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TANGO DA DÍVIDA
Para ex-ministro da Economia argentino, gestão econômica responsável do Brasil é exemplo para seu país
Kirchner deveria seguir Lula, afirma López Murphy
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
Considerado um bastião do
conservadorismo na Argentina, o
economista Ricardo López
Murphy, 53, afirma: "Sou o argentino que mais admira Lula".
No governo anterior, de Fernando de La Rúa, Murphy era ministro da Defesa e assumiu a pasta
da Economia às vésperas do colapso de dezembro de 2001. Ficou
só 15 dias no cargo. Com o país
em convulsão, De La Rúa renunciou. A crise derivou na moratória
da dívida pública, que a Argentina
tenta agora reestruturar.
Candidato ao Senado, Murphy
deverá enfrentar a senadora Cristina Kirchner, mulher e conselheira do presidente, em campanha pela reeleição. Foi no QG de
sua campanha, a sede em Buenos
Aires do partido Recrear, fundado por ele, que Murphy recebeu a
Folha para a seguinte entrevista.
Folha - Em 2001, o sr. traçou um
plano para tirar a Argentina da crise considerado muito rigoroso e rejeitado. Kirchner conseguiu?
Ricardo López Murphy - A Argentina não saiu da crise. Não conseguimos normalizar a situação dos
contratos, da dívida, dos bancos.
Tivemos circunstâncias internacionais que permitiram recuperar
um pouco o nível de atividade,
mas não voltamos ao ano de 1998.
Folha - A proposta atual encaminha para a solução?
López Murphy - Vamos saber no
dia 25, de acordo com o grau de
aceitação da oferta. Se houver um
percentual altíssimo de adesão, o
problema estará controlado.
Folha - Qual é sua avaliação sobre
o governo Lula?
López Murphy - Conseguiu algo
que nós não conseguimos: obter
prestígio e reputação por sua seriedade, rigor e coesão. Foi capaz
de reduzir fortemente a inflação e
o risco da dívida brasileira. Não o
vejo acumular processos por todo
lado, como nós. Além disso, o
presidente Lula goza de grande
prestígio internacional.
Folha - A relação entre Brasil e
Argentina está em crise?
López Murphy - Não creio. Há
conflitos, dificuldades. Concordo
com o que [o economista brasileiro] Edmar Bacha disse a um jornal argentino ["El Cronista"]: o
enfoque da Argentina está em evitar comprar, quando ela deveria
se preocupar em vender mais.
Folha - O sr. é contra adotar salvaguardas no comércio bilateral?
López Murphy - O melhor seria
um acordo macroeconômico sério; com regras que impeçam os
subsídios ocultos [financiamentos do BNDES à indústria, que os
argentinos consideram subsídio
às exportações] e favoreçam a
maior competição possível.
Folha - Que papel o sr. pretende
desempenhar no Senado?
López Murphy -Escutarão ali alguém defender as coisas que os
brasileiros fazem: digo que se deve pagar; respeitar os contratos;
criar segurança jurídica.
Folha - Qual é a maior dificuldade
de ser oposição a Kirchner?
López Murphy - Nos governos
populistas, os benefícios se dão no
presente, e os custos, no futuro.
Há uma miopia generalizada.
Não se vêem os custos de não investir e das quebras contratuais.
Na Argentina, acham que descobriram um mecanismo incrível,
que os outros não perceberam.
Folha - Na sua opinião, qual foi o
maior erro do ministro Lavagna?
López Murphy - A demora em
enfrentar o problema da moratória [decretada em 2001]. Deveríamos tê-lo enfrentado antes, no começo, em 2002. No meio da crise,
havia grande compreensão e muita paciência com a Argentina. Minha sensação é que a paciência conosco acabou. Por isso há tantos
processos contra nós.
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