São Paulo, domingo, 30 de abril de 2000


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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS

"B2B" ainda frustra expectativa de investidor

GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas

Os abalos sucessivos na confiança dos investidores nos poderes da nova economia estão dando lugar a análises totalmente padrão de conhecidos mecanismos da velha economia.
Por exemplo: na semana passada, os sinais de crescimento excessivo na economia norte-americana fortaleceram as expectativas de alta mais forte dos juros dos Estados Unidos.
Talvez seja uma coincidência. Mas é nesse ambiente que parecem ganhar mais visibilidade alguns relatórios mostrando que de fato há muito vapor, muita ilusão na nova economia.
O caso mais recente é o do chamado "B2B" (sigla em inglês que se pronuncia "bitobi", abreviação de "business-to-business"). Em oposição ao mercado de novas tecnologias (sobretudo via Internet) para consumidores ("B2C"), as atividades B2B ocorrem entre empresas e deram margem, nos últimos anos, a projeções cada vez mais espetaculares de faturamento e potencial de mercado.
Em pouco menos de um mês, essas visões estão sendo revistas.
Na visão "tradicional" (se é que se pode usar um termo desses na nova economia), há um círculo virtuoso: aumenta a competição entre compradores e vendedores (de peças, equipamentos, insumos industriais, matérias-primas etc.). A competição gera preços mais baixos com mais qualidade nos produtos, ciclos de transação mais curtos e uma distribuição mais eficiente da informação nos mercados.
Segundo a Forrester Research, o mercado B2B vai passar de US$ 43 bilhões em 1998 para US$ 1,3 trilhão em 2003.

Pedras
Mas até mesmo nessa trajetória radiante começam a surgir pedras. Na semana passada foi publicado um relatório da empresa AMR Research no qual se observa que a maioria das operações em B2B nem sequer conseguiu processar a sua primeira transação (um resumo do relatório pode ser lido em www.amrresearch.com). E boa parte dessas firmas faz dinheiro com anúncios, não com o processamento de transações entre empresas.
Para um dos analistas que prepararam o relatório, simplesmente há gente demais interessada em participar dos mercados de B2B. O resultado será uma onda de darwinismo. Resta saber quem vai fazer o papel de dinossauro e quem vai resistir como besouro.
Em alguns casos de sucesso, a base de clientes ainda é muito estreita. Ou seja, é um sucesso muito relativo, superficial.
Em outros casos, em vez de se consolidar como intermediários no novo espaço virtual, as empresas de B2B sobrevivem apenas se estabelecem alianças ou se abrem a investimentos feitos pelas empresas a que pretendem servir. É uma espécie de terceirização às avessas, que, na prática, pode comprometer a lucratividade do corretor virtual. Afinal, ele fica sob controle do próprio cliente.
Finalmente, o relatório identifica uma espécie de inércia da velha economia que paira sobre as promessas dos corretores B2B. Na medida em que os fornecedores continuam às voltas com a gestão de estoques, a administração da logística e o serviço pós-venda aos consumidores, eles reagem à pretensão dos corretores (que é ganhar na intermediação, jogando ainda mais custos sobre os fornecedores).
Nos últimos 18 meses, a AMR Research acompanhou o desempenho de 600 empresas desse tipo. Seu relatório prevê que, em um ano, haverá uma alta mortandade no setor, resultado de falências, fusões e aquisições.
Num futuro bem próximo, portanto, o investidor que apostou nessas empresas terá ainda mais emoções. Haja darwinismo.


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