São Paulo, sábado, 30 de agosto de 2008

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Pré-sal pode expandir a indústria naval

Sindicato do setor prevê 338 empreendimentos nos próximos oito anos, incluindo petroleiros, navios-sonda e plataformas

Com descoberta de campos, número de encomendas pode dobrar e até triplicar; BNDES elabora política industrial para o petróleo


Leo Caldas - 7.ago.08/Titular
Pátio do estaleiro Atlântico Sul (PE); descoberta de campos de petróleo deve impulsionar setor

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

A vinda de empresas da cadeia de fornecedores para a indústria naval é o principal plano do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para o setor. Impulsionada pelas encomendas da Transpetro e da Petrobras, a indústria tenta recuperar o vigor do passado, quando chegou a ser a segunda no ranking mundial, mas se ressente da falta de estrutura na fabricação de peças. A expectativa é de mercado ainda mais aquecido com as descobertas de petróleo na camada pré-sal.
Nos cálculos do Sinaval (Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore), estão previstos 338 empreendimentos nos próximos oito anos, o que inclui, entre outros, 49 navios petroleiros encomendados pela Transpetro no Promef 1 e 2 (Programa de Modernização e Expansão da Frota), 146 navios de apoio marítimo a plataformas de produção de petróleo, 6 plataformas de produção de petróleo e 28 navios-sonda de perfuração. O país tem hoje 26 estaleiros de grande e médio porte com capacidade de processamento de aço de 630 mil toneladas por ano.
Segundo Franco Papini, vice-presidente do Sinaval, o setor voltou hoje ao patamar de 40 mil empregos, o mesmo da década de 70, e deve chegar a 70 mil dentro de quatro a cinco anos. "O número de encomendas pode dobrar ou triplicar com o pré-sal. Ainda é impossível mensurar o impacto exato que ele terá para o setor", disse em entrevista após evento da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha.
O presidente do BNDES afirmou nesta semana que o banco está elaborando uma política industrial do petróleo, voltada para suprir a necessidade de equipamentos para exploração da região.

Mais encomendas
O banco está em uma fase embrionária na discussão sobre a vinda de fornecedores da indústria naval para o Brasil e mantém conversas com empreendedores. De 1996 a 2007, as encomendas de navios no mundo cresceram ao ritmo de 36% ao ano, o que reforça a necessidade de criação de plantas no Brasil para atender a demanda crescente do setor.
"Há uma demanda estrutural forte nos próximos anos que representa oportunidade para o país. É uma área que gera muitos empregos e tem efeito de encadeamento grande para outras indústrias. Não temos toda a cadeia desenvolvida no Brasil e isso faz com que seja necessário atrair empresas internacionais", afirma Júlio Ramundo, superintendente da área de indústria do banco.
A carteira do banco entre operações contratadas, em análise, consulta e em perspectiva soma financiamentos de R$ 20,4 bilhões e investimentos totais de R$ 27,8 bilhões.

Padrão internacional
O BNDES mapeou três estágios em que pode atuar na revitalização da cadeia de fornecedores. A idéia é priorizar equipamentos relevantes ou estratégicos para o setor. Nessa atividade, os produtos precisam atender padrão internacional para evitar atrasos e aumento de custos em casos de necessidade de reparos.
Segundo o banco, num primeiro estágio estão os produtos mais simples, que já foram produzidos aqui, como cabos elétricos, bombas e mobiliário para o setor. Num segundo nível, equipamentos mais complexos, como motor principal; em uma terceira etapa, equipamentos de ponta, produzidos em número restrito de países. A primeira etapa levaria de 12 a 24 meses para implantação. A terceira pode levar anos.
Ramundo cita como exemplo o estaleiro Atlântico Sul, que atraiu como sócia a sul-coreana Samsung Heavy Industries, o que facilita a troca de tecnologia.
A indústria naval conta com um limite de participação elevado dos financiamentos do banco no total de investimentos e com prazo longo de pagamento. A abertura de novas fábricas resolveria também a exigência de conteúdo nacional.
Segundo Antonio Carlos Tovar, gerente do departamento de logística, com a implantação de novas fábricas e a reativação de indústrias seria possível ultrapassar os 75% de conteúdo nacional na produção de petroleiros, graneleiros e porta-contêineres.
O banco é um dos repassadores dos recursos do Fundo de Marinha Mercante, usados na construção de navios. Os outros agentes são o Banco do Brasil, o Banco da Amazônia e o Banco do Nordeste. Há possibilidade de que a Caixa Econômica Federal também passe a distribuir os recursos. Até o dia 21 deste mês, o BNDES tinha operações contratadas neste ano, com recursos do fundo, de R$ 657,45 milhões.


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