São Paulo, sábado, 29 de novembro de 2008

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Seis conselheiros e suplentes da Aracruz renunciam aos cargos

Segundo diretor da controladora Arapar, representantes só esperaram investigações serem concluídas e votadas por acionistas para apresentar carta de renúncia

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Seis pessoas ligadas ao conselho de administração da Aracruz e um membro do comitê tributário renunciaram a seus cargos anteontem.
A fabricante de celulose vem enfrentando sérias dificuldades, desde que reconheceu perdas de US$ 2,13 bilhões com operações financeiras atreladas ao dólar, os derivativos cambiais, em setembro.
Os conselheiros que se afastaram foram o ex-ministro Eliezer Batista, o representante da família fundadora Haakon Lorentzen e o diretor do grupo Lorentzen Luiz Aranha Corrêa do Lago. Lorentzen também tinha cargos nos comitês estratégico e de sustentabilidade, e Aranha, no comitê de remuneração.
Os suplentes dos conselheiros que saíram foram Alex Harry Haegler, Mauro Agonilha e Carlos Jürgen Temke. Agonilha era integrante do comitê de auditoria e Temke, do comitê estratégico. Ignácio Ferraz de Sá Freire Júnior era membro do comitê tributário da companhia.
Segundo Carlos Temke, que também é diretor da Arapar, uma das controladoras da Aracruz, todos os afastados eram conselheiros e suplentes indicados e representavam a Arapar, vendida ao grupo Votorantim em agosto. Após as as perdas cambiais, no entanto, o grupo Votorantim tem afirmado que a venda foi suspensa.
"Como houve uma investigação dentro da companhia sobre o atendimento ou não às regras internas de controle [...], achamos que não seria correto sair antes de a investigação estar encerrada", diz Temke. "Assim que a investigação foi votada pelo conselho e assim que o resultado foi levado à assembléia, atendemos a obrigação perante a transação, que é sair dos cargos para que o novo proprietário da posição possa indicar os novos conselheiros."
Segundo Temke, o afastamento não foi causado por declarações de Isac Zagury, diretor financeiro afastado da Aracruz após as perdas. Segundo Zagury, o comando da empresa sabia das operações cambiais.
Zagury resolveu se manifestar após a assembléia de acionistas decidir processá-lo pelas perdas. O movimento foi avaliado como uma tentativa de a empresa culpá-lo pelo prejuízo e, assim, tentar driblar ações judiciais impetradas contra ela nos Estados Unidos.
Zagury afirmou, no entanto, que todos na empresa sabiam sobre as operações com derivativos. Segundo ele, o comitê financeiro, que acompanha a execução das políticas determinadas pelo conselho, supervisionava seu trabalho, também analisado por advogados.
Ele afirmou que enviava diariamente relatórios sobre os contratos ao comitê financeiro, formado por representantes dos controladores Safra, família Lorentzen e VCP (Votorantim Celulose e Papel).
"A entrevista foi uma bomba com a confirmação do que todos sabiam e compromete todos os que estavam lá", afirma Peter Ping Ho, analista de papel e celulose da corretora Planner.
Com a falta de informações sobre os motivos da renúncia coletiva, já que a Aracruz se recusou a comentar as causas do afastamento dos conselheiros, durante todo o dia houve comentários de que a empresa estaria passando por uma ampla reestruturação, renovando diversos quadros, inclusive o conselho de administração.
Em dia de alta de 1,06% na Bolsa, os papéis sem direito a voto da Aracruz perderam 5,88% de seu valor. Os recibos negociados em Nova York caíram quase 7%.

Expectativas de mudança
"De certa maneira, uma reestruturação maior poderia ser um bom sinal, uma vez que tira a pressão sobre a confiabilidade da Aracruz", diz Ping Ho. "[Tira] a desconfiança de que, se a empresa for fazer um empréstimo, por exemplo, ela não o usará para outros fins."
Temke informou, no entanto, desconhecer qualquer movimento no sentido de reestruturação da Aracruz. "O afastamento foi um movimento normal, causado pela venda da participação que não foi desfeita em momento algum", diz.
Com dificuldades semelhantes à Aracruz, a Votorantim afirmou categoricamente, na reunião com analistas, que o negócio não seria mantido caso as condições de negociação não mudassem, após as perdas. Segundo Temke, no entanto, a venda não foi suspensa.
Para Ping Ho, a situação da Aracruz é muitíssimo delicada. Além das perdas, o mercado mundial está com estoques em alta. Algumas fabricantes de papel estão fechando fábricas ao redor do mundo e há novas entrando em operação na Ásia.
"A situação da empresa está crítica", diz Ping Ho. "Ou a Aracruz usa o caixa para a atividade ou liquida os derivativos."


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