|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TURBULÊNCIA
Acordo dá "colchão" a país
FMI protege de choque externo, diz Fazenda
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo quer fazer um acordo preventivo com o FMI (Fundo
Monetário Internacional) para
criar um "colchão" de dólares que
acomode eventuais "turbulências
externas" em 2004. A principal
delas seria a elevação dos desequilíbrios entre as economias mais
desenvolvidas, o que teria impacto sobre o crescimento econômico brasileiro.
Outro problema está relacionado à própria recuperação da economia mundial, principalmente
da economia norte-americana,
segundo o secretário de Assuntos
Internacionais do Ministério da
Fazenda, Otaviano Canuto.
Um novo acordo com o Fundo,
de caráter preventivo, também teria a função de permitir que o país
abandone o monitoramento da
entidade de maneira gradual.
"Isso [novo acordo] foi sinalizado pelos mercados e por nós para
simplesmente ir criando uma
descompressão entre o acordo e o
período pós-FMI", afirmou Canuto. Essa estratégia ainda facilitaria a recomposição das reservas
internacionais.
Déficit dos EUA
Um estudo divulgado este mês
pela LCA Consultores afirma que
a situação econômica internacional ainda é bastante incerta. O
crescente déficit público norte-americano estaria pressionando
as taxas de juros de longo prazo,
dificultando a recuperação da atividade econômica naquele país.
Além disso, o dólar estaria tendo
seu valor sustentado por aquisições feitas por bancos centrais.
A perspectiva da consultoria é a
de que haja uma "correção" dos
desequilíbrios dentro de algum
tempo. Mas uma queda adicional
do dólar afetaria muito as economias européias e asiáticas por
causa das exportações para o
mercado norte-americano, que ficariam mais caras.
Canuto explicou que a tendência é a de que a cotação do dólar se
ajuste de forma gradual. "No futuro o problema de desempenho
comercial dos Estados Unidos
deixaria de ser tão preocupante
quanto é hoje."
Pilha de dinheiro
O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, não quis falar
ontem sobre valores para o novo
acordo, mas disse que o país não
necessita de "uma pilha enorme
de dinheiro". Ele lembrou que o
governo já tem US$ 33,5 bilhões
do FMI depositados nas reservas
do BC (Banco Central). "Nós temos um colchão, não precisamos
de uma coisa estratosférica."
Segundo reportagem publicada
pela Folha ontem, o governo quer
pedir ao FMI algo entre US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões.
Levy afirmou, porém, que não é
intenção do governo mexer nas
metas de superávit primário (economia de receitas para pagamento de juros). Para 2004, está prevista uma economia equivalente a
4,25% do PIB (Produto Interno
Bruto) para o setor público (governo federal, Estados, municípios e empresas estatais). "Não ficaríamos confortáveis com 3,5%
ou 3,75% do PIB", disse.
Apesar da segurança que um
novo acordo poderá dar aos mercados, Levy disse que o crescimento econômico não depende
disso. "O FMI pode oferecer um
ambiente em que as pessoas se
concentrem no que elas têm de fazer, mas não vamos transformar
o Fundo em um fetiche."
Argentina
Levy foi questionado sobre as
vantagens que estariam sendo negociadas no novo acordo, já que a
Argentina conseguiu metas fiscais e condições de pagamento
melhores em sua negociação com
o Fundo Monetário.
O governo argentino havia deixado de cumprir metas e até de
pagar parcelas dos empréstimos.
Segundo o secretário, porém, a
Argentina não obteve vantagem
nenhuma. "Eles só regularizaram
sua situação", disse.
Texto Anterior: Superávit até setembro supera meta para 2003 Próximo Texto: Consumo: Vendas de eletrônicos aumentam 20% Índice
|