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FERNANDO CAMARGO
Oferta de eletricidade: alguma dúvida?
Não há dúvidas de que o Brasil requer alternativas urgentes de geração de energia para sustentar seu crescimento
O GOVERNO anunciou recentemente a decisão de retomar
investimentos na usina nuclear Angra 3, projeto há décadas interrompido por conta de seu alto
custo. A despeito dessa desvantagem evidente, a energia nuclear vem
readquirindo simpatizantes ao redor do mundo por duas razões básicas: não gera emissões de gases nocivos ao ambiente quando operada de
forma segura e tem custo operacional, hoje, menor do que o de térmicas à base de combustíveis fósseis. O
governo brasileiro parece convencido da conveniência de elevar a participação dessa fonte na matriz energética brasileira.
Não há dúvidas de que o Brasil requer alternativas urgentes e firmes
de geração de energia para sustentar
o crescimento do PIB da ordem de
5% ao ano que vem se insinuando.
Mas também não há dúvidas de que
o país dispõe de uma série de projetos em energia mais vantajosos sob
diversos aspectos. Exemplo claro
disso são os empreendimentos hidroelétricos no rio Madeira: embora
complexos por serem de grande
porte (cerca de três vezes maiores
que Angra 3), tais projetos estão hoje em status bastante avançado no
que se refere às soluções de tecnologia, ambientais, financeiras e empresariais.
Embora seja evidente que os projetos do Madeira (e outros semelhantes) são vitais para reduzir o risco de racionamento a partir de 2012,
não são poucas as dúvidas acerca de
se, e quando, eles se viabilizarão. Recentemente o governo anunciou ao
mercado as bases da formatação
desses projetos. Houve avanços importantes: a alocação adequada de
riscos entre os agentes (como riscos
institucionais e sociopolíticos, que
poderão ensejar revisão de tarifas); e
definições contratuais (regime de
venda e quantidades de energia ao
longo do tempo, predefinição da tarifa de transmissão, preço teto para
quando a usina precisar comprar
energia no mercado etc.). Tais avanços mostram a maturidade institucional (regulação e contratos estáveis) necessária para atrair investimentos, inclusive públicos.
Mas seguem em aberto pontos
que são fundamentais para a viabilização de projetos estruturantes como os do Madeira. Duas questões se
destacam: a ambiental e a da financiabilidade.
Na frente ambiental, é necessário
que os empreendedores e a sociedade possam conhecer antecipadamente os requisitos necessários para a aprovação de licenças; cronogramas de análise e de liberação; critérios para alocação de passivos ambientais que surgirem entre a liberação da licença de instalação e a prévia, de forma a que novas exigências
advindas de pressões políticas locais
não venham a inviabilizar o projeto.
Quanto à financiabilidade, é urgente adotar arranjos funcionais, já
utilizados internacionalmente, para
garantir a execução de projetos. Em
vez de exigências tradicionais (registros em balanço, exigências de patrimônio e ativos mínimos etc.), que
interferem na composição de consórcios, diluem seu capital controlador e excluem da concorrência grande número de investidores capacitados, é chegada a hora de adotar mecanismos de "project finance" puro,
garantidos por bons projetos, contratos perfeitos, estrutura sólida de
seguros e regras de arbitragem de
conflitos envolvendo alocação de
riscos.
Esses procedimentos deveriam
estar presentes em todos os projetos
de grande porte e essenciais. Suas
vantagens seriam logo percebidas
por toda a sociedade na forma de
mais investimentos, mais concorrência, tarifas mais baixas e maior
desenvolvimento econômico.
FERNANDO CAMARGO, 37, é mestre em economia pela
Unicamp e sócio-diretor da LCA, onde dirige as áreas de inteligência de mercados intermediários e de investimento e finanças corporativas.
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