São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2005

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"EMPREGO DOS SONHOS"

Setor movimenta R$ 100 mi por ano só na esfera federal; cresce ganho de editoras, cursinhos e gráficas

Governo Lula aquece indústria de concursos

MARCELO PINHO
DO PAINEL S.A.

O governo Lula tem sido um grande aliado dos setores envolvidos em concursos públicos. De 2003 para cá, cursinhos preparatórios, editoras especializadas, gráficas e institutos que elaboram e aplicam as provas tiveram, em média, 50% de aumento anual na receita obtida com os concursos.
A explicação para esse aumento no faturamento pode ser observada pela quantidade de servidores públicos contratados desde o começo do governo Lula. Em 2002, último ano da gestão FHC, o país tinha 501.662 servidores civis na esfera federal. Até agosto de 2004, esse número passou para 539.876, um aumento de 7,62%.
Para preencher essas vagas, o volume de concursos públicos, naturalmente, precisou crescer. No Cespe (Centro de Seleção e de Promoção de Eventos) da UnB (Universidade de Brasília), maior realizador de concursos federais do país, o número de concursos realizados saltou de 41 em 2002 para 100 no ano passado, um aumento de 144%.
Segundo Romilda Macarini, diretora do Cespe, um grande concurso, como o da Polícia Rodoviária Federal, pode custar até R$ 4 milhões.
"Para realizar um concurso desses, em centenas de cidades, chegamos a mobilizar até 39 mil pessoas", conta.
De acordo com números da recém-criada Anpac (Associação Nacional de proteção e Amparo aos Concursos), o setor (editoras, gráficas, cursos etc.) movimenta cerca de R$ 100 milhões por ano, somente na esfera federal. Não há cálculos precisos que incluam os concursos realizados anualmente por Estados e municípios.

Cursos
Ainda de acordo com a Anpac, criada para disciplinar o setor e aumentar a transparência dos concursos, há cerca de cem cursos preparatórios espalhados por Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Alguns desses chegam a ter 17 mil alunos inscritos. O faturamento de um curso como esses pode chegar a R$ 15 milhões por ano.
A rentabilidade dos cursos também comprova o bom momento que vive o setor com a grande oferta de vagas no serviço público. "Nós tivemos aumento de quase 60% no faturamento no governo Lula. Esse é o melhor momento vivido pelo curso", comemora José Luis Romero, diretor de recursos humanos, da Central de Concursos de São Paulo. No ano passado, o curso, com mais de 5.000 alunos, faturou cerca de R$ 4 milhões.
O bom momento também pode ser notado na Academia do Concurso Público, no Rio. Segundo o diretor Fábio Gonçalves, anualmente, "o curso cresce cerca de 40%, no mínimo. Devemos ter hoje cerca de 150 mil a 200 mil alunos inscritos em cursos preparatórios em todo o país".
Com cerca de 17 mil alunos matriculados, a Academia do Concurso cobra R$ 1.400 por um curso completo para a área fiscal, uma das mais procuradas.

Livros
Para abastecer essa massa de alunos, o mercado editorial descobriu um filão há cerca de cinco anos. Para o presidente da editora Campus Elsevier, Cláudio Rothmuller, a grande oferta de concursos cria uma atmosfera propícia para a editora investir no segmento de livros para concursos.
"O cursinho não substitui a necessidade do candidato comprar livros. Sem dúvidas, o segmento tem um grande potencial de crescimento", disse o presidente da editora, que recentemente adquiriu duas coleções, com 45 títulos ao todo, da editora Impetus, especializada em livros para concursos públicos.
Sem falar em valores, o presidente da Campus Elsevier diz que a participação do segmento no total de vendas da editora varia de 5% a 10%.
A entrada de editoras do porte da Campus anima outros concorrentes menores. Para Ricardo Ferreira, dono da Editora Ferreira, a chegada de grandes competidores traz mais atenção ao setor. "Nós tivemos um crescimento de 50% nas vendas em 2004. Para este ano, acreditamos que esse aumento possa chegar a 70%."
Com 50 títulos lançados, Ferreira, que também é autor de livros especializados, afirma pretender dobrar essa quantidade em 2005.

Gráficas
Os ganhos com o crescimento da indústria do concurso público não fica restrito aos cursos e editoras. Gráficas também viram o movimento crescer nos últimos dois anos.
Na gráfica Imprinta, no Rio de Janeiro, que imprime livros e apostilas para quatro grandes cursos do Rio e de São Paulo, o faturamento com os concursos cresceu 40% no ano passado.
"Pelo menos nisso, o Lula está ajudando a gente", diz Francisco Lopes, dono da gráfica, que anualmente imprime cerca de 30 mil apostilas para concursos, ao custo médio de R$ 3 cada uma.

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