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ARTIGO
Sucessão de Greenspan vira problema para Bush
PAUL KRUGMAN
Alan Greenspan deve se
aposentar no ano que vem.
O governo Bush, em razão de sua
natureza, terá dificuldade para
encontrar um sucessor.
Um presidente do Fed (Federal
Reserve, banco central dos Estados Unidos) fez uma descrição
que se tornou famosa sobre o seu
cargo: "Eu levo embora a bebida
quando a festa está começando a
animar". Os mercados de títulos e
câmbio querem que a política
monetária seja conduzida por alguém capaz de dizer não aos políticos. Quando o dirigente do banco central de um país é visto como
flexível em excesso, o resultado é
um aumento nas taxas de juros e
uma moeda mais fraca.
Hoje, é ainda mais crucial do
que no passado que o presidente
do Fed tenha a confiança do mercado. Os EUA vêm registrando
déficits orçamentários e comerciais recordes, e os estrangeiros de
quem dependemos para cobrir
esses déficits estão perdendo a fé.
De acordo com o "Financial Times", os bancos centrais de todo
o mundo já começaram a migrar
para o euro como moeda de reserva. Se Greenspan for substituído
por alguém que pareça "pau-mandado" do partido que está no
poder, o capital correrá para fora
do país, o dólar despencará e as
taxas de juros dispararão.
No entanto, é costume do presidente Bush indicar para cargos
importantes apenas pessoas submissas a ele. A tendência é mais
evidente no ramo da segurança
nacional, mas se aplica com igual
intensidade à política econômica
-o atual secretário do Tesouro
não tem qualificações evidentes
além de sua lealdade política.
É claro que Greenspan mesmo
se tornou servo leal das políticas
de Bush. O presidente do Fed funcionava como severa figura paterna, exigindo retidão fiscal, quando a Casa Branca estava com os
democratas. Mas se tornou o mais
indulgente dos tios quando Bush
assumiu. Primeiro, instou o Congresso a cortar impostos a fim de
impedir um superávit orçamentário grande demais. Depois,
quando os superávits viraram
enormes déficits, ele apoiou uma
segunda, e altamente irresponsável, rodada de cortes de impostos.
Mesmo assim, Greenspan manteve considerável credibilidade
nos mercados. Quem mais poderia satisfazer tanto Bush quanto
os investidores estrangeiros?
Por algum tempo, o suposto favorito à sucessão de Greenspan
era Martin Feldstein, da Universidade Harvard. Como Greenspan,
ele era membro da cruzada pela
responsabilidade fiscal, mas terminou aderindo aos defensores
dos déficits orçamentários assim
que Bush assumiu o governo.
Mas essa flexibilidade aparentemente não é suficiente, porque a
direita jamais perdoou Feldstein
por seu momento mais brilhante
-a ocasião em que, quando
membro do governo Reagan, se
pronunciou contra os déficits.
Glenn Hubbard, da Universidade Columbia, que trabalhou para
o governo nas administrações
Bush pai e Bush filho, é outro nome mencionado com freqüência.
Trata-se de um economista inteligente, mas sua carreira governamental sugere que, no momento
em que a festa começasse a se animar, ele diria "mais bebida? Sim
senhor, como o senhor preferir".
O último nome mencionado
com freqüência é o de Ben Bernanke, membro do conselho do
Fed. Se Bernanke fosse conduzido
diretamente de seu cargo atual
para a presidência, os elogios seriam generalizados. Mas é provável que ele em breve se transfira
ao conselho de assessoria econômica da presidência. Por quê?
Meu palpite é que o projeto, no
caso de Bernanke, seja uma espécie de trote; a expectativa será a de
que ele se prove leal defendendo o
indefensável e dizendo coisas que
sabe não serem verdade. Um ano
disso poderia prejudicar sua reputação junto aos mercados.
Não simpatizo com a perplexidade do governo, mas desejo a
Bernanke toda sorte e espero que
ele saiba o que está fazendo.
Paul Krugman, economista, é colunista
do "New York Times" e professor na Universidade Princeton (EUA).
Tradução de Paulo Migliacci
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