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CONTAS PÚBLICAS
Governo gasta mais com dívida, e déficit nominal passa de 2,54% do PIB, em 2002, para 5,12%, neste ano
Juros altos dobram déficit público do país
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O déficit público do Brasil dobrou nos primeiros sete meses do
governo Lula, segundo dados do
Banco Central. Entre janeiro e julho, União, Estados, municípios e
estatais gastaram R$ 44,928 bilhões a mais do que arrecadaram
no período.
O déficit acumulado neste ano
-chamado de déficit nominal,
que inclui os gastos com juros-
representa 5,12% do PIB (Produto
Interno Bruto, o total de riquezas
produzidas pelo país). Em igual
período de 2002, o rombo nas
contas do setor público havia chegado a R$ 18,616 bilhões, ou
2,54% do PIB da época.
Esse movimento é consequência do aumento da taxa básica de
juros ocorrido desde o final de
2002. No início de 2003, quando o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse, a Selic estava em
25% ao ano. Ao longo do primeiro semestre, chegou a 26,5%
anuais. Aproximadamente metade da dívida pública é corrigida
por essa taxa. Quanto mais alta a
Selic, maiores os gastos do governo com juros da dívida e maior o
déficit público.
"Existe uma concordância geral
de que a taxa de juros é elevada e
precisa cair. Mas é preciso considerar que, se a alta dos juros teve
um custo, também teve o efeito
positivo de conter a inflação",
afirmou Luiz Malan, chefe-adjunto do Departamento Econômico
do Banco Central.
Entre janeiro e julho, os gastos
com juros somaram R$ 89,257 bilhões (10,18% do PIB). No mesmo
período do ano passado, as despesas foram de R$ 51,498 bilhões, ou
7,02% do PIB.
Ou seja, apesar de o governo estar "apertando os cintos" neste
ano, o pagamento de juros está
comendo todo esse esforço e um
pouco mais.
O que o Brasil pagou de juros da
sua dívida equivale a pouco mais
de 52 orçamentos do programa
Fome Zero para este ano, que é de
cerca de R$ 1,7 bilhão. O Fome Zero, programa de combate à fome,
é uma das principais bandeiras
sociais do governo Lula.
Critério
Na maioria dos países, utiliza-se
o déficit nominal para analisar o
equilíbrio das contas públicas. No
Brasil, porém, os gastos cada vez
maiores do governo com juros fazem com que se adotem critérios
diferentes.
Nos últimos anos, o governo
-tanto o atual quanto o seu antecessor- tem buscado enfatizar
que, quando se excluem os juros,
o setor público gasta menos do
que arrecada: é o chamado superávit primário. Entre janeiro e julho, ele foi de R$ 44,329 bilhões,
valor 35% maior do que os R$
32,882 bilhões registrados no
mesmo período de 2002.
O argumento por trás dessa separação é o de que o resultado primário é que melhor ilustra o esforço fiscal feito pelo governo,
pois se refere apenas a gastos que
ele pode controlar -investimentos, gastos na área social, entre
outros. As despesas com juros,
por sua vez, não dependem da
austeridade fiscal do governo,
pois apenas refletem os contratos
acertados com os credores da dívida pública.
Assim, a partir dos números divulgados ontem pelo BC, entende-se que o setor público tem se
esforçado em economizar o máximo de dinheiro possível para
honrar seus compromissos -esforço esse que se reflete no crescimento do superávit primário.
No Brasil, os resultados primários do governo são acompanhados com atenção por causa, também, do acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Para que tenha acesso aos empréstimos, o setor público precisa cumprir as metas de superávit primário acordadas com o Fundo.
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