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Encontro testa relação EUA/Brasil
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
Uma microrreunião ministerial,
na forma de jantar, hoje, em Londres, servirá de teste para "tomar
a temperatura" das relações comerciais Brasil/Estados Unidos,
quatro dias depois que a OMC
(Organização Mundial do Comércio) deu ganho de causa ao
Brasil em sua queixa contra os
subsídios que os EUA concedem a
seus produtores de algodão.
A expressão "tomar a temperatura" foi ouvida no QG de Bruxelas da União Européia, momentaneamente fora dos holofotes porque a disputa sobre o algodão não
a envolveu. Mas os europeus "nada têm a comemorar", como diz
Robert Falkner, do Departamento de Relações Internacionais da
London School of Economics,
porque, como os EUA, concedem
altos subsídios a seus produtores.
Agricultura e subsídios dominarão o jantar, que reunirá Celso
Amorim, chanceler brasileiro;
Pascal Lamy, comissário do Comércio da UE; Robert Zoellick,
responsável pelo comércio exterior americano e autor do convite;
Alec Erwin, ministro sul-africano
do Comércio; Mukhisa Kituyi,
ministro do Comércio de Quênia;
e, talvez, um representante da Índia. Os indianos sugeriram que o
Brasil representasse seus interesses, até porque os dois países são
os líderes do G20, grupo de nações em desenvolvimento que
exige abertura dos ricos e se tornou ator central nas negociações.
Se a reunião servir mesmo para
"tomar a temperatura" de Brasil e
EUA, tende a não terminar bem.
Seus representantes chegam a
Londres com ânimo absolutamente oposto em relação ao caso
do algodão. Para Amorim, a decisão da OMC deveria estimular os
países que subsidiam seus produtores a negociar o fim desse apoio,
pois, cedo ou tarde, ele será declarado ilegal pela organização que
regula o comércio internacional.
Zoellick, em seu depoimento de
anteontem ao Congresso, foi na
direção oposta. Disse que, "se outros países resolverem iniciar litígios, em vez de negociar, vai ser
complicado e não produtivo".
Também Allen Johnson, o negociador-chefe dos EUA para
agricultura, discorda da expectativa de Amorim. "Esse tipo de caso não vai criar energia e momento" para as negociações.
Se a temperatura é essa, de que
servirá a reunião em Londres?
"Uma conversa entre menos
gente permite que se converse
com mais profundidade", torce
Amorim. O objetivo do jantar é
tentar desbloquear a chamada
Rodada Doha, o ciclo de liberalização comercial lançado em 2001,
mas que nestes dois anos e meio
praticamente não saiu do lugar.
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