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Comediantes perdem força em estúdios
Hollywood decidiu controlar os salários de seus principais artistas e reduzir número de filmes que produzem e distribuem
Estúdios vêm se opondo aos orçamentos das comédias recentes e às participações na bilheteria bruta que os atores estão recebendo
SHARON WAXMAN
DO "NEW YORK TIMES", EM LOS ANGELES
Quando Jim Carrey pegou o
telefone e ligou para o seu agente, Nick Stevens, no mês passado, foi o fim de uma associação
longa e lucrativa.
O superastro da comédia ligou para Stevens, que o representou por 15 anos e orientou
seu sucesso -dos papéis que
ele fazia na série de TV "In Living Color" e em filmes como
"Ace Ventura" para a rarefeita
atmosfera dos cachês de US$
20 milhões-, com o objetivo de
informá-lo de que não precisava mais de seus serviços. Carrey
havia decidido substituí-lo pela
Creative Artists Agency, uma
das maiores empresas de representação de talentos.
A decisão, que gerou uma
tempestade de rumores em
Hollywood, indica que os tempos mudaram para uma rede
bem conectada de astros que
vêm dominando as comédias
de Hollywood nos últimos
anos, entre os quais Carrey,
Ben Stiller, Owen Wilson, Will
Ferrell, Jack Black, Vince
Vaughn, Steve Carrell e os roteiristas e diretores Judd Apatow e Adam McKay.
Já há alguns anos, a chave para essa rede de talentos interconectados vinha sendo Stevens e
seus subordinados na United
Talent Agency, bem como os
empresários Jimmy Miller e
Eric Gold, que representam a
maior parte desses artistas.
Agora, tudo isso pode estar
chegando ao fim, em meio a
acusações de manobras traiçoeiras e de difamação e ataques pessoais. Não só Stevens
perdeu um de seus mais antigos
e lucrativos clientes, Carrey,
depois de ter perdido Ferrell
em 2005, como, em julho, Miller e Gold dissolveram a sociedade que mantinham como
empresários há 12 anos, dividindo os clientes. A exceção é
Carrey, que os dois continuarão a atender como dupla.
Embora o episódio sirva como novo exemplo da campanha agressiva da Creative Artists para atrair talentos, a mudança no mundo da comédia
também faz parte de um movimento tectônico muito mais
amplo que acontece em todo o
setor de entretenimento. Os estúdios decidiram controlar os
preços que estão dispostos a
pagar pelos serviços de seus
principais artistas e reduziram
o número de filmes que produzem e distribuem.
Os estúdios vêm se opondo
especialmente aos orçamentos
das comédias mais recentes e
às participações na bilheteria
bruta que os artistas se acostumaram a receber. Em maio, a
Fox decidiu cancelar "Used
Guys", uma comédia futurista
que seria estrelada por Ben Stiller e Jim Carrey, sob a direção
de Jay Roach, alegando que o
orçamento de US$ 112 milhões
e as porcentagens que seriam
destinadas aos artistas eram altos demais.
Pouco tempo depois, outra
produção a ser estrelada por
Carrey, "Ripley's Believe It or
Not", foi suspensa, na Paramount, porque o estúdio protestou quando o orçamento ultrapassou os US$ 150 milhões e
o astro passou a exigir mudanças no roteiro.
"No momento, o setor inteiro
está atravessando essa grande
nuvem de mudanças, e estamos
todos tentando descobrir de
que maneira agir", disse Gold
em entrevista. "Por um lado, é
excitante, e as oportunidades
são muitas. Mas é um processo
perturbador, e as pessoas estão
assustadas, os estúdios um
pouco perdidos, aliás todo
mundo um pouco perdido."
Até recentemente, os artistas
representados pela Gold/Miller Company, parte da Mosaic
Media, e os talentos de comédia
que tinham a United Talent como agência conseguiam se
manter relativamente protegidos contra esse tipo de pressão.
O que agentes e empresários
designavam como a "roda da
comédia" conduziu com sucesso diversos atores a cachês de
US$ 20 milhões por filme começando por Carrey, e depois
Ferrell e Vaughn, além de ter
criado muitas das comédias de
maior sucesso que Hollywood
lançou nos últimos anos.
Na recente temporada de verão, esse grupo de artistas respondeu por títulos como "Separados pelo Casamento", comédia romântica desenvolvida
e estrelada por Vaughn; "Ricky
Bobby -A Toda Velocidade",
uma comédia sobre as corridas
da categoria Nascar estrelada
por Ferrell e escrita por ele e
McKay; "Super Nacho", estrelada e co-produzida por Black;
e "Dois é Bom, Três é Demais",
estrelada e co-produzida por
Owen Wilson.
A rede de talentos deu à United Talent e à Gold/Miller
enorme influência. Miller, em
especial, não hesitava em empregar a influência que os nomes de seus clientes lhe propiciavam. Ocasionalmente irritava os executivos dos estúdios ao
sugerir, por exemplo, que o astro que ele representava não
participaria do trabalho de promoção de um filme a menos
que o roteiro fosse alterado, de
acordo com pessoas que trabalharam com ele. E os projetos
que oferecia eram muitas vezes
apresentados na forma de pacotes que deviam ser aceitos ou
recusados como um todo, sem
participação dos estúdios na
formulação.
Recentemente, alguns estúdios começaram a optar por recusar essas propostas, o que
causou embaraços a certos
clientes da United Talent.
"Used Guys", que seria estrelado por Stiller e Carrey, estava a
apenas algumas semanas do
início das filmagens quando a
decisão de cancelar o projeto
foi tomada, e Carrey se irritou
com a publicidade negativa gerada pelo caso. Este mês, a Fox
adquiriu os direitos sobre o roteiro de "Used Guys", mas não
informou Miller ou seu cliente,
o diretor Jay Roach. Em lugar
disso, a agente do roteirista de
"Used Guys" teve de informar a
Roach e Miller sobre a venda
dos direitos, após eles perguntarem várias vezes sobre essa
possibilidade.
"Eles ficaram arrasados" por
saber que o roteiro havia sido
comprado pela Fox, diz a agente. "Acredito que Jay esteja
realmente incomodado, e lamento por isso."
Carrey também se envolveu
em uma disputa com o diretor
Tim Burton quanto ao roteiro
de "Ripley's Believe It or Not".
Quando a Paramount suspendeu o projeto, Burton decidiu
que filmaria "Sweeney Todd".
Executivos familiarizados com
o projeto de "Ripley's Believe It
or Not" disseram que Carrey e
Burton estão tentando resolver
suas diferenças.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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