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China negocia 1/6 do petróleo nigeriano
País quer garantir acesso a reservas de 6 bilhões de barris no país africano em negócio que pode custar US$ 40 bi
Movimento ameaça múltis na Nigéria e segue estratégia chinesa de garantir a segurança energética para manter crescimento robusto
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
A China está negociando com
o governo da Nigéria direitos de
exploração de algumas das
maiores jazidas de petróleo do
país africano.
Segundo especialistas, o negócio deve ficar em torno de
US$ 40 bilhões e garantir à potência asiática acesso a 6 bilhões de barris de petróleo ,
mais de um sexto de todas as
reservas nigerianas comprovadas. O Brasil tem hoje reservas
comprovadas de 14 bilhões.
A negociação foi revelada pela Nigéria, mas a estatal chinesa
CNOOC, uma das três grandes
companhias do setor no país,
não confirma. Multinacionais
como ExxonMobil, Chevron e
Shell estão negociando a renovação de licenças de exploração
em 16 jazidas, que agora recebem a oferta chinesa.
Várias jazidas continuam
inexploradas, apesar das licenças, por causa de atentados terroristas de um movimento separatista em suas regiões.
Ao jornal "Financial Times",
um assessor do presidente nigeriano Umaru Yar'adua confirmou que os chineses estão
"oferecendo muito mais do que
os atuais detentores das licenças oferecem" e que é "bom ver
essa competição".
Após a repercussão, o ministro para o Petróleo, Odein Ajumogobia, tentou contemporizar, dizendo que o governo não
está oferecendo as licenças
atuais para a China, e que a
oferta é para campos ainda
inexplorados.
Mas confirmou que os chineses se interessaram por jazidas
já exploradas pelas multinacionais, cuja renovação de licença
está em negociação.
A competição da estatal chinesa com as gigantes ocidentais
reafirma o desejo estratégico
da China de garantir acesso às
matérias-primas fundamentais
para seu crescimento econômico, de cerca de 10% ao ano na
última década.
A China já importa cerca de
4,5 milhões de barris/dia, 50%
do petróleo que consome, número que deve dobrar até 2018.
O investimento em fontes de
matérias-primas no exterior é
uma das prioridades do Partido
Comunista chinês e há verba e
créditos alocados para esse fim
no pacote de estímulo de US$
580 bilhões lançado no ano
passado.
A Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, o
mais poderoso organismo de
planejamento econômico chinês, decidiu subsidiar no mês
passado os juros de empréstimos obtidos para a compra de
minerais, como cobre, níquel,
zinco, urânio e cromo, além de
componentes para indústrias
de energia renovável como solar e eólica.
A comissão não revelou os
valores envolvidos nos subsídios.
Em maio, o presidente Lula
assinou em Pequim acordo
com a estatal chinesa Sinopec.
A empresa ofereceu crédito de
US$ 10 bilhões à Petrobras em
troca de garantia de exportação
de 200 mil barris diários nos
próximos dez anos.
Há duas semanas, a China assinou acordo com a Venezuela,
prometendo investir US$ 16 bilhões nos próximos três anos
para explorar poços na bacia do
Orinoco com parceria com a
PDVSA, a estatal venezuelana.
No início de setembro, um
acordo de US$ 1,6 bilhão foi assinado pelas estatais Sinopec e
CNOOC para explorar campos
em Angola. A China já tem parcerias com estatais no Irã e no
Sudão.
Riscos
O investimento na Nigéria,
que pode superar todos os anteriores, também é um dos
mais arriscados. Parte dos blocos petrolíferos em negociação
estão na área reclamada pelo
Movimento pela Emancipação
do Delta do rio Níger.
Os guerrilheiros separatistas
dizem que a fortuna do petróleo não foi revertida para a área,
uma das mais miseráveis do
país.
Um porta-voz do movimento
divulgou nota ontem afirmando que é contrário ao acordo
com os chineses. "Eles são como gafanhotos na África, destruindo a terra em minutos",
disse.
A Nigéria é o maior produtor
de petróleo da África subsaariana e o 13º do mundo, além de
ser importante fornecedor dos
EUA. Mas, segundo a Agência
Internacional de Energia, cerca
de 500 mil barris diários deixam de ser produzidos por falta
de segurança e atentados.
Atualmente a Nigéria produz
1,8 milhão de barris por dia.
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