São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2005

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CRISE NO AR

Importação de aviões pode provocar guerra de tarifas, mas redução de preços põe em risco caixa das companhias

Superoferta ameaça as aéreas em 2005

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O crescimento da demanda por vôos domésticos previsto para 2005 comporta a importação de pouco mais que dez aeronaves, se a intenção é manter a média, observada no ano passado, de 66% dos assentos ocupados, segundo analistas do setor aéreo. Entretanto as principais companhias estudam trazer para o país mais de 15 aviões neste ano, no total.
Se seguirem em frente com os planos e obtiverem autorização do DAC (Departamento de Aviação Civil) para importar todas essas aeronaves, o excesso de oferta de vôos poderá fazer com que essa taxa de ocupação dos aviões caia, propiciando terreno fértil para guerras tarifárias.
Isso mostra, de acordo com especialistas, que recém-saído de uma crise que jogou as principais empresas da aviação comercial no vermelho, o setor aéreo pode estar caminhando de novo para um cenário mais turbulento.
Explica-se: quando há excesso de bilhetes aéreos ofertados, a tendência é as empresas baixarem preços para atrair passageiros. Como o consumidor do setor, principalmente no Brasil, é muito sensível a preço, a possibilidade de essa situação descambar para uma briga de tarifas é muito alta.
Isso favorece o passageiro, mas corrói a geração de caixa das companhias, forçadas a oferecer preços mais e mais baixos: a guerra tarifária foi uma das causas das atuais situações financeiras de Varig e Vasp, por exemplo.
Quando a Gol, que possui uma estrutura de custos bem mais enxuta, entrou no mercado, em 2001, passou a oferecer promoções. Para acompanhá-la, outras empresas, mais antigas e com mais gastos, reduziram preços.
"Se o governo autorizar a importação de muitas aeronaves, mais de 15 para o conjunto Varig, Gol, TAM e BRA, vai haver guerra de preços. Isso vai gerar uma nova crise de liquidez, inicialmente na Varig, que tem os custos mais altos", diz André Castellini, consultor da Bain & Company.
Atualmente, a TAM planeja trazer três A320, dois em março e um em agosto. Estuda também colocar em operação um A330 e outros dois A320 em abril. A Gol planeja voar neste ano com dois novos Boeings. Em 2006, chegam mais quatro aviões.
A charter BRA, que está em tratativas finais com o DAC para se tornar uma companhia regular, tem um pedido no órgão para trazer cinco aeronaves: um Boeing 737-400 e quatro 757-200.
Outra possibilidade de alta na oferta vem da Ocean Air: o grupo, controlador de outras empresas aéreas na América Latina, comprou 29 Fokker-100 recentemente e realiza estudos para trazer cinco ou seis desses aviões para o Brasil. "Estamos consolidando a idéia de trazer essas aeronaves ao Brasil neste ano", diz Jorge Vianna, vice-presidente da aérea.
A empresa também estuda substituir seus sete EMB-120, de 30 assentos, por Fokkers de 50 lugares em 2005. "Seria um aumento de oferta da ordem de 40%", afirma o executivo. Ele diz não acreditar em guerra tarifária neste ano: "Todo mundo já aprendeu".
A previsão de alta para a demanda é, em média, de 8% entre os analistas, ante um crescimento de 12% no ano passado na comparação com 2003.
Outro fator que pode contribuir para uma possível superoferta é o fim do compartilhamento de vôos entre Varig e TAM, que desde 2003 reduz a oferta no mercado (elas compartilham cerca de 60% de seus vôos), por determinação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
"[O fim do "code-share'] acarretará, entre outras coisas, maiores custos para as duas companhias e a necessidade da Varig conseguir trazer mais aeronaves. Se não conseguir, vai perder participação", diz Castellini.
A saída de cena da Vasp, afirma, não deve impactar muito o mercado, já que a empresa fechou 2004 com um "market share" de 0,75%: sua participação já foi absorvida por outras empresas.
Outra previsão de analistas é que, se o dólar se manter nos patamares atuais e o petróleo recuar, as tarifas tendem a cair.

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