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SEM INTEGRAÇÃO
Para executivos brasileiros, crise argentina torna manutenção do bloco inviável, e Brasil deveria rever apoio
Empresários apontam fim do Mercosul
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
A situação da Argentina é tão
crítica que o Brasil deveria rever o
apoio ao Mercosul. A opinião foi
manifestada ontem por grandes
empresários durante almoço promovido pelo Ceal (Conselho de
Empresários da América Latina),
em São Paulo, com a presença do
embaixador Clodoaldo Hugueney, negociador-chefe do Brasil
para assuntos comerciais, Roberto Giannetti da Fonseca, secretário-executivo demissionário da
Camex (Câmara de Comércio Exterior), e Marcos Azambuja, embaixador do Brasil na França.
Entre os empresários, estavam
presentes Olavo Setubal (Itaú),
Fernando Xavier (Telefônica),
Carlos Mariani (Petroquímica Bahia), Roberto Teixeira da Costa
(Sul América), Paulo Villares
(Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), Roberto Caiuby
Vidigal, Germano Gerdau (grupo
Gerdau), Josué Gomes da Silva
(Coteminas) e os consultores Gilberto Dupas e Geraldo Forbes.
Segundo a Folha apurou com
alguns dos participantes do almoço, as críticas mais duras ao Mercosul partiram de Olavo Setubal.
O empresário disse, ainda de
acordo com os participantes, que
o processo de ruptura tanto política como econômica na Argentina é tão grave que torna inviável a
manutenção do Mercosul.
De acordo com os presentes ao
almoço, Setubal disse, ao concluir
sua exposição, que o Mercosul,
diante desse quadro, tinha acabado. Procurado pela Folha, Olavo
Setubal disse que não iria se manifestar sobre o assunto.
Giannetti da Fonseca disse à Folha que tanto ele como o embaixador Clodoaldo Hugueney não
concordaram, no almoço, com o
diagnóstico de Setubal de que o
Mercosul teria chegado ao fim.
"Não sabemos qual será a decisão
do próximo governo, mas a orientação do governo Fernando Henrique Cardoso é pela manutenção
do Mercosul", disse Fonseca.
Entre os postulantes à Presidência, um dos mais críticos ao Mercosul é justamente o senador José
Serra, pré-candidato do PSDB.
Em seus pronunciamentos recentes, Serra tem defendido uma revisão completa do Mercosul. Serra já disse que a assinatura do
acordo foi "irresponsável", já que
previa a integração em quatro
anos. Na Europa, a integração levou 40 anos.
Imediatismo
Para Giannetti da Fonseca, o
Brasil não pode ter uma visão
imediatista do problema da Argentina. Ele reconhece que o ceticismo dos empresários em relação ao vizinho se justifica, já que
muitos estão sujeitos a perder dinheiro na Argentina.
Fonseca cita o caso do próprio
Itaú, hoje talvez o maior banco estrangeiro na Argentina, com 78
agências. "O Itaú deve ser hoje o
maior banco estrangeiro na Argentina, já que os bancos europeus e americanos estão batendo
em retirada", afirmou Fonseca.
No almoço, outros empresários
também se mostraram bastante
céticos com relação ao Mercosul.
Giannetti da Fonseca acha que há
outras formas de enxergar essa
crise na Argentina. "Enquanto a
Sadia resolveu fechar suas fábricas, a AmBev está entrando como
sócia da Quilmes."
Já o embaixador Clodoaldo Hugueney, de acordo com o que a
Folha apurou, chamou a atenção
para o fato de que o desmantelamento do Mercosul traria um
custo enorme para o Brasil. Ele reconheceu, porém, que o Brasil
tem tido muitas dificuldades de
diálogo com a Argentina, até porque há um rodízio permanente de
negociadores, em razão de tantas
mudanças no governo.
Tanto Hugueney como Giannetti da Fonseca argumentaram
também, em defesa do Mercosul,
que o Uruguai, por exemplo, está
sofrendo mais do que o Brasil e
nem por isso ameaçou sair do
bloco. O Uruguai, segundo Giannetti da Fonseca, perdeu tanto na
desvalorização cambial do Brasil
como na da Argentina.
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