São Paulo, quarta-feira, 30 de setembro de 2009

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China negocia 1/6 do petróleo nigeriano

País quer garantir acesso a reservas de 6 bilhões de barris no país africano em negócio que pode custar US$ 40 bi

Movimento ameaça múltis na Nigéria e segue estratégia chinesa de garantir a segurança energética para manter crescimento robusto

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

A China está negociando com o governo da Nigéria direitos de exploração de algumas das maiores jazidas de petróleo do país africano.
Segundo especialistas, o negócio deve ficar em torno de US$ 40 bilhões e garantir à potência asiática acesso a 6 bilhões de barris de petróleo , mais de um sexto de todas as reservas nigerianas comprovadas. O Brasil tem hoje reservas comprovadas de 14 bilhões.
A negociação foi revelada pela Nigéria, mas a estatal chinesa CNOOC, uma das três grandes companhias do setor no país, não confirma. Multinacionais como ExxonMobil, Chevron e Shell estão negociando a renovação de licenças de exploração em 16 jazidas, que agora recebem a oferta chinesa.
Várias jazidas continuam inexploradas, apesar das licenças, por causa de atentados terroristas de um movimento separatista em suas regiões.
Ao jornal "Financial Times", um assessor do presidente nigeriano Umaru Yar'adua confirmou que os chineses estão "oferecendo muito mais do que os atuais detentores das licenças oferecem" e que é "bom ver essa competição".
Após a repercussão, o ministro para o Petróleo, Odein Ajumogobia, tentou contemporizar, dizendo que o governo não está oferecendo as licenças atuais para a China, e que a oferta é para campos ainda inexplorados.
Mas confirmou que os chineses se interessaram por jazidas já exploradas pelas multinacionais, cuja renovação de licença está em negociação.
A competição da estatal chinesa com as gigantes ocidentais reafirma o desejo estratégico da China de garantir acesso às matérias-primas fundamentais para seu crescimento econômico, de cerca de 10% ao ano na última década.
A China já importa cerca de 4,5 milhões de barris/dia, 50% do petróleo que consome, número que deve dobrar até 2018.
O investimento em fontes de matérias-primas no exterior é uma das prioridades do Partido Comunista chinês e há verba e créditos alocados para esse fim no pacote de estímulo de US$ 580 bilhões lançado no ano passado.
A Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, o mais poderoso organismo de planejamento econômico chinês, decidiu subsidiar no mês passado os juros de empréstimos obtidos para a compra de minerais, como cobre, níquel, zinco, urânio e cromo, além de componentes para indústrias de energia renovável como solar e eólica.
A comissão não revelou os valores envolvidos nos subsídios.
Em maio, o presidente Lula assinou em Pequim acordo com a estatal chinesa Sinopec. A empresa ofereceu crédito de US$ 10 bilhões à Petrobras em troca de garantia de exportação de 200 mil barris diários nos próximos dez anos.
Há duas semanas, a China assinou acordo com a Venezuela, prometendo investir US$ 16 bilhões nos próximos três anos para explorar poços na bacia do Orinoco com parceria com a PDVSA, a estatal venezuelana.
No início de setembro, um acordo de US$ 1,6 bilhão foi assinado pelas estatais Sinopec e CNOOC para explorar campos em Angola. A China já tem parcerias com estatais no Irã e no Sudão.

Riscos
O investimento na Nigéria, que pode superar todos os anteriores, também é um dos mais arriscados. Parte dos blocos petrolíferos em negociação estão na área reclamada pelo Movimento pela Emancipação do Delta do rio Níger.
Os guerrilheiros separatistas dizem que a fortuna do petróleo não foi revertida para a área, uma das mais miseráveis do país.
Um porta-voz do movimento divulgou nota ontem afirmando que é contrário ao acordo com os chineses. "Eles são como gafanhotos na África, destruindo a terra em minutos", disse.
A Nigéria é o maior produtor de petróleo da África subsaariana e o 13º do mundo, além de ser importante fornecedor dos EUA. Mas, segundo a Agência Internacional de Energia, cerca de 500 mil barris diários deixam de ser produzidos por falta de segurança e atentados. Atualmente a Nigéria produz 1,8 milhão de barris por dia.


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