São Paulo, sexta-feira, 30 de abril de 2004

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Encontro testa relação EUA/Brasil

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

Uma microrreunião ministerial, na forma de jantar, hoje, em Londres, servirá de teste para "tomar a temperatura" das relações comerciais Brasil/Estados Unidos, quatro dias depois que a OMC (Organização Mundial do Comércio) deu ganho de causa ao Brasil em sua queixa contra os subsídios que os EUA concedem a seus produtores de algodão.
A expressão "tomar a temperatura" foi ouvida no QG de Bruxelas da União Européia, momentaneamente fora dos holofotes porque a disputa sobre o algodão não a envolveu. Mas os europeus "nada têm a comemorar", como diz Robert Falkner, do Departamento de Relações Internacionais da London School of Economics, porque, como os EUA, concedem altos subsídios a seus produtores.
Agricultura e subsídios dominarão o jantar, que reunirá Celso Amorim, chanceler brasileiro; Pascal Lamy, comissário do Comércio da UE; Robert Zoellick, responsável pelo comércio exterior americano e autor do convite; Alec Erwin, ministro sul-africano do Comércio; Mukhisa Kituyi, ministro do Comércio de Quênia; e, talvez, um representante da Índia. Os indianos sugeriram que o Brasil representasse seus interesses, até porque os dois países são os líderes do G20, grupo de nações em desenvolvimento que exige abertura dos ricos e se tornou ator central nas negociações.
Se a reunião servir mesmo para "tomar a temperatura" de Brasil e EUA, tende a não terminar bem.
Seus representantes chegam a Londres com ânimo absolutamente oposto em relação ao caso do algodão. Para Amorim, a decisão da OMC deveria estimular os países que subsidiam seus produtores a negociar o fim desse apoio, pois, cedo ou tarde, ele será declarado ilegal pela organização que regula o comércio internacional.
Zoellick, em seu depoimento de anteontem ao Congresso, foi na direção oposta. Disse que, "se outros países resolverem iniciar litígios, em vez de negociar, vai ser complicado e não produtivo".
Também Allen Johnson, o negociador-chefe dos EUA para agricultura, discorda da expectativa de Amorim. "Esse tipo de caso não vai criar energia e momento" para as negociações.
Se a temperatura é essa, de que servirá a reunião em Londres?
"Uma conversa entre menos gente permite que se converse com mais profundidade", torce Amorim. O objetivo do jantar é tentar desbloquear a chamada Rodada Doha, o ciclo de liberalização comercial lançado em 2001, mas que nestes dois anos e meio praticamente não saiu do lugar.


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