São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 2005

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CRISE NO CAMPO

Após tumulto com "tratoraço", presidente decide não receber ruralistas; pela manhã negou aumento para preço do arroz

Lula desaprova protesto e cancela reunião

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O tumulto provocado no trânsito da Esplanada dos Ministérios pelos produtores rurais que participam do "tratoraço" levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a cancelar a segunda reunião que teria, no início da noite de ontem, com lideranças do setor.
"O presidente não gostou do fechamento da pista [da Esplanada dos Ministérios]", disse o deputado Francisco Turra (PP-RS). O senador Aloizio Mercadante (PT-SP), líder do governo no Senado, foi chamado para tentar intermediar a realização da reunião, sem sucesso. "A radicalização não é boa para a democracia", disse o senador, ao sair do Palácio do Planalto por volta das 21h30.
Os deputados da bancada ruralista queriam que, mesmo sem a reunião com o presidente, o governo divulgasse uma medida a mais para acalmar os ânimos dos manifestantes. Todas as novas medidas, no entanto, ficaram para ser discutidas em nova reunião hoje, mas sem a presença de Lula.
No final da manhã, em encontro com representantes da CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária) e líderes da bancada ruralista do Congresso, Lula demonstrou sua preocupação com o cumprimento da meta de inflação (fixada em 4,5% para 2005 e 2006) e disse que ainda tem na "carne" a experiência de greves e manifestações.
A audiência, que durou cerca de uma hora e meia, foi interrompida para que o presidente não atrasasse mais o almoço com os senadores peemedebistas Renan Calheiros (AL) e José Sarney (AP) para discutir a crise política.
A preocupação do presidente com a inflação ocorreu no momento em que os produtores rurais, que foram às ruas de Brasília cobrar do governo uma injeção de incentivos ao setor, pediram que o Planalto avançasse na proposta do preço mínimo do arroz, que tem tido seguidas quedas por conta do excesso de produção.

Risco para a inflação
"Se atender esse pedido [avanço do preço do arroz para R$ 25 a saca de 50 kg], podemos colocar em risco a inflação do país", afirmou Lula. A seguir, disse que não poderia tomar uma decisão sobre o tema sem antes consultar o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho. "Não posso tomar uma atitude dessas sem antes consultar o Palocci", disse o presidente, segundo relato à reportagem de produtores presentes na reunião.
Lula estava acompanhado, na reunião, do ministro Roberto Rodrigues (Agricultura) e do assessor especial da Presidência, José Graziano da Silva. Segundo relato dos ruralistas, o presidente permaneceu cabisbaixo durante quase toda a audiência, só demonstrando uma aparência mais descontraída nos minutos finais, quando falou aos produtores e líderes da chamada bancada ruralista (de defesa dos fazendeiros).
Na conversa com os produtores, que levaram milhares de pessoas a Brasília, Lula lembrou de seu tempo de sindicalista à frente de manifestações. Afirmou que iniciar uma marcha é "fácil". O problema, segundo ele, é mantê-la. "Quando começamos uma marcha para fazer uma greve, é fácil. É só parar e cruzar os braços. O problema é sustentar o movimento com resultados. Eu tenho essa experiência na carne."
Ao final, lembrou os produtores, ansiosos por medidas de curto prazo, que a agricultura é "atividade de risco". "A agricultura sempre será uma atividade de risco. Não depende só da tecnologia, depende do clima, do mercado." (EDUARDO SCOLESE e JULIA DUAILIBI)

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