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Ganho da Caixa com PAC é suspenso
Taxa de 2,5% por repasse de verbas do programa daria centenas de milhões de reais a mais para o banco público
Após protesto de membros do governo, que disseram preferir que dinheiro fosse gasto em obras, banco reduziu a taxa para 0,1%
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O aumento de receitas que as
obras do PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento)
gerarão à Caixa Econômica Federal criou uma disputa no governo e obrigou a instituição a
reduzir até outubro de 2,5% para 0,1% a taxa cobrada sobre cada contrato para administrar o
repasse dos recursos.
A intenção da Caixa era manter os 2,5%, cobrados dos ministérios com quem tem convênio para fazer a transferência
do dinheiro e acompanhar todo
o processo de liberação e aplicação das verbas. Nas últimas
duas semanas, o assunto esquentou o clima das reuniões
do Comitê Gestor do PAC porque o programa elevou brutalmente a quantia que será administrada pela Caixa, que resistia
em diminuir a taxa.
Considerando só os R$ 16 bilhões previstos no Orçamento
Geral da União para as obras de
saneamento e de urbanização
de favelas incluídas no PAC, as
receitas da instituição com esse
serviço poderiam chegar a R$
400 milhões até 2010. Com isso, a arrecadação anual do banco com essa intermediação
cresceria quase 350%. Como
comparação, no primeiro semestre do ano, o lucro da Caixa
foi de R$ 1,716 bilhão.
Tradicionalmente, os ministérios contratam a Caixa, por
meio de convênios, para administrar os repasses de recursos
do Orçamento, o que inclui
também as emendas parlamentares ao Orçamento.
O banco recebe 0,5% do valor
do contrato no momento em
que a verba é reservada junto
ao Tesouro Nacional (empenho), 0,5% no ato da assinatura
e 1,5% quando encerra a prestação de contas, o que pode demorar até três anos, segundo o
vice-presidente de Governo da
CEF, Jorge Hereda.
Segundo o balanço da Caixa,
no primeiro semestre deste
ano, sem que tenha ocorrido
nenhuma operação do PAC
com dinheiro do Orçamento, a
Caixa recebeu R$ 15 milhões
pelos repasses normais em nome dos ministérios. Supondo
que sem o PAC esse desempenho fosse repetido no segundo
semestre, as receitas anuais ficariam em R$ 30 milhões.
Com o PAC, levando em conta só o convênio com o Ministério das Cidades, elas pulariam
para mais de R$ 130 milhões ao
ano, já que a previsão é desembolsar R$ 16 bilhões nos próximos três anos, até 2010.
Mas parte do governo crê
que, por ter função social, a Caixa não pode lucrar à custa do
PAC. Na semana passada, em
reunião no Palácio do Planalto,
foi ressaltado que os R$ 400
milhões representavam 10% do
total previsto no PAC para o
FNHIS (Fundo Nacional de
Habitação de Interesse Social).
O FNHIS é um programa voltado para a urbanização de favelas e melhoria nas condições
de vida da população de baixa
renda, justamente a camada da
população que o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva destaca como sendo sua prioridade.
O valor cobrado pela Caixa
para operar em nome dos ministérios é, na verdade uma tarifa de serviço. Para integrantes
do governo que participaram
do debate, como esse não é um
serviço feito por outras instituições, "a reserva de mercado"
dá a ela o direito de arbitrar o
valor que quiser.
O tema já foi debatido, inclusive, pelo TCU (Tribunal de
Contas da União). No início do
ano, o tribunal se manifestou
contra a cobrança de 2,5%. Em
decisão de junho, após ouvir os
argumentos da Caixa, o tribunal reafirmou a decisão e considerou que a instituição deveria
identificar o custo exato dos
seus serviços e fixar um valor
em vez de um percentual sobre
o total previsto nos contratos.
Para os ministros do TCU, a
cobrança deve ser feita com base em critérios que espelhem
"as tarefas efetivamente prestadas". Segundo o documento,
no entanto, a própria entidade
"não possui um sistema de custo voltado para essa finalidade
específica". Com isso, as auditorias do tribunal não puderam
definir se o montante pago à
Caixa pelos ministérios é justo.
O INSS, por exemplo, usa a
rede bancária para pagar aos
aposentados. Mas a tarifa paga
é fixada em reais segundo a forma de pagamento: saque na boca do caixa com cartão magnético (R$ 1,07 por operação) ou
crédito em conta corrente (R$
0,30). A própria Caixa cobra 1%
ao ano do FGTS para administrar as contas do fundo.
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