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Empresas captam 3 vezes mais no exterior
Com maior procura por papéis de companhias brasileiras, emissões ultrapassam US$ 25 bi no ano; em 2008, ficaram em apenas US$ 6,7 bi
Demanda chega a superar em 5 vezes valor ofertado nas captações; para analistas, porém, mercado ainda tem restrição a empresas menores
TONI SCIARRETTA
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Empresas brasileiras de
grande porte conseguiram tomar emprestado neste ano
quase três vezes mais dinheiro
no exterior do que em 2008.
A demanda por papéis brasileiros é tão alta que chega a superar em cinco vezes o valor
ofertado nas emissões, quando
o normal, antes da crise, era ultrapassá-lo, no máximo, em
duas vezes.
A procura pelos papéis brasileiros por parte de fundos de
pensão e de investimento estrangeiros tem sido bastante
superior ao montante oferecido, fato que estimula empresas
nacionais de diferentes portes a
correrem para se endividar em
dólares. As empresas brasileiras e o Tesouro já captaram
US$ 25,279 bilhões neste ano
até novembro -275% mais do
que os US$ 6,731 bilhões de
2008 e mais que o dobro dos
US$ 11,609 bilhões de 2007.
No ano que seguiu ao pior da
crise, poucos mercados mudaram tanto e em tão pouco tempo como o que consome títulos
de dívida privada, segundo analistas. Avesso ao risco dos países emergentes, esse mercado
fechou as portas para as empresas brasileiras no final de 2008,
fazendo com que algumas das
maiores companhias nacionais
voltassem a se financiar no país
e secassem o pouco dinheiro
disponível para o crédito.
Agora, esse mesmo mercado
transformou as companhias
brasileiras em "queridinhas" da
comunidade internacional, ávida por títulos de baixo risco e
alto retorno, em um mundo
com juros próximos de zero.
Alberto Kiraly, vice-presidente da Anbima (associação
das entidades de mercado),
afirma que o Brasil é um dos
emergentes que mais acessaram o mercado de dívida no final do ano. No auge da crise, as
companhias brasileiras de primeira linha que pretendiam
captar recursos no exterior encontraram um mercado onde
se exigiam taxas que chegavam
a 13% ao ano -além do risco
cambial. Quem não estava desesperado não se submeteu a
isso. O resultado é que quase
não houve operações fechadas
entre outubro de 2008 e março
deste ano. No primeiro semestre como um todo, só saíram
cinco operações privadas.
Para reabrir esse mercado, o
governo brasileiro fez uma captação de US$ 1,025 bilhão por
dez anos com taxa de 5,88% ao
ano no dia 6 de janeiro. Mesmo
assim, um mês depois a Petrobras teve de se submeter a uma
taxa de 7,875% para obter US$
1,5 bilhão por dez anos. A Odebrecht aceitou juros de 9,625%
para captar, em abril, US$ 200
milhões por cinco anos.
Em outubro passado, a situação já era bastante diferente: a
Petrobras conseguiu estender
o prazo de captação de US$ 1,5
bilhão de 10 para 30 anos e ainda reduziu os juros de 7,875%
para 6,875%. De novembro para cá, empresas brasileiras tiveram acesso a taxas de 6%, menores do que antes da crise.
"Esse mercado já voltou ao
patamar anterior à crise. E voltou com uma força muito grande em relação ao Brasil", disse
Allan Simões Toledo, vice-presidente da área internacional
do Banco do Brasil, que participou neste ano de 19 captações.
Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating,
as empresas brasileiras "tendem a buscar com maior interesse o mercado externo".
"Mas vejo que os investidores
internacionais ainda estão bastante seletivos. Para as companhias de maior porte, a retomada das captações é uma realidade. Mas o tamanho ainda faz diferença. Para as menores o cenário não é tão animador."
Seletividade
A crise global, que explodiu
em setembro de 2008, deixou
os estrangeiros mais seletivos
na hora de investir. A crise
mostrou que adquirir um ativo
apenas por oferecer uma taxa
mais atraente pode ser perigoso. Dessa forma, gigantes bem
conhecidas lá fora, como Petrobras, Vale e os grandes bancos
nacionais, têm encontrado as
portas abertas para levantar recursos. Já uma pequena empresa que se aventure no exterior pode encontrar baixa demanda por sua oferta e taxas
ainda muito elevadas.
O fato de o Brasil ter sido um
dos últimos países a entrar na
crise e um dos primeiros a dar
sinais de tê-la superado ajudou
a reposicionar o país no exterior. Na Bovespa, o saldo das
operações feitas com capital
externo também é bastante favorável, estando positivo em
mais de R$ 20 bilhões no ano.
"Há muito dinheiro empoçado querendo vir para o Brasil. O
país virou o queridinho. Em
certa parte porque o país passou no teste de estresse e está
sendo visto como um dos vencedores da crise", disse Paulo
Cesar Souza, diretor comercial
do Société Générale.
"Todo mundo esqueceu tudo
de ruim que tinha no Brasil.
Talvez porque o país tenha ficado um pouco melhor do que o
restante do mundo", completa.
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