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UMA JANELA PARA O MUNDO
A CPI e as campanhas
ÁLVARO ZINI
As fraudes com o financiamento de títulos públicos, que
estão sendo reveladas pela
CPI, são da maior gravidade,
não só pelos crimes que representam, mas por evidenciarem problemas maiores.
Uma das explicações gerais
para o desvio de recursos é
que boa parte disso serviu para financiar campanhas eleitorais. Mas, ao que tudo indica, apenas parte das fraudes
está relacionada a desvio de
dinheiro para campanha.
Os problemas trazidos à tona pela CPI são mais amplos e
só o "dinheiro para campanha" não dá conta de explicar todas as irregularidades.
O problema mais profundo é
a corrosão de valores que devem presidir o gerenciamento
da "coisa pública". Chama a
atenção a total ausência de
uma política de endividamento público. Dívida pública é
assunto sério e deve ser pautada por critérios de quanto, como e quando se endividar em
um contexto maior dos objetivos maiores da nação.
No Brasil, os últimos anos
solaparam de vez qualquer
prurido quanto a práticas
"espertas" na questão, tanto
do lado do governo (por
exemplo, pelos calotes sobre o
FGTS, as cadernetas de poupança e outras modalidades
de poupança da população
menos informada), quanto do
lado dos credores (fraudes, sonegação fiscal, ganhos ilícitos). Simplificando, formou-se
uma aliança de tolerância recíproca pela esbórnia, com
"espertos" coniventes, co-devedores e co-participantes dos
dois lados.
Mas isso acarretou perdas
enormes para os poupadores
desinformados da população,
fundos de pensão e uma enorme dívida pública que será
paga por nós, contribuintes.
Este é o lado do problema
que precisa ser mais debatido,
cuja compreensão precisa ser
aprofundada. O cidadão médio que segue o noticiário da
CPI encontra-se hoje indignado com a facilidade com que
as fraudes eram praticadas e
fica frustrado por não conseguir entender boa parte dos
termos técnicos e práticas financeiras sofisticadas, somente acessíveis para quem
conhece o mercado.
O que será preciso para superar essa situação que pode
desmoralizar todo o esforço
de recuperar o país é uma reformulação profunda da
questão "dívida pública".
Há uma dívida enorme de
curto prazo que precisa ser
reestruturada com prazos
maiores e juros menores; é
preciso acabar com a falta de
transparência dos leilões de
títulos e é preciso voltar a dar
prioridade para o lado real da
economia e relegar as práticas
das "finanças espertas" ao
lugar que lhe cabe. Mas será
que o governo saberá enfrentar esse desafio?
Álvaro Antônio Zini Jr., 44, é professor
titular da Faculdade de Economia e Administração da USP.
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