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CRISE NO CAMPO
Após tumulto com "tratoraço", presidente decide não receber ruralistas; pela manhã negou aumento para preço do arroz
Lula desaprova protesto e cancela reunião
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O tumulto provocado no trânsito da Esplanada dos Ministérios
pelos produtores rurais que participam do "tratoraço" levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a
cancelar a segunda reunião que
teria, no início da noite de ontem,
com lideranças do setor.
"O presidente não gostou do fechamento da pista [da Esplanada
dos Ministérios]", disse o deputado Francisco Turra (PP-RS). O senador Aloizio Mercadante (PT-SP), líder do governo no Senado,
foi chamado para tentar intermediar a realização da reunião, sem
sucesso. "A radicalização não é
boa para a democracia", disse o
senador, ao sair do Palácio do Planalto por volta das 21h30.
Os deputados da bancada ruralista queriam que, mesmo sem a
reunião com o presidente, o governo divulgasse uma medida a
mais para acalmar os ânimos dos
manifestantes. Todas as novas
medidas, no entanto, ficaram para ser discutidas em nova reunião
hoje, mas sem a presença de Lula.
No final da manhã, em encontro com representantes da CNA
(Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária) e líderes da
bancada ruralista do Congresso,
Lula demonstrou sua preocupação com o cumprimento da meta
de inflação (fixada em 4,5% para
2005 e 2006) e disse que ainda tem
na "carne" a experiência de greves
e manifestações.
A audiência, que durou cerca de
uma hora e meia, foi interrompida para que o presidente não atrasasse mais o almoço com os senadores peemedebistas Renan Calheiros (AL) e José Sarney (AP)
para discutir a crise política.
A preocupação do presidente
com a inflação ocorreu no momento em que os produtores rurais, que foram às ruas de Brasília
cobrar do governo uma injeção
de incentivos ao setor, pediram
que o Planalto avançasse na proposta do preço mínimo do arroz,
que tem tido seguidas quedas por
conta do excesso de produção.
Risco para a inflação
"Se atender esse pedido [avanço
do preço do arroz para R$ 25 a saca de 50 kg], podemos colocar em
risco a inflação do país", afirmou
Lula. A seguir, disse que não poderia tomar uma decisão sobre o
tema sem antes consultar o ministro da Fazenda, Antonio Palocci
Filho. "Não posso tomar uma atitude dessas sem antes consultar o
Palocci", disse o presidente, segundo relato à reportagem de
produtores presentes na reunião.
Lula estava acompanhado, na
reunião, do ministro Roberto Rodrigues (Agricultura) e do assessor especial da Presidência, José
Graziano da Silva. Segundo relato
dos ruralistas, o presidente permaneceu cabisbaixo durante quase toda a audiência, só demonstrando uma aparência mais descontraída nos minutos finais,
quando falou aos produtores e líderes da chamada bancada ruralista (de defesa dos fazendeiros).
Na conversa com os produtores, que levaram milhares de pessoas a Brasília, Lula lembrou de
seu tempo de sindicalista à frente
de manifestações. Afirmou que
iniciar uma marcha é "fácil". O
problema, segundo ele, é mantê-la. "Quando começamos uma
marcha para fazer uma greve, é
fácil. É só parar e cruzar os braços.
O problema é sustentar o movimento com resultados. Eu tenho
essa experiência na carne."
Ao final, lembrou os produtores, ansiosos por medidas de curto prazo, que a agricultura é "atividade de risco". "A agricultura
sempre será uma atividade de risco. Não depende só da tecnologia,
depende do clima, do mercado."
(EDUARDO SCOLESE e JULIA DUAILIBI)
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