São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 2002

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SEM INTEGRAÇÃO

Para executivos brasileiros, crise argentina torna manutenção do bloco inviável, e Brasil deveria rever apoio

Empresários apontam fim do Mercosul

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

A situação da Argentina é tão crítica que o Brasil deveria rever o apoio ao Mercosul. A opinião foi manifestada ontem por grandes empresários durante almoço promovido pelo Ceal (Conselho de Empresários da América Latina), em São Paulo, com a presença do embaixador Clodoaldo Hugueney, negociador-chefe do Brasil para assuntos comerciais, Roberto Giannetti da Fonseca, secretário-executivo demissionário da Camex (Câmara de Comércio Exterior), e Marcos Azambuja, embaixador do Brasil na França.
Entre os empresários, estavam presentes Olavo Setubal (Itaú), Fernando Xavier (Telefônica), Carlos Mariani (Petroquímica Bahia), Roberto Teixeira da Costa (Sul América), Paulo Villares (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), Roberto Caiuby Vidigal, Germano Gerdau (grupo Gerdau), Josué Gomes da Silva (Coteminas) e os consultores Gilberto Dupas e Geraldo Forbes.
Segundo a Folha apurou com alguns dos participantes do almoço, as críticas mais duras ao Mercosul partiram de Olavo Setubal. O empresário disse, ainda de acordo com os participantes, que o processo de ruptura tanto política como econômica na Argentina é tão grave que torna inviável a manutenção do Mercosul.
De acordo com os presentes ao almoço, Setubal disse, ao concluir sua exposição, que o Mercosul, diante desse quadro, tinha acabado. Procurado pela Folha, Olavo Setubal disse que não iria se manifestar sobre o assunto.
Giannetti da Fonseca disse à Folha que tanto ele como o embaixador Clodoaldo Hugueney não concordaram, no almoço, com o diagnóstico de Setubal de que o Mercosul teria chegado ao fim. "Não sabemos qual será a decisão do próximo governo, mas a orientação do governo Fernando Henrique Cardoso é pela manutenção do Mercosul", disse Fonseca.
Entre os postulantes à Presidência, um dos mais críticos ao Mercosul é justamente o senador José Serra, pré-candidato do PSDB. Em seus pronunciamentos recentes, Serra tem defendido uma revisão completa do Mercosul. Serra já disse que a assinatura do acordo foi "irresponsável", já que previa a integração em quatro anos. Na Europa, a integração levou 40 anos.

Imediatismo
Para Giannetti da Fonseca, o Brasil não pode ter uma visão imediatista do problema da Argentina. Ele reconhece que o ceticismo dos empresários em relação ao vizinho se justifica, já que muitos estão sujeitos a perder dinheiro na Argentina.
Fonseca cita o caso do próprio Itaú, hoje talvez o maior banco estrangeiro na Argentina, com 78 agências. "O Itaú deve ser hoje o maior banco estrangeiro na Argentina, já que os bancos europeus e americanos estão batendo em retirada", afirmou Fonseca.
No almoço, outros empresários também se mostraram bastante céticos com relação ao Mercosul. Giannetti da Fonseca acha que há outras formas de enxergar essa crise na Argentina. "Enquanto a Sadia resolveu fechar suas fábricas, a AmBev está entrando como sócia da Quilmes."
Já o embaixador Clodoaldo Hugueney, de acordo com o que a Folha apurou, chamou a atenção para o fato de que o desmantelamento do Mercosul traria um custo enorme para o Brasil. Ele reconheceu, porém, que o Brasil tem tido muitas dificuldades de diálogo com a Argentina, até porque há um rodízio permanente de negociadores, em razão de tantas mudanças no governo.
Tanto Hugueney como Giannetti da Fonseca argumentaram também, em defesa do Mercosul, que o Uruguai, por exemplo, está sofrendo mais do que o Brasil e nem por isso ameaçou sair do bloco. O Uruguai, segundo Giannetti da Fonseca, perdeu tanto na desvalorização cambial do Brasil como na da Argentina.



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