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Ex-socialista comanda império no PR
Grupo Positivo, de Oriovisto Guimarães, fatura R$ 2,6 bi por ano com liderança em ensino, gráfica e computadores
Ex-membro da Política Operária, preso em 1968 no congresso de Ibiúna, empresário de 62 anos hoje comanda 1,5% do PIB do PR
CRISTIANE BARBIERI
ENVIADA ESPECIAL A CURITIBA
A civilização grega condenou
o primeiro projeto do Teatro
Positivo, inaugurado ontem
(sábado), em Curitiba, à lata do
lixo. Desenhos aprovados foram abandonados, após uma
visita de Oriovisto Guimarães,
um dos fundadores do grupo
Positivo, ao teatro de Epidauro,
na Grécia.
"Como professor de geometria, fiquei maravilhado com os
círculos concêntricos que permitiam a mais perfeita acústica
e visão a 12 mil pessoas, em 350
antes de Cristo", diz Guimarães, 62. "Deixei de lado o projeto original e mandei fazer outro, do zero."
Admirador de Sócrates (que,
por sinal, o levou a Epidauro),
Guimarães pontua conversas
com filosofia, mesmo quando
fala dos negócios que levaram
sua empresa a quintuplicar de
tamanho, em cinco anos.
No ano passado, o grupo Positivo faturou R$ 2,6 bilhões.
Em 2003, foram R$ 550 milhões. Sob sua estrutura, estão
nada menos do que a maior fabricante de computadores, a
maior gráfica e o maior grupo
educacional do país.
Agora, ao lado do teatro, foi
aberto um centro de convenções, e um hotel deverá ser
inaugurado em 2009. Todos localizados no campus da Universidade Positivo, que recebeu
o status do MEC (Ministério da
Educação) em janeiro. Todos
serão fontes de hóspedes/visitantes da feira/espectadores de
teatro, que devem ampliar ainda mais a receita do grupo.
"Só teremos feiras e congressos voltados à educação, que é
foco do nosso negócio", diz
Guimarães. "Também só receberemos música de qualidade,
já que para o grotesco há muito
espaço aberto por aí."
De ex-membro da Polop (Política Operária), preso no famoso congresso de Ibiúna (SP), em
1968, a sócio de uma empresa
que sozinha gera o equivalente
a 1,5% do PIB do Paraná, Guimarães passa os domingos lendo gregos e outros pensadores.
Mas não gosta que o liguem a
um de seus mitos: o de Midas.
"As empresas deram certo,
mas já fiz muita besteira nessa
área", diz Guimarães. "Fui sócio de duas rádios e um canal de
televisão que deram errado.
Também atrasamos alguns pagamentos no passado, quando
começávamos a nos formalizar,
não sejamos hipócritas."
Isso porque, como a maior
parte das empresas brasileiras,
o grupo Positivo nasceu do empreendedorismo de sócios que
tinham apenas a força de trabalho, mas careciam de formação
e capital. Corria o ano de 1972 e
o cursinho pré-vestibular Positivo surgiu da iniciativa de oito
professores. Hoje restam cinco
deles na sociedade, cada um
com 20% de participação.
"É uma história bonita, de
empreendedorismo brasileiro", afirma o bibliófilo José
Mindlin, que iria ao show do tenor José Carreras na inauguração do teatro Positivo, com
suas filhas. "O cursinho levou-os a ter escolas, que precisava
de uma gráfica e ao mesmo
tempo deu origem à área de
computadores."
Alguns concorrentes da área
editorial afirmam que os negócios do grupo nesse segmento
foram alavancados graças à
venda de livros para escolas públicas. Dizem também que o
Positivo tentou repetir a fórmula com o laptop de US$ 100,
na licitação do MEC (Ministério da Educação).
Porém, a licitação foi cancelada porque a Positivo Informática, que apresentou a menor cotação, cobrou R$ 98 milhões por 150 mil computadores educacionais, cerca de US$
360 para cada um deles.
"Tanto na área de livros
quanto na de informática temos muito mais clientes na iniciativa privada", diz Guimarães. "Não dependemos da área
pública, mas participamos de
concorrências."
Mesmo tendo prosperado
com negócios feitos na esfera
privada, Guimarães afirma que
sua relação com o poder público é "tranqüila".
Às vezes, no entanto, é obrigado a cumprir a liturgia do
cargo. Na última segunda-feira,
por exemplo, interrompeu o almoço para levar o convite da
inauguração do teatro ao governador Roberto Requião, em
mãos. Ao chegar ao Palácio das
Araucárias, conforme combinado com o assessor, o governador já havia saído para almoçar com partidários do PMDB.
Guimarães deixou a entrega
para o dia seguinte e disfarçou
bem qualquer irritação com as
idas e vindas pelas ruas de Curitiba, pelas quais dirige seu
BMW. O pé pesado no acelerador, aliás, combina mais com o
agressividade do homem de negócios descrito pelos amigos do
que a imagem de acadêmico.
"O professor Oriovisto é objetivo e intuitivo", afirma Hélio
Rotenberg, presidente da Positivo Informática. "Primeiro ele
se apaixona pelas idéias e só então embasa em números os novos projetos."
Rotenberg conta que foi o
que aconteceu quando ele propôs a Guimarães que o grupo
começasse a fazer computadores para atender as escolas conveniadas, no fim de 1988. E o
mesmo quando Rotenberg se
ofereceu para dirigir a área de
informática, pouco antes.
"Ninguém tem sucesso em
três áreas diferentes por acaso", diz Rodrigo Rocha Loures,
presidente da Fiep (Federação
das Indústrias do Estado do Paraná) e sócio da Nutrimental.
O grupo Positivo emprega
atualmente 6.000 pessoas, sendo que 300 são pesquisadores
dos produtos educacionais que
hoje chegam a 900 mil alunos
em todo o país. Em diversos
prédios espalhados pela cidade
-um antigo seminário abriga a
área de tecnologia-, são produzidos equipamentos exportados para diversos países. Só
para o Brasil, são impressos 2
milhões de livros ao ano.
O campus da Universidade
Positivo lembra um pouco o da
USP, só que menor e muito
mais bem cuidada. Estão lá os
gramados, os blocos de prédios
coloridos, a biblioteca com 120
mil títulos que abriga, inclusive, de livros do economista Roberto Campos a cisnes brancos
no lago, rodeado de araucárias.
A sucessão, apontada pelos
concorrentes como um dos
problemas do grupo, não incomoda Guimarães. "Há duas ou
três pessoas que poderiam me
suceder", diz Guimarães. "Tudo depende do conselho."
Ele afirma, no entanto, que
não tem planos de se afastar do
grupo tão cedo. "Trabalho é a
única coisa que não enjoa", diz
Guimarães, que deu aulas desde os 14 anos de idade para se
sustentar em Curitiba, quando
"tinha só um par de tênis".
Amigo de Prestes, seu pai foi
perseguido pelo governo Vargas e refugiou-se num sítio no
interior do Paraná. Foi das noites sem TV e de ouvir a conversa dos adultos que nasceu o interesse pela esquerda.
"Como os negócios deram
certo, poderia ter diminuído o
ritmo há uns 15 anos, mas acho
que, se a gente parar, a felicidade acaba", afirma.
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