramaticamente as linhas de crédito internacional que as grandes empresas do país estavam obtendo lá fora.
Para o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola, a retração do crédito doméstico está sendo ainda mais dramática para pequenas e médias empresas. Como as grandes companhias não conseguem mais obter financiamento no exterior, voltam-se para o mercado interno, "expulsando" as empresas menores.
"Não consigo ver motivos para criticar a Petrobras por obter financiamento em banco. Mas é preciso diagnosticar o fenômeno. Esse dinheiro deixará de ser colocado em outro lugar. Há o risco de certo estrangulamento para empresas médias e pequenas", disse Loyola, em referência ao empréstimo de R$ 2 bilhões obtido pela Petrobras com a Caixa Econômica.

Nova fase
Antes da palestra de Meirelles, o diretor de Pesquisas Econômicas do Bradesco, Octavio de Barros, observou que a crise financeira entrava agora em nova fase, com predominância do que classificou como "risco corporativo". E citou como paradigma a operação de socorro que está sendo estudada pelo governo dos EUA para salvar a montadora General Motors.
"O risco é de quebra em série de empresas. O mercado [de crédito para empresas] continua emperrado. E não podemos esquecer que nos 15 primeiros dias de outubro houve um travamento geral. Não houve sequer uma emissão de commercial papers nos Estados Unidos e na Europa", disse.


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