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DE VOLTA AO MERCADO
Demanda por papéis da dívida supera expectativas
País consegue vender títulos que têm "cláusula de calote"
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A primeira operação de empréstimo do Brasil no mercado financeiro internacional neste ano
-também a primeira na gestão
do presidente Lula- superou as
expectativas do governo e significou mais uma demonstração de
euforia dos investidores estrangeiros com a economia do país.
A demanda pelos títulos de dívida da República emitidos ontem
foi seis vezes maior do que o valor
inicial que o governo pretendia. O
Banco Central queria captar de
US$ 750 milhões a US$ 1 bilhão.
Segundo a Folha apurou, os
dois bancos de investimento contratados para coordenar a operação, Merrill Lynch e UBS, receberam ordens de compra dos papéis
de aproximadamente US$ 6 bilhões. O BC no entanto preferiu
vender somente US$ 1 bilhão.
"Essa captação é muito favorável para o Brasil. Demonstra a
confiança dos investidores no
país", disse à Folha Mohamed El-Erien, gestor de fundos da Pimco
(Pacific Investment Management), que administra cerca de
US$ 320 bilhões.
Mohamed não confirmou, mas
circulou no mercado o boato ontem de que somente a Pimco (tradicional compradora de títulos
brasileiros) deu ordem para comprar US$ 500 milhões dos novos
papéis. "Só posso dizer que sou
grande aplicador em Brasil."
Outro fato que comprovou o
sucesso da operação foi a disposição de alguns investidores de pagar ágio pelos papéis no mercado
secundário (em que os títulos são
negociados após a compra inicial)
antes mesmo da conclusão da
transação. Investidores ofereceram aos compradores iniciais até
0,5 ponto percentual a mais sobre
o valor do papel.
A taxa de rendimento final para
o detentor do título foi de 10,70%
ao ano, abaixo do piso de juros
que o BC pretendia pagar. A faixa
inicial era de 10,75% a 11%. Como
a procura foi alta, os investidores
aceitaram receber remuneração
menor do que o piso.
Os juros da operação foram menores do que o da última captação, realizada exatamente há um
ano, antes da crise de confiança
nos mercados atribuída à sucessão presidencial. Na última emissão, os papéis da República renderam ao investidor 12,38%.
No entanto o prazo daquela
operação era de oito anos, duas
vezes maior do que o da atual, de
três anos e sete meses.
O Brasil estreou também a adoção das CACs (cláusulas de ação
coletiva) nos títulos. Por esse mecanismo, o governo pode renegociar os títulos com anuência de
85% dos credores, mesmo que os
outros 15% não concordem.
Esse instrumento é lei no mercado londrino, mas não era aceito
pelos investidores de Wall Street,
que temiam maior facilidade para
os países darem calote em suas dívidas. As economias emergentes
também eram avessas às CACs
por achar que os investidores cobrariam juros maiores para comprar seus títulos.
O Brasil foi o segundo país a empregar as cláusulas no mercado de
Nova York, usadas pela primeira
vez pelo México.
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