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Volks demite; trabalhadores iniciam greve
Um dia após governo suspender financiamento, montadora iniciou distribuição de cartas de demissão a 1.800 empregados
Paralisação no ABC é por tempo indeterminado, afirma sindicato, que
quer ampliar movimento
para outras categorias
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dia após o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social) suspender empréstimo de R$ 497,1 milhões
para a Volkswagen, a montadora distribuiu cartas de demissão a 1.800 trabalhadores de
São Bernardo do Campo (ABC
paulista) e deu início à reestruturação anunciada em maio.
Em reação, os funcionários
decretaram greve por tempo
indeterminado. A decisão de
paralisar as atividades foi aprovada por unanimidade em assembléia realizada ontem à tarde com 10 mil empregados.
A greve começou às 16h30
com cerca 4.000 funcionários
do segundo turno -eles entraram na fábrica após a assembléia e deveriam permanecer
com braços cruzados, segundo
orientação do Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC (filiado à
CUT) aprovada na assembléia.
A paralisação deve se estender hoje aos 12,4 mil funcionários da unidade de São Bernardo. A cada dia de paralisação,
uma média de 940 veículos deixa de ser produzida na fábrica,
onde também são feitos câmbio
e motores para carros de outras
unidades -Taubaté (SP) e São
José dos Pinhais (PR).
Nos comunicados entregues
pela montadora desde a manhã
de ontem, a Volkswagen informa que os funcionários serão
desligados a partir de novembro, mês em que termina acordo de estabilidade no ABC.
"Esta empresa o está demitindo a partir de 21 de novembro com pagamento de verbas
indenizatórias previstas na lei",
informava a carta entregue a
empregados de vários setores.
Não estão previstos incentivos adicionais aos demitidos,
como os negociados em Taubaté, onde a montadora fez acordo em julho para cortar 700 vagas nos próximos dois anos.
"A empresa foi inflexível. Deveria ter no mínimo respeito
aos trabalhadores pela dedicação e pelo lucro que já renderam à fábrica", disse José Lopez
Feijóo, presidente do Sindicato
dos Metalúrgicos do ABC.
Investimentos
Em maio, a Volks informou
que planejava demitir 3.600
trabalhadores do ABC em um
prazo de dois anos para reduzir
custos e incluir a fábrica no plano de novos investimentos que
será definido pela matriz alemã
no início de setembro.
Na semana passada, entretanto, a montadora avisou aos
sindicalistas que, sem acordo,
as demissões poderiam chegar
a 6.100, e a fábrica poderia ser
fechada. Desde a última quarta,
empresa e sindicato se reuniram durante 33 horas. No domingo, houve a última reunião,
que acabou sem consenso.
"Este é um dia histórico para
os trabalhadores da Volkswagen. O enfrentamento que será
feito aqui não é com uma empresa qualquer, mas sim com
uma das maiores multinacionais do planeta. Sabemos que
essa será uma luta longa", afirmou Carlos Alberto Grana, presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da
CUT -a entidade reúne 900
mil metalúrgicos no país.
A partir de hoje, a confederação e a CUT devem mobilizar
os trabalhadores de outras categorias e de outras unidades
da Volkswagen em reação aos
comunicados de demissão.
"A idéia é envolver metalúrgicos de outras regiões do país,
bancários, químicos e funcionários do setor público em manifestações e protestos em solidariedade aos trabalhadores da
Volks", disse Artur Henrique
da Silva Santos, presidente da
CUT e ligado aos eletricitários.
Para o deputado federal Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, que já presidiu o sindicato
da categoria na região do ABC,
a atitude da VW foi "agressiva".
"A forma como a Volkswagen
demite seus trabalhadores remonta a atitudes que ocorriam
nos anos 80."
O ministro Luiz Marinho
(Trabalho), que se reuniu anteontem com representantes
da montadora, não quis comentar as demissões anunciadas.
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