São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 2006

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Volks demite; trabalhadores iniciam greve

Um dia após governo suspender financiamento, montadora iniciou distribuição de cartas de demissão a 1.800 empregados

Paralisação no ABC é por tempo indeterminado, afirma sindicato, que quer ampliar movimento para outras categorias


CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dia após o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social) suspender empréstimo de R$ 497,1 milhões para a Volkswagen, a montadora distribuiu cartas de demissão a 1.800 trabalhadores de São Bernardo do Campo (ABC paulista) e deu início à reestruturação anunciada em maio.
Em reação, os funcionários decretaram greve por tempo indeterminado. A decisão de paralisar as atividades foi aprovada por unanimidade em assembléia realizada ontem à tarde com 10 mil empregados.
A greve começou às 16h30 com cerca 4.000 funcionários do segundo turno -eles entraram na fábrica após a assembléia e deveriam permanecer com braços cruzados, segundo orientação do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (filiado à CUT) aprovada na assembléia.
A paralisação deve se estender hoje aos 12,4 mil funcionários da unidade de São Bernardo. A cada dia de paralisação, uma média de 940 veículos deixa de ser produzida na fábrica, onde também são feitos câmbio e motores para carros de outras unidades -Taubaté (SP) e São José dos Pinhais (PR).
Nos comunicados entregues pela montadora desde a manhã de ontem, a Volkswagen informa que os funcionários serão desligados a partir de novembro, mês em que termina acordo de estabilidade no ABC.
"Esta empresa o está demitindo a partir de 21 de novembro com pagamento de verbas indenizatórias previstas na lei", informava a carta entregue a empregados de vários setores.
Não estão previstos incentivos adicionais aos demitidos, como os negociados em Taubaté, onde a montadora fez acordo em julho para cortar 700 vagas nos próximos dois anos.
"A empresa foi inflexível. Deveria ter no mínimo respeito aos trabalhadores pela dedicação e pelo lucro que já renderam à fábrica", disse José Lopez Feijóo, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Investimentos
Em maio, a Volks informou que planejava demitir 3.600 trabalhadores do ABC em um prazo de dois anos para reduzir custos e incluir a fábrica no plano de novos investimentos que será definido pela matriz alemã no início de setembro.
Na semana passada, entretanto, a montadora avisou aos sindicalistas que, sem acordo, as demissões poderiam chegar a 6.100, e a fábrica poderia ser fechada. Desde a última quarta, empresa e sindicato se reuniram durante 33 horas. No domingo, houve a última reunião, que acabou sem consenso.
"Este é um dia histórico para os trabalhadores da Volkswagen. O enfrentamento que será feito aqui não é com uma empresa qualquer, mas sim com uma das maiores multinacionais do planeta. Sabemos que essa será uma luta longa", afirmou Carlos Alberto Grana, presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT -a entidade reúne 900 mil metalúrgicos no país.
A partir de hoje, a confederação e a CUT devem mobilizar os trabalhadores de outras categorias e de outras unidades da Volkswagen em reação aos comunicados de demissão.
"A idéia é envolver metalúrgicos de outras regiões do país, bancários, químicos e funcionários do setor público em manifestações e protestos em solidariedade aos trabalhadores da Volks", disse Artur Henrique da Silva Santos, presidente da CUT e ligado aos eletricitários.
Para o deputado federal Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, que já presidiu o sindicato da categoria na região do ABC, a atitude da VW foi "agressiva". "A forma como a Volkswagen demite seus trabalhadores remonta a atitudes que ocorriam nos anos 80."
O ministro Luiz Marinho (Trabalho), que se reuniu anteontem com representantes da montadora, não quis comentar as demissões anunciadas.


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