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ENTREVISTA
Presidente da empresa para AL diz que pode destinar US$ 3,4 bi a outros países e se queixa de burocracia e infra-estrutura
Alcoa enfrenta "pesadelo" para investir no país
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil está perdendo bilhões
de dólares em investimentos por
apresentar condições menos vantajosas que outros países e não garantir o fornecimento de longo
prazo de um insumo crucial para
a atividade da indústria: a energia.
O diagnóstico é de um entusiasta do país, Franklin Feder, 54, presidente para a América Latina da
Alcoa, maior fabricante mundial
de alumínio. Norte-americano de
nascimento e no Brasil desde os 4
anos, Feder assumiu o posto em
dezembro de 2004, depois de seis
anos nos Estados Unidos no comando do setor de planejamento
e análise global da empresa.
A Alcoa tem planos de investir
US$ 5 bilhões no Brasil, mas US$
3,4 bilhões podem terminar em
outros países se a companhia não
viabilizar projetos de geração de
energia. Nesse terreno, a Alcoa
enfrenta um "pesadelo", diz Feder, que inclui exigências ambientais, divergências dentro do governo e disputas políticas.
Com faturamento de R$ 2,7 bilhões em 2004, a Alcoa respondeu
por 20,7% da produção de alumínio primário no Brasil, que é o
sexto maior produtor mundial.
A seguir, os principais trechos
da entrevista, concedida à Folha
na sede da Alcoa em São Paulo.
Folha - Qual é o peso do país na
operação global da Alcoa?
Franklin Feder - No faturamento,
pouco menos que 5%, mas em
termos de lucratividade, mais ou
menos o dobro que isso.
Folha - Não é muito pouco para
um país que tem vocação para produzir alumínio, como o sr. diz?
Feder - É muito pouco.
Folha - Por que não é maior?
Feder - A resposta conceitual é
porque falta uma política de desenvolvimento industrial no Brasil, que é uma questão de várias
décadas. E dentro dessa política,
definir qual é o papel, as fontes e
os custos de energia. Como é que
se concilia energia com as necessidades da sociedade em relação à
proteção do meio ambiente.
Folha - Quais são os projetos de
investimentos da Alcoa no Brasil?
Feder - Temos aprovado investimentos de R$ 1,6 bilhão nos próximos três a quatro anos.
Folha - A energia é crucial na produção de alumínio, e muitos analistas dizem que há o risco de um novo apagão no Brasil até 2010...
Feder - Eu sou um deles. Não estão sendo construídas novas fontes de geração hídrica no Brasil.
Construiu-se um parque grande
de geradores de fonte térmica,
mas há sérias dúvidas sobre de
onde virá o gás. O país apresenta
taxas favoráveis de crescimento, a
demanda de energia está crescendo, mas se não for feito investimento, vai faltar energia.
Folha - O investimento de US$ 1,6
bilhão será feito mesmo sem ampliação das fontes de energia?
Feder - Sim. Mas a nossa vontade é maior do que isso.
Folha - De que tamanho?
Feder - O total do investimento
pode chegar a US$ 5 bilhões.
Folha - Não há o risco de o Brasil
acabar exportando alumina [matéria-prima] e não alumínio [produto
acabado]? Algo que ocorre em parte com o minério de ferro?
Feder - Sem dúvida. O exemplo
do minério de ferro é perfeito. Por
que as grandes usinas de aço não
se estabelecem aqui? Há vários
projetos, em São Luís, no Rio de
Janeiro, para instalação de novas
siderúrgicas. O Brasil está perdendo essas oportunidades.
Folha - A Arcelor desistiu de um
investimento de US$ 1 bilhão no
Maranhão. O que precisa ser feito
para que isso não ocorra?
Feder - Passa por uma grande
negociação política e social para
decidir como é que nós vamos
energizar esse país. Há três anos
nós queríamos trazer um projeto
de produção de alumínio para o
Brasil, de US$ 1,5 bilhão, que acabamos levando para a Islândia.
Folha - Por quê?
Feder - O governo decidiu construir uma usina dedicada ao fornecimento de energia para nós,
com custo entre US$ 15 e US$ 20 o
MW/h. A Islândia tem uma população de cerca de 280 mil pessoas.
A Alcoa chegava lá e era recebida
pelo primeiro-ministro, que já tinha negociado com o Congresso e
identificado o plano de ação de
cada ministério no projeto. Em
poucos meses, todas as etapas do
investimento estavam definidas.
Vamos para o caso brasileiro. É
um país de 180 milhões, com
grandes disparidades regionais e
vários interesses distintos. A Alcoa sempre foi muito bem recebida pelo Executivo, pelo presidente da Nação, que sempre expressa
o grande interesse do país em
atrair novos investimentos. A
partir daí, levar um projeto desses
adiante vira um pesadelo.
Folha - Quais são os empecilhos?
Feder - Aqui, há vontade do governo federal, mas a partir daí
passa-se a uma negociação. Há divergências políticas, interesses diferentes, interesses de municípios
e, mesmo dentro do Executivo, há
posições divergentes entre o Ministério do Meio Ambiente e o
Ministério do Desenvolvimento,
sem falar na questão de energia.
Folha - O sr. falou de investimentos de US$ 5 bilhões, com US$ 1,6
bilhão já aprovado. Para onde vão
os US$ 3,4 bilhões restantes?
Feder - Se não vierem para o
Brasil, vão para outro lugar do
mundo. É um investimento para
cinco a oito anos. Esses recursos
seriam destinados a uma nova fábrica de alumínio e a uma refinaria para a bauxita de Juruti. Mas,
para isso, precisamos de energia.
Nós já temos investido no setor
de geração. Temos investimentos
em duas barragens no Sul e estamos batalhando para viabilizar
novos investimentos no setor
energético. O projeto que estamos
perseguindo é o de Estreito, que
fica na divisa do Maranhão com
Tocantins. É relativamente grande, difícil de viabilizar.
Folha - Por quê?
Feder - Por questões ligadas ao
meio ambiente, dificuldades de
conseguir uma licença de instalação, que depende de negociações
com o Ibama [Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis] e Funai
[Fundação Nacional do Índio].
Só queremos partir para um
empreendimento desses por
meio de um acordo social com todas as partes interessadas.
Folha - Os juros historicamente
altos e a recente valorização do
real também não inviabilizam investimentos no país?
Feder - Se nós fôssemos investidores pontuais, sem dúvida esses
dois fatores fariam com que deixássemos o Brasil de lado. Mas os
nossos investimentos têm vida
útil de 50 ou 75 anos e demoram
de três a cinco anos para serem erguidos. Se hoje o juro é alto e o
real, valorizado, já temos experiência suficiente no Brasil para
saber que provavelmente em dois
anos o real será mais competitivo
e a tendência é que os juros caiam.
Folha - Qual sua expectativa para
o próximo ano?
Feder - Acho que 2006 deve ser
um ano de crescimento acelerado. É um ano eleitoral, vai haver
um investimento forte do setor
público, que deve ser acompanhado de alguma redução da taxa
de juros reais. Se você olhar para o
Brasil, existem muitos motivos
para ser otimista.
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