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LEÃO GULOSO
Burocracia, emaranhado legal e alta carga de impostos elevam gasto de companhias e põem país na contramão mundial
Caos tributário custa R$ 20 bi às empresas
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
As empresas brasileiras gastaram R$ 20 bilhões no ano passado
para cumprir a burocracia exigida
pelas autoridades tributárias no
pagamento de 61 impostos, taxas
e contribuições nos níveis federal,
estadual e municipal.
Vigoram hoje no país cerca de
3.000 normas tributárias, que são
atualizadas a um ritmo de 300
modificações anuais -incluindo
mais de 50 mil novos artigos e 30
mil parágrafos. Tudo isso precisa
ser decifrado quase que diariamente pelas empresas.
Para atender às exigências do
fisco, o setor privado vem provocando um boom de crescimento
no mercado de consultorias tributárias. Segundo a OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil), essa é a
área do direito que mais cresce e
gera empregos hoje no país.
O gasto das empresas com o fisco, calculado pelo IBPT (Instituto
Brasileiro de Planejamento Tributário) com base em amostras
de firmas do setor formal, representa cerca de 5% do total da arrecadação federal em 2004 e 40% do
superávit primário que o governo
fez para pagar juros de sua dívida.
No ano passado, houve um novo aumento da carga tributária federal, que passou para 24,03% do
PIB (Produto Interno Bruto),
contra os 23,94% de 2003.
Além de líder mundial em juros
reais, o Brasil também faz parte
hoje de um pequeno grupo de
países que conta com um emaranhado tributário caro e que inibe
investimentos externos.
Enquanto o Brasil tem 61 impostos, taxas e contribuições e
uma carga tributária em torno de
36% do PIB, a China, por exemplo, tem 25 impostos e uma carga
de 16,7% -e que está em queda
desde 1995. No México, o peso
dos impostos não chega a 20%.
O Brasil também está na contramão dos países desenvolvidos,
como EUA e Reino Unido, que
têm procurado estabilizar ou
mesmo diminuir a carga tributária sobre o setor produtivo.
Segundo Rui Hirschheimer,
presidente para a América Latina
da multinacional Eletrolux, são
países como China e México que
vêm drenando os investimentos
de sua matriz sueca em detrimento do Brasil, onde a carga tributária é vista como ""inadmissível".
""Em termos de complexidade,
não existe no mundo nada com a
mesma equivalência que no Brasil", afirma Hirschheimer.
Se impressa de forma contínua,
a legislação tributária brasileira
cobriria uma distância de 5,5 km.
Em termos de arrecadação, 70%
da carga tributária recai hoje sobre as empresas. As pessoas físicas respondem pelo restante.
""Multiincidentes", ""cumulativos" ou em ""efeito cascata horizontal", os tributos geram ainda
95 ""obrigações acessórias" que as
empresas têm de cumprir para estar em dia com o fisco -como a
manutenção de livros-caixas e o
preenchimento diário de guias,
formulários e declarações.
"Trabalho de detetive"
Segundo Fabio Junqueira, sócio
da Martinelli Advocacia Empresarial, firma que nasceu em Joinville há oito anos e que já se espalhou por dez cidades no país,
equivale a um ""trabalho de detetive" acompanhar o ritmo das mudanças introduzidas nas leis.
""A Receita parece agir por tentativa e erro, cabendo às empresas
se ajustar às normas", diz.
Segundo Junqueira, com as 95
""obrigações acessórias" e pesadas
multas contra infratores, a Receita, na prática, ""terceirizou" uma
série de atribuições que eram suas
no passado, nas áreas de fiscalização e controle. ""A legislação tributária, que deveria ser compilada de forma total e mensalmente,
segundo o Código Tributário, não
aparece dessa forma nem no site
da Receita", afirma Gilberto Luiz
do Amaral, presidente do IBPT.
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