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Indícios de que Fed elevará juros
esfriam a euforia dos emergentes
CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK
A correnteza favorável que atingia todos os mercados emergentes mudou de rumo.
Ontem, a média do risco-país
dos 19 países emergentes que integram o índice Embi+ sofreu
uma alta de 6,2% em relação ao
dia anterior. Alinhado com essa
tendência, o risco Brasil subiu 9%
e fechou o dia aos 483 pontos. Os
indicadores são medidos pelo
banco JP Morgan.
A turbulência também atingiu a
cotação do C-Bond, principal título da dívida brasileira. Depois
de três semanas sendo negociado
acima de 100% do seu valor de face, o título ficou em 98,75%. A cotação é a base para o índice do JP
Morgan.
A euforia dos investidores estrangeiros com os mercados
emergentes foi silenciada pelo
Fed (banco central dos EUA).
Na nota em que anunciou a manutenção dos juros em 1%, o Fed
trocou a expressão "período considerável", utilizada em dezembro do ano passado, por "paciente" para indicar qual será o rumo
da sua política monetária.
Para os intérpretes do mercado,
a mudança do discurso da última
quarta-feira indica que o banco
central americano está mais inclinado a elevar os juros. Uma elevação nesse índice altera a percepção dos investidores. Diante da
perspectiva de uma remuneração
mais alta com títulos do governo
dos EUA, os investidores diminuem o apetite por economias
que apresentam um risco maior.
Para Mohamed El-Erian, da
corretora Pimco, a nova retórica
do Fed trará um impacto imediato. Num primeiro momento, o
mercado vai procurar vender rapidamente papéis da dívida dos
emergentes. "Esses títulos ficarão
sob forte pressão."
Analistas ouvidos pela Folha
afirmaram que o comportamento
observado ontem apenas antecipou o que já era consenso no mercado: a chamada "festa dos emergentes" estava assentada na baixa
taxa de juros do Fed e tinha hora
marcada para terminar. "Os níveis do risco-país [dos integrantes
do índice Embi+ do JP Morgan]
já estavam muito baixos. Não havia espaço para quedas maiores",
disse Brad Durham, da corretora
EmergingPortfolio.com.
O economista, porém, enfatiza
que países com bons fundamentos continuarão a ser atraentes.
Sobreviventes
Aproveitando o bom momento
dos emergentes, ao longo deste
mês, Venezuela e Turquia fizeram
emissões de papéis com longo
prazo de maturidade, US$ 1 bilhão e US$ 1,5 bilhão, respectivamente.
Na avaliação de El-Erian, essa
aceitação ampla do mercado é outro fator que deve mudar a partir
de agora. A ressalva é que o novo
cenário não deve produzir um
efeito de fuga em massa ou uma
retração permanente. Mas o critério dos investidores para ir às
compras vai ficar mais rigoroso.
"Nós continuamos confortáveis
com esses ativos como um todo,
mas estamos diferenciando os
países. Nesse contexto, o Brasil
continua atraente", afirmou.
El-Erian aponta o crescimento
das reservas internacionais brasileiras e a "boa condução" da política brasileira como os trunfos do
país. Já Filipinas e a Venezuela são
países que levantam a desconfiança da corretora, por terem fundamentos mais frágeis.
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