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São Paulo, segunda-feira, 29 de dezembro de 2003

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CURTO-CIRCUITO

Nenhuma distribuidora conseguiu acesso a linha de R$ 3 bilhões; banco diz que exigências são necessárias

Socorro do BNDES a elétricas não sai do papel

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O dinheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) existe: são R$ 3 bilhões de uma linha de crédito destinada à capitalização das distribuidoras de energia. Mas nenhuma companhia conseguiu até agora receber os recursos.
Lançado há três meses com o objetivo de desafogar o caixa das distribuidoras, afetado desde o racionamento, o programa do BNDES exige, como pré-condição para os empréstimos, que as empresas renegociem com bancos privados pelo menos 50% das dívidas de curto prazo (a vencer em até 12 meses). Esse é o maior entrave encontrado pelas empresas para aderir ao financiamento, segundo executivos do setor.
Inicialmente, a linha de crédito foi desenhada para beneficiar 24 distribuidoras. O BNDES, porém, recebeu até agora apenas uma carta-consulta, da CPFL Energia.
Duas controladas da holding -Piratininga e Companhia Paulista de Força e Luz- conseguiram negociar débitos com bancos privados e apresentar ao banco a documentação necessária.
Outra duas condições, segundo executivos do setor, dificultam o acesso ao financiamento: a conversão de empréstimos dos controladores em aporte de recursos e a adesão ao nível 2 de governança da Bovespa, que fixa regras de transparência corporativa e defesa de acionistas minoritários.
O vice-presidente do BNDES, Darc Costa, disse à Folha que existe "muita gente interessada", apesar da rigidez das regras.
"O problema básico é que existem regras que têm de ser cumpridas. Essas empresas estão procurando cumprir. Não estamos fazendo um programa de simples capitalização", afirmou. Segundo ele, "é um programa que visa melhorar a estrutura patrimonial dessas empresas, que envolve alongamento do perfil de dívidas bancárias e conversão de mútuos [empréstimos] dos acionistas".
Ele afirmou ainda que todas as empresas têm demostrado interesse. "Só não dizem publicamente." Pelo menos 15 companhias, de acordo com ele, poderão receber recursos do banco. É, portanto, um número menor do que o previsto originalmente.

Distribuidoras
O presidente da CPFL, Wilson Ferreira Jr., disse que, se os empréstimos forem aprovados, a empresa receberá do BNDES cerca de R$ 200 milhões. Para isso, renegociou outros R$ 200 milhões com instituições privadas.
Segundo ele, esse era o último obstáculo: os controladores (Votorantim, Bradesco, Camargo Corrêa, Previ e outros fundos de pensão) já fizeram neste ano um aporte de R$ 1,5 bilhão para sanear as finanças da companhia, que aderiu ao nível 2 da Bovespa.
A Light também está se movimentando para conseguir o empréstimo. Negocia com bancos privados, mas deve fechar a repactuação só no início de 2004. A companhia espera obter US$ 220 milhões do BNDES.
Duas companhias ouvidas pela Folha -a Elektro e a Bandeirante- dizem que não se enquadram no perfil traçado pelo banco. Ambas informaram ter os passivos equacionados e endividamento de longo prazo.
O diretor financeiro da Elektro, Britaldo Soares, disse, porém, que há interesse no financiamento e na conversão em capital de um empréstimo do controlador (a concordatária norte-americana Enron) no valor de US$ 1 bilhão. Isso desde que a companhia consiga também converter para reais uma dívida que tem em dólares com o banco italiano Intesa.
Para Soares, as regras precisam ser flexibilizadas, a fim de permitir a entrada de empresas com dívidas de prazo mais longo. A Elektro tem débitos totais de R$ 2,3 bilhões. O diretor-financeiro da Bandeirante, Thomas Brulle, afirmou que a companhia "está numa situação de caixa muito confortável", por já ter renegociado débitos e obtido um empréstimo do Banco Mundial. Por este motivo, não precisaria do empréstimo do banco estatal.
Para Darc Costa, o programa é bom, resolve os problemas das distribuidoras e não deve ser alterado. "Não vamos mexer em nada." Segundo ele, a exigência de adesão ao nível 2 da Bovespa visa fortalecer o mercado de capitais.



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