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São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 2003

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DE VOLTA AO MERCADO

Demanda por papéis da dívida supera expectativas

País consegue vender títulos que têm "cláusula de calote"

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A primeira operação de empréstimo do Brasil no mercado financeiro internacional neste ano -também a primeira na gestão do presidente Lula- superou as expectativas do governo e significou mais uma demonstração de euforia dos investidores estrangeiros com a economia do país.
A demanda pelos títulos de dívida da República emitidos ontem foi seis vezes maior do que o valor inicial que o governo pretendia. O Banco Central queria captar de US$ 750 milhões a US$ 1 bilhão.
Segundo a Folha apurou, os dois bancos de investimento contratados para coordenar a operação, Merrill Lynch e UBS, receberam ordens de compra dos papéis de aproximadamente US$ 6 bilhões. O BC no entanto preferiu vender somente US$ 1 bilhão.
"Essa captação é muito favorável para o Brasil. Demonstra a confiança dos investidores no país", disse à Folha Mohamed El-Erien, gestor de fundos da Pimco (Pacific Investment Management), que administra cerca de US$ 320 bilhões.
Mohamed não confirmou, mas circulou no mercado o boato ontem de que somente a Pimco (tradicional compradora de títulos brasileiros) deu ordem para comprar US$ 500 milhões dos novos papéis. "Só posso dizer que sou grande aplicador em Brasil."
Outro fato que comprovou o sucesso da operação foi a disposição de alguns investidores de pagar ágio pelos papéis no mercado secundário (em que os títulos são negociados após a compra inicial) antes mesmo da conclusão da transação. Investidores ofereceram aos compradores iniciais até 0,5 ponto percentual a mais sobre o valor do papel.
A taxa de rendimento final para o detentor do título foi de 10,70% ao ano, abaixo do piso de juros que o BC pretendia pagar. A faixa inicial era de 10,75% a 11%. Como a procura foi alta, os investidores aceitaram receber remuneração menor do que o piso.
Os juros da operação foram menores do que o da última captação, realizada exatamente há um ano, antes da crise de confiança nos mercados atribuída à sucessão presidencial. Na última emissão, os papéis da República renderam ao investidor 12,38%.
No entanto o prazo daquela operação era de oito anos, duas vezes maior do que o da atual, de três anos e sete meses.
O Brasil estreou também a adoção das CACs (cláusulas de ação coletiva) nos títulos. Por esse mecanismo, o governo pode renegociar os títulos com anuência de 85% dos credores, mesmo que os outros 15% não concordem.
Esse instrumento é lei no mercado londrino, mas não era aceito pelos investidores de Wall Street, que temiam maior facilidade para os países darem calote em suas dívidas. As economias emergentes também eram avessas às CACs por achar que os investidores cobrariam juros maiores para comprar seus títulos.
O Brasil foi o segundo país a empregar as cláusulas no mercado de Nova York, usadas pela primeira vez pelo México.


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