|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Em dez anos, dívida pública e carga
tributária sobem em relação ao PIB
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em 1994, quando foi lançado o
Plano Real, a arrecadação anual
de tributos do país seria suficiente
para pagar praticamente toda a
dívida pública. Dez anos depois, a
despeito de um espetacular aumento da carga tributária e da
venda de uma série de empresas
estatais, a dívida equivale hoje a
um ano e meio de receitas.
Tanto a disparada da dívida pública como a da carga tributária
são efeitos colaterais do plano.
Sem a receita inflacionária de antes e longe do ajuste fiscal sempre
apregoado, o governo recorreu a
credores e contribuintes para se
financiar -precariamente.
O impacto sobre as contas públicas foi muito maior que o imaginado pelos formuladores do
Real. No início de 95, calculava-se
que União, Estados e municípios
teriam déficit zero ao longo de toda a gestão FHC. Sabia-se que os
juros teriam de ficar altos para
atrair o capital externo necessário
para manter sob controle as cotações do dólar. Mas a equipe econômica achava que o Fundo Social de Emergência e as privatizações bastariam para segurar a dívida e o déficit públicos.
Uma seqüência de crises externas pôs fim à era do dinheiro fácil
e barato vivida pelo mercado global na época. Os juros passaram
dos 40% ao ano nos momentos de
maior turbulência e comprometeram a expansão da economia.
Resultado: em apenas quatro
anos, a dívida pública saltou de
30% para 40% do PIB (Produto
Interno Bruto). A política fiscal foi
passiva no período -a carga tributária ficou praticamente estável, e o governo gastava praticamente tudo o que arrecadava.
No final de 98, quando os credores internos e externos não se dispunham mais a continuar financiando o país, o governo recorreu
ao FMI (Fundo Monetário Internacional). Foi salvo do colapso
comprometendo-se com uma política de superávits primários
(economizar parte da receita para
o pagamento de juros).
Com a desvalorização do real,
em 99, a dívida rompeu a barreira
dos 50% do PIB. Os superávits
primários foram elevados sucessivamente, mas não conseguiram
estancar a alta do endividamento.
Preso a um Orçamento em que
a maior parte dos gastos é obrigatória e cresce por imposições
constitucionais, o governo produziu os superávits fiscais crescentes
à custa do aumento de impostos e
contribuições. Estima-se que,
neste ano, a carga tributária se
aproxime dos 38% do PIB, e a dívida pública fique nos 57%. Há
dez anos, ambas estavam na casa
dos 30%.
(GUSTAVO PATU)
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Para economistas, desafio agora é permitir o crescimento sustentável Índice
|