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Madoff é condenado a 150 anos por fraude
Ex-presidente da Nasdaq criou o maior esquema de pirâmide da história e provocou perdas estimadas em US$ 65 bilhões
Decisão foi aplaudida no
tribunal; mulher e filhos são
inocentados de participação,
e fundo para reaver perdas
atingiu US$ 1,2 bi até agora
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
Sob aplausos da audiência, o
financista e ex-presidente da
Bolsa eletrônica Nasdaq Bernard L. Madoff foi sentenciado
ontem em uma corte de Nova
York a 150 anos de prisão por
fraudes financeiras estimadas
em US$ 65 bilhões. O valor é
considerado o maior da história para esse tipo de crime.
Madoff sustentou durante
duas décadas um esquema do
tipo "pirâmide" que prometia
rendimentos bem acima do
mercado a investidores. Entre
eles, gente do cinema como
Steven Spielberg e John Malkovich, atletas famosos e fundações centenárias nos EUA.
Em março, ao se declarar culpado de 11 acusações, Madoff
admitiu que tomava dinheiro
de novos investidores para pagar os mais antigos que pediam
saques. A investigação revelou
que Madoff não havia feito uma
única operação no mercado financeiro nos últimos 13 anos.
O dinheiro apenas entrava e
saía de sua firma, a Bernard L.
Madoff Investment Securities,
para pagar investidores e bancar extravagâncias pessoais, como barcos e propriedades ao
redor do mundo.
A pena de 150 anos é seis vezes superior à aplicada para punir as fraudes dos ex-executivos (ainda presos) da Enron e
WorldCom no início da década.
Aos 71 anos de idade, Madoff
deve morrer na cadeia.
Logo após a sentença, Madoff
foi encaminhado a uma unidade prisional em Manhattan.
Dentro de alguns dias será
transferido definitivamente
para uma prisão federal.
Os advogados do investidor
haviam pedido uma pena máxima de 12 anos. Alegavam que a
expectativa de vida de seu
cliente é de mais 13,5 anos, segundo as estatísticas do Social
Security nos EUA, o equivalente à Previdência Social.
"A mensagem que deve ser
passada com esta sentença é de
que o crime cometido pelo senhor Madoff foi diabólico. A
quebra de confiança foi maciça.
A fraude, chocante. E eu simplesmente não acredito que ele
tenha feito tudo o que podia ou
contado tudo o que sabia [para
ajudar nas investigações]", afirmou o juiz Denny Chin ao proferir sua sentença diante de
250 pessoas.
Segundo Chin, o golpe de
Madoff não tem paralelos em
termos de valores e de número
de pessoas envolvidas.
Apesar de intensas investigações desde dezembro de 2008,
quando o esquema veio à tona
na esteira da derrocada dos
mercados financeiros globais,
apenas Madoff foi condenado.
O financista inocentou seus
dois filhos e outros funcionários que trabalhavam com ele e
disse que sua mulher jamais
soube da origem do dinheiro
que financiava seus gastos.
Na semana passada, Ruth
Madoff, 68, abriu mão de vários
bens e valores do casal no total
de US$ 80 milhões e concordou
em receber uma única "compensação" de US$ 2,5 milhões.
A investigação ainda não
conseguiu chegar a um valor total de quanto Madoff teria roubado de suas vítimas. A estimativa atual é de que cerca de US$
170 bilhões tenham passado
por suas mãos nas duas últimas
décadas. Algumas semanas antes de sua prisão, a contabilidade de Madoff mostrava que
US$ 65 bilhões de atuais investidores estavam "aplicados".
Na prática, só uma pequena
fração do dinheiro existia.
Um fundo criado para tentar
recuperar parte dos desvios
conseguiu recolher até agora
cerca de US$ 1,2 bilhão, isso já
incluindo valores de algumas
das propriedades de Madoff.
Emocionados, nove de seus
clientes prestaram depoimento
na audiência ontem. Alguns
disseram ter pedido a poupança de uma vida no esquema. Os
advogados de Madoff por sua
vez afirmaram que o caso em
torno de seu cliente virou "sede
de vingança de uma turba".
"Hoje vivo atormentado,
consciente da grande dor que
eu mesmo provoquei. Deixo
para trás uma herança de vergonha, tanto para minha família quanto para meus netos. Terei de viver com isso até o fim",
disse Madoff antes de ouvir a
sentença final de seu caso.
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