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TELECOMUNICAÇÕES
Contrato com empresa do mesmo grupo para editar listas pode ferir lei que protege minoritários
Processo revela manobra da Telefônica
ELVIRA LOBATO
da Sucursal do Rio
A Telefônica, pela segunda vez,
é suspeita de descumprir a regra
de proteção aos acionistas minoritários criada pelo governo durante o processo de privatização
da Telebrás.
O contrato de concessão e o estatuto da Telesp (telefonia fixa)
obrigam a companhia a convocar
assembléia geral de acionistas para aprovar contratos entre a ex-estatal e empresas ligadas ao atual
controlador, o grupo Telefónica
de España.
No ano passado, a Telesp assinou dois contratos com empresas
da holding espanhola Telefónica,
sem que os minoritários no Brasil
tivessem conhecimento.
Ao exigir a aprovação dos contratos em assembléia, o governo
quis impedir transferências indiretas de receita para os controladores em detrimento dos minoritários, que representavam 80% do
capital da Telebrás no momento
da privatização.
Investigação
O primeiro caso está sendo investigado pela CVM (Comissão
de Valores Mobiliários) e pela
Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).
Refere-se à terceirização do
atendimento telefônico ao assinante (como o serviço 102, de auxílio à lista) para a empresa Atento, do grupo Telefónica.
As diretorias da CVM e da Anatel confirmaram que as investigações estão em andamento, em caráter sigiloso.
O segundo caso veio à tona mais
recentemente, por causa de uma
ação judicial na 37ª Vara Cível de
São Paulo, movida pela empresa
Epil (Editora Pesquisa e Indústria
Ltda.), que se sentiu prejudicada
na competição pelo mercado de
listas telefônicas no interior do
Estado de São Paulo.
No dia 24 de março do ano passado, a Telesp contratou a empresa espanhola TPI (Telefónica Publicidad e Información) para editar e distribuir suas listas oficiais
no interior do Estado.
A empresa é subsidiária da holding Telefónica de España e tem
sede em Madri. A Telesp, por sua
vez, é controlada por outra subsidiária da Telefónica, a Tisa (Telefónica Internacional).
No contrato, válido por dez
anos, a Telesp compromete-se a
entregar gratuitamente seu cadastro à TPI, pagar a impressão e
distribuição das listas e a "depuração" de erros existentes no cadastro.
Por conta do contrato, a empresa espanhola recebeu R$ 4,5 milhões da Telesp no ano passado,
fora a remuneração pela "depuração" do cadastro, que não foi fixada previamente.
Registro tardio
A TPI não tinha instalações no
país ao ser contratada. Só um mês
depois de firmado o compromisso é que registrou, na Junta Comercial de São Paulo, sua subsidiária Telefônica Publicidade e
Informação, que herdou o contrato da Telesp.
São acionistas da subsidiária
brasileira a Telefónica Publicidad
y Información, com 51% do capital, e a Tisa (Telefónica Internacional), com 49%, que, por sua
vez, controla a Telesp.
Naquele mesmo 24 de março
em que foi contratada pela Telesp,
a empresa espanhola subcontratou a Listel (Listas Telefônicas),
então pertencente à Editora Abril,
para imprimir, vender anúncios e
distribuir as listas. Em troca, a Listel repassaria à TPI entre 20% e
25% do faturamento com anúncios que seriam incluídos nas listas.
Os contratos da Telesp com a
TPI espanhola e desta com a Listel
estão anexados na ação movida
pela Epil. A TPI foi mais exigente
ao contratar a Listel do que a Telesp ao contratar a empresa ligada
a seu controlador.
A Telesp não exigiu garantias da
TPI. Já os espanhóis cobraram da
Listel o depósito de uma fiança
bancária no valor de R$ 7,8 milhões.
Listas
A indústria de edição de listas
telefônicas no Brasil está de pernas para o ar desde a privatização
da Telebrás, em julho de 98.
No período estatal, as teles tinham contratos de exclusividade
com as editoras, que, em troca,
entregavam a elas 25% do faturamento publicitário.
A edição de listas era um bom
negócio para as estatais e para as
editoras, que, graças aos contratos de exclusividade, dividiam o
mercado, formando um cartel.
Duas empresas tinham domínio quase absoluto do setor: a Listel (ex-grupo Abril) e a Oesp Mídia, do grupo de comunicação "O
Estado de S. Paulo".
Com a privatização da Telebrás,
o esquema caiu por terra. A Lei
Geral de Telecomunicações, que
autorizou a venda das teles, proibiu as operadoras de explorar comercialmente as listas e as obrigou a vender seus cadastros -"a
preços razoáveis e de forma não
discriminatória"- a todos os interessados em publicá-las.
A abertura do mercado atraiu a
norte-americana BellSouth, que
disputa com a Telefónica de España a posição de maior investidor
estrangeiro em telecomunicações
na América Latina. No início do
ano passado ela comprou 40% da
Oesp Mídia.
Três meses depois de ser subcontratada pela TPI para editar as
listas obrigatórias da Telesp, a Listel foi também comprada pela
BellSouth, que ficou com 100% da
empresa líder do mercado.
Segundo especialistas do setor,
a TPI não contava com a venda da
Listel aos norte-americanos, pois,
estrategicamente, não interessaria aos espanhóis que a BellSouth
tivesse acesso irrestrito aos cadastros da Telesp.
A BellSouth é sócia de duas empresas de telefonia celular no país:
a BCP da Grande São Paulo e a do
Nordeste.
Assim como a Telefônica, a BellSouth se prepara para expandir
sua atuação no Brasil a partir de
2003, quando será liberada a
competição na telefonia. Ou seja,
as duas são potenciais concorrentes.
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