São Paulo, quarta, 30 de julho de 1997.



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PERFIL
Com doutorado em Harvard, Gustavo Franco gosta de contar que tocou em banda e escreveu livro de ficção
Economista é 'enfant terrible' do câmbio

da Reportagem Local

Poucas figuras no governo de Fernando Henrique Cardoso provocam tanta polêmica quanto o carioca Gustavo Henrique de Barroso Franco, 41 anos completados em abril último, indicado ontem para um dos cargos mais propensos, nos últimos anos, a provocar polêmica, o de presidente do BC (Banco Central).
Formado em economia, com doutorado em Harvard, nos Estados Unidos, diretor de assuntos internacionais do BC desde o início do governo FHC, Franco não se enquadra na imagem estereotipada do economista ocupando um alto posto no Executivo.
Ele fala sobre outros assuntos que não sua área específica no BC, critica políticos e a política de forma geral, com frequência é retratado com a barba por fazer.
Circo dos horrores
Sabe-se que escreveu um livro de ficção (que não teria planos de publicar proximamente), além dos nove sobre economia.
Gosta de contar sua breve experiência como músico: na adolescência, formou um conjunto de rock, O Circo dos Horrores, em que tocava piano e guitarra, ao lado do também economista Edward Amadeo, hoje professor da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio. Atualmente, ele declara que prefere música clássica.
Gosta de travar polêmica sobre assuntos econômicos, especialmente sobre a controvertida política cambial brasileira, da qual é considerado o principal -e ferrenho- defensor.
Banco Garantia
Franco estudou até os 30 anos, quando voltou de Harvard, e foi ser professor de economia na PUC do Rio. E saiu direto da PUC para integrar a equipe de FHC no Ministério da Fazenda, durante o governo Itamar Franco, que elaborou o Plano Real, ao lado de economistas como André Lara Resende, Pérsio Arida e Edmar Bacha.
Filho único de uma família de classe média alta, ele sempre estudou em escolas consideradas de elite no Rio. O pai, Arinos Franco, de uma família "muito pobre", segundo Franco, fez carreira no Banco do Brasil, chegando a ser chefe de gabinete do Ministério da Fazenda e secretário particular de Getúlio Vargas.
Arinos também foi um dos sócios originais do Banco Garantia, no qual continua a ter uma participação. A confortável situação financeira de Arinos permitiu que ele desse para o filho um apartamento em São Conrado, no Rio, avaliado em US$ 1,5 milhão.
Casado pela segunda vez com a administradora de empresas Cristiana Laet, 28, Gustavo Franco tem três filhos, os adolescentes Júlia e Pedro, do primeiro casamento, e Antônio, de nove meses.
Franco tem problema crônico de insônia e, para resolvê-lo, apela para o remédio Lexotan. Talvez por isso, o que mais o atrai em seus momentos de lazer é não fazer nada.
Responsável agora pela condução da política monetária no país, Franco admite que não sabe aplicar seu próprio dinheiro: "Sempre fui um fracasso com minhas finanças" disse em entrevista à "Revista da Folha".
Atrito com embaixador
Emblemático do tipo de reação que Franco desperta foi seu atrito, em abril último, com o então embaixador argentino no Brasil, Diego Ramiro Guelar, que não apenas teceu críticas a decisões tomadas pelo governo brasileiro -restrições ao financiamento das importações- mas fez comentários até sobre a figura de Franco.
Guelar disse que as medidas tinham sido anunciadas de forma "arrogante" e complementou, referindo-se à estatura de Franco, que as pessoas que ficam "abaixo da linha do horizonte" precisam ser "arrogantes para se defender". No dia seguinte, Franco recebeu um pedido de desculpas do embaixador, por escrito.
Ontem, enquanto era anunciada a escolha de Franco para substituir Gustavo Loyola o embaixador argentino se despedia do Brasil.



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