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Seis conselheiros e suplentes da Aracruz renunciam aos cargos
Segundo diretor da controladora Arapar, representantes só esperaram investigações serem concluídas e votadas por acionistas para apresentar carta de renúncia
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Seis pessoas ligadas ao conselho de administração da Aracruz e um membro do comitê
tributário renunciaram a seus
cargos anteontem.
A fabricante de celulose vem
enfrentando sérias dificuldades, desde que reconheceu perdas de US$ 2,13 bilhões com
operações financeiras atreladas ao dólar, os derivativos
cambiais, em setembro.
Os conselheiros que se afastaram foram o ex-ministro
Eliezer Batista, o representante da família fundadora Haakon Lorentzen e o diretor do
grupo Lorentzen Luiz Aranha
Corrêa do Lago. Lorentzen
também tinha cargos nos comitês estratégico e de sustentabilidade, e Aranha, no comitê de
remuneração.
Os suplentes dos conselheiros que saíram foram Alex
Harry Haegler, Mauro Agonilha e Carlos Jürgen Temke.
Agonilha era integrante do comitê de auditoria e Temke, do
comitê estratégico. Ignácio
Ferraz de Sá Freire Júnior era
membro do comitê tributário
da companhia.
Segundo Carlos Temke, que
também é diretor da Arapar,
uma das controladoras da Aracruz, todos os afastados eram
conselheiros e suplentes indicados e representavam a Arapar, vendida ao grupo Votorantim em agosto. Após as as perdas cambiais, no entanto, o grupo Votorantim tem afirmado
que a venda foi suspensa.
"Como houve uma investigação dentro da companhia sobre
o atendimento ou não às regras
internas de controle [...], achamos que não seria correto sair
antes de a investigação estar
encerrada", diz Temke. "Assim
que a investigação foi votada
pelo conselho e assim que o resultado foi levado à assembléia,
atendemos a obrigação perante
a transação, que é sair dos cargos para que o novo proprietário da posição possa indicar os
novos conselheiros."
Segundo Temke, o afastamento não foi causado por declarações de Isac Zagury, diretor financeiro afastado da Aracruz após as perdas. Segundo
Zagury, o comando da empresa
sabia das operações cambiais.
Zagury resolveu se manifestar após a assembléia de acionistas decidir processá-lo pelas
perdas. O movimento foi avaliado como uma tentativa de a
empresa culpá-lo pelo prejuízo
e, assim, tentar driblar ações
judiciais impetradas contra ela
nos Estados Unidos.
Zagury afirmou, no entanto,
que todos na empresa sabiam
sobre as operações com derivativos. Segundo ele, o comitê financeiro, que acompanha a
execução das políticas determinadas pelo conselho, supervisionava seu trabalho, também
analisado por advogados.
Ele afirmou que enviava diariamente relatórios sobre os
contratos ao comitê financeiro,
formado por representantes
dos controladores Safra, família Lorentzen e VCP (Votorantim Celulose e Papel).
"A entrevista foi uma bomba
com a confirmação do que todos sabiam e compromete todos os que estavam lá", afirma
Peter Ping Ho, analista de papel
e celulose da corretora Planner.
Com a falta de informações
sobre os motivos da renúncia
coletiva, já que a Aracruz se recusou a comentar as causas do
afastamento dos conselheiros,
durante todo o dia houve comentários de que a empresa estaria passando por uma ampla
reestruturação, renovando diversos quadros, inclusive o
conselho de administração.
Em dia de alta de 1,06% na
Bolsa, os papéis sem direito a
voto da Aracruz perderam
5,88% de seu valor. Os recibos
negociados em Nova York caíram quase 7%.
Expectativas de mudança
"De certa maneira, uma reestruturação maior poderia ser
um bom sinal, uma vez que tira
a pressão sobre a confiabilidade da Aracruz", diz Ping Ho.
"[Tira] a desconfiança de que,
se a empresa for fazer um empréstimo, por exemplo, ela não
o usará para outros fins."
Temke informou, no entanto, desconhecer qualquer movimento no sentido de reestruturação da Aracruz. "O afastamento foi um movimento normal, causado pela venda da participação que não foi desfeita
em momento algum", diz.
Com dificuldades semelhantes à Aracruz, a Votorantim
afirmou categoricamente, na
reunião com analistas, que o
negócio não seria mantido caso
as condições de negociação não
mudassem, após as perdas. Segundo Temke, no entanto, a
venda não foi suspensa.
Para Ping Ho, a situação da
Aracruz é muitíssimo delicada.
Além das perdas, o mercado
mundial está com estoques em
alta. Algumas fabricantes de
papel estão fechando fábricas
ao redor do mundo e há novas
entrando em operação na Ásia.
"A situação da empresa está
crítica", diz Ping Ho. "Ou a Aracruz usa o caixa para a atividade
ou liquida os derivativos."
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