São Paulo, terça-feira, 29 de dezembro de 2009

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Empresas captam 3 vezes mais no exterior

Com maior procura por papéis de companhias brasileiras, emissões ultrapassam US$ 25 bi no ano; em 2008, ficaram em apenas US$ 6,7 bi

Demanda chega a superar em 5 vezes valor ofertado nas captações; para analistas, porém, mercado ainda tem restrição a empresas menores


TONI SCIARRETTA
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Empresas brasileiras de grande porte conseguiram tomar emprestado neste ano quase três vezes mais dinheiro no exterior do que em 2008.
A demanda por papéis brasileiros é tão alta que chega a superar em cinco vezes o valor ofertado nas emissões, quando o normal, antes da crise, era ultrapassá-lo, no máximo, em duas vezes.
A procura pelos papéis brasileiros por parte de fundos de pensão e de investimento estrangeiros tem sido bastante superior ao montante oferecido, fato que estimula empresas nacionais de diferentes portes a correrem para se endividar em dólares. As empresas brasileiras e o Tesouro já captaram US$ 25,279 bilhões neste ano até novembro -275% mais do que os US$ 6,731 bilhões de 2008 e mais que o dobro dos US$ 11,609 bilhões de 2007.
No ano que seguiu ao pior da crise, poucos mercados mudaram tanto e em tão pouco tempo como o que consome títulos de dívida privada, segundo analistas. Avesso ao risco dos países emergentes, esse mercado fechou as portas para as empresas brasileiras no final de 2008, fazendo com que algumas das maiores companhias nacionais voltassem a se financiar no país e secassem o pouco dinheiro disponível para o crédito.
Agora, esse mesmo mercado transformou as companhias brasileiras em "queridinhas" da comunidade internacional, ávida por títulos de baixo risco e alto retorno, em um mundo com juros próximos de zero.
Alberto Kiraly, vice-presidente da Anbima (associação das entidades de mercado), afirma que o Brasil é um dos emergentes que mais acessaram o mercado de dívida no final do ano. No auge da crise, as companhias brasileiras de primeira linha que pretendiam captar recursos no exterior encontraram um mercado onde se exigiam taxas que chegavam a 13% ao ano -além do risco cambial. Quem não estava desesperado não se submeteu a isso. O resultado é que quase não houve operações fechadas entre outubro de 2008 e março deste ano. No primeiro semestre como um todo, só saíram cinco operações privadas.
Para reabrir esse mercado, o governo brasileiro fez uma captação de US$ 1,025 bilhão por dez anos com taxa de 5,88% ao ano no dia 6 de janeiro. Mesmo assim, um mês depois a Petrobras teve de se submeter a uma taxa de 7,875% para obter US$ 1,5 bilhão por dez anos. A Odebrecht aceitou juros de 9,625% para captar, em abril, US$ 200 milhões por cinco anos.
Em outubro passado, a situação já era bastante diferente: a Petrobras conseguiu estender o prazo de captação de US$ 1,5 bilhão de 10 para 30 anos e ainda reduziu os juros de 7,875% para 6,875%. De novembro para cá, empresas brasileiras tiveram acesso a taxas de 6%, menores do que antes da crise.
"Esse mercado já voltou ao patamar anterior à crise. E voltou com uma força muito grande em relação ao Brasil", disse Allan Simões Toledo, vice-presidente da área internacional do Banco do Brasil, que participou neste ano de 19 captações.
Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, as empresas brasileiras "tendem a buscar com maior interesse o mercado externo". "Mas vejo que os investidores internacionais ainda estão bastante seletivos. Para as companhias de maior porte, a retomada das captações é uma realidade. Mas o tamanho ainda faz diferença. Para as menores o cenário não é tão animador."

Seletividade
A crise global, que explodiu em setembro de 2008, deixou os estrangeiros mais seletivos na hora de investir. A crise mostrou que adquirir um ativo apenas por oferecer uma taxa mais atraente pode ser perigoso. Dessa forma, gigantes bem conhecidas lá fora, como Petrobras, Vale e os grandes bancos nacionais, têm encontrado as portas abertas para levantar recursos. Já uma pequena empresa que se aventure no exterior pode encontrar baixa demanda por sua oferta e taxas ainda muito elevadas.
O fato de o Brasil ter sido um dos últimos países a entrar na crise e um dos primeiros a dar sinais de tê-la superado ajudou a reposicionar o país no exterior. Na Bovespa, o saldo das operações feitas com capital externo também é bastante favorável, estando positivo em mais de R$ 20 bilhões no ano.
"Há muito dinheiro empoçado querendo vir para o Brasil. O país virou o queridinho. Em certa parte porque o país passou no teste de estresse e está sendo visto como um dos vencedores da crise", disse Paulo Cesar Souza, diretor comercial do Société Générale.
"Todo mundo esqueceu tudo de ruim que tinha no Brasil. Talvez porque o país tenha ficado um pouco melhor do que o restante do mundo", completa.


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