São Paulo, sábado, 30 de setembro de 2006

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Comediantes perdem força em estúdios

Hollywood decidiu controlar os salários de seus principais artistas e reduzir número de filmes que produzem e distribuem

Estúdios vêm se opondo aos orçamentos das comédias recentes e às participações na bilheteria bruta que os atores estão recebendo


SHARON WAXMAN
DO "NEW YORK TIMES", EM LOS ANGELES

Quando Jim Carrey pegou o telefone e ligou para o seu agente, Nick Stevens, no mês passado, foi o fim de uma associação longa e lucrativa.
O superastro da comédia ligou para Stevens, que o representou por 15 anos e orientou seu sucesso -dos papéis que ele fazia na série de TV "In Living Color" e em filmes como "Ace Ventura" para a rarefeita atmosfera dos cachês de US$ 20 milhões-, com o objetivo de informá-lo de que não precisava mais de seus serviços. Carrey havia decidido substituí-lo pela Creative Artists Agency, uma das maiores empresas de representação de talentos.
A decisão, que gerou uma tempestade de rumores em Hollywood, indica que os tempos mudaram para uma rede bem conectada de astros que vêm dominando as comédias de Hollywood nos últimos anos, entre os quais Carrey, Ben Stiller, Owen Wilson, Will Ferrell, Jack Black, Vince Vaughn, Steve Carrell e os roteiristas e diretores Judd Apatow e Adam McKay.
Já há alguns anos, a chave para essa rede de talentos interconectados vinha sendo Stevens e seus subordinados na United Talent Agency, bem como os empresários Jimmy Miller e Eric Gold, que representam a maior parte desses artistas.
Agora, tudo isso pode estar chegando ao fim, em meio a acusações de manobras traiçoeiras e de difamação e ataques pessoais. Não só Stevens perdeu um de seus mais antigos e lucrativos clientes, Carrey, depois de ter perdido Ferrell em 2005, como, em julho, Miller e Gold dissolveram a sociedade que mantinham como empresários há 12 anos, dividindo os clientes. A exceção é Carrey, que os dois continuarão a atender como dupla. Embora o episódio sirva como novo exemplo da campanha agressiva da Creative Artists para atrair talentos, a mudança no mundo da comédia também faz parte de um movimento tectônico muito mais amplo que acontece em todo o setor de entretenimento. Os estúdios decidiram controlar os preços que estão dispostos a pagar pelos serviços de seus principais artistas e reduziram o número de filmes que produzem e distribuem.
Os estúdios vêm se opondo especialmente aos orçamentos das comédias mais recentes e às participações na bilheteria bruta que os artistas se acostumaram a receber. Em maio, a Fox decidiu cancelar "Used Guys", uma comédia futurista que seria estrelada por Ben Stiller e Jim Carrey, sob a direção de Jay Roach, alegando que o orçamento de US$ 112 milhões e as porcentagens que seriam destinadas aos artistas eram altos demais.
Pouco tempo depois, outra produção a ser estrelada por Carrey, "Ripley's Believe It or Not", foi suspensa, na Paramount, porque o estúdio protestou quando o orçamento ultrapassou os US$ 150 milhões e o astro passou a exigir mudanças no roteiro.
"No momento, o setor inteiro está atravessando essa grande nuvem de mudanças, e estamos todos tentando descobrir de que maneira agir", disse Gold em entrevista. "Por um lado, é excitante, e as oportunidades são muitas. Mas é um processo perturbador, e as pessoas estão assustadas, os estúdios um pouco perdidos, aliás todo mundo um pouco perdido."
Até recentemente, os artistas representados pela Gold/Miller Company, parte da Mosaic Media, e os talentos de comédia que tinham a United Talent como agência conseguiam se manter relativamente protegidos contra esse tipo de pressão.
O que agentes e empresários designavam como a "roda da comédia" conduziu com sucesso diversos atores a cachês de US$ 20 milhões por filme começando por Carrey, e depois Ferrell e Vaughn, além de ter criado muitas das comédias de maior sucesso que Hollywood lançou nos últimos anos.
Na recente temporada de verão, esse grupo de artistas respondeu por títulos como "Separados pelo Casamento", comédia romântica desenvolvida e estrelada por Vaughn; "Ricky Bobby -A Toda Velocidade", uma comédia sobre as corridas da categoria Nascar estrelada por Ferrell e escrita por ele e McKay; "Super Nacho", estrelada e co-produzida por Black; e "Dois é Bom, Três é Demais", estrelada e co-produzida por Owen Wilson.
A rede de talentos deu à United Talent e à Gold/Miller enorme influência. Miller, em especial, não hesitava em empregar a influência que os nomes de seus clientes lhe propiciavam. Ocasionalmente irritava os executivos dos estúdios ao sugerir, por exemplo, que o astro que ele representava não participaria do trabalho de promoção de um filme a menos que o roteiro fosse alterado, de acordo com pessoas que trabalharam com ele. E os projetos que oferecia eram muitas vezes apresentados na forma de pacotes que deviam ser aceitos ou recusados como um todo, sem participação dos estúdios na formulação.
Recentemente, alguns estúdios começaram a optar por recusar essas propostas, o que causou embaraços a certos clientes da United Talent. "Used Guys", que seria estrelado por Stiller e Carrey, estava a apenas algumas semanas do início das filmagens quando a decisão de cancelar o projeto foi tomada, e Carrey se irritou com a publicidade negativa gerada pelo caso. Este mês, a Fox adquiriu os direitos sobre o roteiro de "Used Guys", mas não informou Miller ou seu cliente, o diretor Jay Roach. Em lugar disso, a agente do roteirista de "Used Guys" teve de informar a Roach e Miller sobre a venda dos direitos, após eles perguntarem várias vezes sobre essa possibilidade.
"Eles ficaram arrasados" por saber que o roteiro havia sido comprado pela Fox, diz a agente. "Acredito que Jay esteja realmente incomodado, e lamento por isso." Carrey também se envolveu em uma disputa com o diretor Tim Burton quanto ao roteiro de "Ripley's Believe It or Not". Quando a Paramount suspendeu o projeto, Burton decidiu que filmaria "Sweeney Todd". Executivos familiarizados com o projeto de "Ripley's Believe It or Not" disseram que Carrey e Burton estão tentando resolver suas diferenças.


Tradução de PAULO MIGLIACCI

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