São Paulo, domingo, 30 de março de 1997.

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SISTEMA FINANCEIRO
O presidente do Itaú afirma que não teme a concorrência do HSBC, por ser também `globalizado'
Intervenção custou pouco, diz Setubal

da Reportagem Local

A intervenção do Banco Central no Bamerindus, na semana passada, foi uma ``solução boa e pouco onerosa'' para a sociedade brasileira, avalia o banqueiro Roberto Egydio Setubal.
Presidente do Banco Itaú, segundo maior grupo financeiro privado do país -atrás do Bradesco e à frente do Unibanco, do Real e do novo HSBC Bamerindus-, Setubal está prestes a assumir o papel de principal representante institucional da banca privada nacional, à frente da Federação Brasileira das Associações de Bancos, a Febraban.
Quarto dos sete filhos de Olavo Setubal, Roberto, 42, é o substituto natural de Maurício Schulman na presidência da Febraban. A decisão ainda não está tomada, mas é dada como certa por grandes banqueiros, como Paulo Guilherme Monteiro Lobato Ribeiro, presidente do Real. O mandato da atual diretoria vai até o final deste ano.
Setubal garante que não tem medo da competição do HSBC. Afinal, o Itaú também é um banco exposto à globalização, com operações na Argentina, na Europa e como sócio local do Bankers Trust num banco de investimentos, o IBT. Na sexta-feira, Setubal falou à Folha. (MILTON GAMEZ)

Folha - O que o sr. achou do desfecho do caso Bamerindus, ao custo de R$ 5,7 bilhões?
Roberto Setubal -
Foi uma boa solução, pouco onerosa para o Brasil e para a sociedade como um todo. Os correntistas estão seguros e o HSBC é um banco dos mais relevantes do mundo, senão o mais importante, e vai aprofundar as mudanças no mercado bancário brasileiro. Segue a linha de abertura do mercado adotada pelo governo. No final, os clientes sairão ganhando. Será bom para todos.
Folha - O custo da quebra do Bamerindus para os contribuintes será menor que o das anteriores, como Nacional e Econômico?
Setubal -
São casos muito diferentes. Pelas informações disponíveis, o empréstimo do Proer (programa federal de fortalecimento do sistema financeiro) usado na intervenção no Bamerindus foi basicamente para financiar a compra da carteira imobiliária do banco pela Caixa Econômica Federal. Com o tempo, a maior parte desse dinheiro voltará. E todos os bancos contribuíram com R$ 2,5 bilhões para pagar os depositantes do Bamerindus, com recursos do Fundo Garantidor de Créditos.
Folha - O fundo arcará com os R$ 2,5 bilhões, adiantados pelo BC, ou o dinheiro voltará?
Setubal -
Houve um sinistro e os depositantes do banco serão cobertos pelo fundo. Somente após a liquidação do Bamerindus saberemos o custo final disso tudo. Sabemos que há ativos no banco velho que têm valor, como a Inpacel.
Folha - A crise bancária acabou?
Setubal -
Temos que resolver os problemas dos bancos estaduais. No sistema privado, não tem problema grande, só casos pontuais, sem impacto no mercado.
Folha - Com a intervenção, o presidente da Febraban, Maurício Schulman, vai lhe passar o bastão?
Setubal -
Precisamos sentar para conversar. Não falei com ninguém ainda, voltei da Argentina ontem (anteontem) e vim direto para cá (sítio em Itú). Não conheço os detalhes do estatuto e vamos ver o que melhor interessa ao sistema.
Folha - A Febraban saiu chamuscada do episódio?
Setubal -
De maneira nenhuma. O Schulman conduziu a entidade com uma dignidade fantástica, com muita força de vontade, e sempre separou as duas situações com profissionalismo. Não tenho nenhum reparo, somente elogios ao Schulmam, a quem admiro como pessoa, como profissional e como presidente da Febraban.
Folha - O Bamerindus quebrou e a CPI dos Precatórios está pressionando o Bradesco. O Itaú está crescendo e ficou de fora da investigação sobre os títulos públicos pelo Senado. Diante disso, o sr. se considera o novo homem forte, líder do setor?
Setubal -
Para começar, não acho que o ``seu'' Brandão (Lázaro Brandão, presidente do Bradesco) deixou de ser a figura única que é no sistema. Não é um episódio pontual que vai alterar a liderança de Brandão e do Bradesco. Meu papel, como presidente do Itaú, é fazer tudo da melhor forma e com responsabilidade. O sistema tem que ser liderado por todos, não me sinto em condições de falar sozinho em nome dos bancos, não tenho essa representatividade nem essa pretensão. Temos outros representantes importantes, como o Brandão, o Roberto Bornhausen (Unibanco), o Pedro Moreira Salles (Unibanco), o Paulo Guilherme (Real) e outros.


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