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CURTO-CIRCUITO
Nenhuma distribuidora conseguiu acesso a linha de R$ 3 bilhões; banco diz que exigências são necessárias
Socorro do BNDES a elétricas não sai do papel
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O dinheiro do BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social) existe: são R$
3 bilhões de uma linha de crédito
destinada à capitalização das distribuidoras de energia. Mas nenhuma companhia conseguiu até
agora receber os recursos.
Lançado há três meses com o
objetivo de desafogar o caixa das
distribuidoras, afetado desde o
racionamento, o programa do
BNDES exige, como pré-condição para os empréstimos, que as
empresas renegociem com bancos privados pelo menos 50% das
dívidas de curto prazo (a vencer
em até 12 meses). Esse é o maior
entrave encontrado pelas empresas para aderir ao financiamento,
segundo executivos do setor.
Inicialmente, a linha de crédito
foi desenhada para beneficiar 24
distribuidoras. O BNDES, porém,
recebeu até agora apenas uma
carta-consulta, da CPFL Energia.
Duas controladas da holding
-Piratininga e Companhia Paulista de Força e Luz- conseguiram negociar débitos com bancos
privados e apresentar ao banco a
documentação necessária.
Outra duas condições, segundo
executivos do setor, dificultam o
acesso ao financiamento: a conversão de empréstimos dos controladores em aporte de recursos
e a adesão ao nível 2 de governança da Bovespa, que fixa regras de
transparência corporativa e defesa de acionistas minoritários.
O vice-presidente do BNDES,
Darc Costa, disse à Folha que
existe "muita gente interessada",
apesar da rigidez das regras.
"O problema básico é que existem regras que têm de ser cumpridas. Essas empresas estão procurando cumprir. Não estamos
fazendo um programa de simples
capitalização", afirmou. Segundo
ele, "é um programa que visa melhorar a estrutura patrimonial
dessas empresas, que envolve
alongamento do perfil de dívidas
bancárias e conversão de mútuos
[empréstimos] dos acionistas".
Ele afirmou ainda que todas as
empresas têm demostrado interesse. "Só não dizem publicamente." Pelo menos 15 companhias,
de acordo com ele, poderão receber recursos do banco. É, portanto, um número menor do que o
previsto originalmente.
Distribuidoras
O presidente da CPFL, Wilson
Ferreira Jr., disse que, se os empréstimos forem aprovados, a
empresa receberá do BNDES cerca de R$ 200 milhões. Para isso,
renegociou outros R$ 200 milhões
com instituições privadas.
Segundo ele, esse era o último
obstáculo: os controladores (Votorantim, Bradesco, Camargo
Corrêa, Previ e outros fundos de
pensão) já fizeram neste ano um
aporte de R$ 1,5 bilhão para sanear as finanças da companhia,
que aderiu ao nível 2 da Bovespa.
A Light também está se movimentando para conseguir o empréstimo. Negocia com bancos
privados, mas deve fechar a repactuação só no início de 2004. A
companhia espera obter US$ 220
milhões do BNDES.
Duas companhias ouvidas pela
Folha -a Elektro e a Bandeirante- dizem que não se enquadram no perfil traçado pelo banco. Ambas informaram ter os passivos equacionados e endividamento de longo prazo.
O diretor financeiro da Elektro,
Britaldo Soares, disse, porém, que
há interesse no financiamento e
na conversão em capital de um
empréstimo do controlador (a
concordatária norte-americana
Enron) no valor de US$ 1 bilhão.
Isso desde que a companhia consiga também converter para reais
uma dívida que tem em dólares
com o banco italiano Intesa.
Para Soares, as regras precisam
ser flexibilizadas, a fim de permitir a entrada de empresas com dívidas de prazo mais longo. A
Elektro tem débitos totais de R$
2,3 bilhões. O diretor-financeiro
da Bandeirante, Thomas Brulle,
afirmou que a companhia "está
numa situação de caixa muito
confortável", por já ter renegociado débitos e obtido um empréstimo do Banco Mundial. Por este
motivo, não precisaria do empréstimo do banco estatal.
Para Darc Costa, o programa é
bom, resolve os problemas das
distribuidoras e não deve ser alterado. "Não vamos mexer em nada." Segundo ele, a exigência de
adesão ao nível 2 da Bovespa visa
fortalecer o mercado de capitais.
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