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São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2003

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TURBULÊNCIA

Acordo dá "colchão" a país

FMI protege de choque externo, diz Fazenda

SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo quer fazer um acordo preventivo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) para criar um "colchão" de dólares que acomode eventuais "turbulências externas" em 2004. A principal delas seria a elevação dos desequilíbrios entre as economias mais desenvolvidas, o que teria impacto sobre o crescimento econômico brasileiro.
Outro problema está relacionado à própria recuperação da economia mundial, principalmente da economia norte-americana, segundo o secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Otaviano Canuto.
Um novo acordo com o Fundo, de caráter preventivo, também teria a função de permitir que o país abandone o monitoramento da entidade de maneira gradual.
"Isso [novo acordo] foi sinalizado pelos mercados e por nós para simplesmente ir criando uma descompressão entre o acordo e o período pós-FMI", afirmou Canuto. Essa estratégia ainda facilitaria a recomposição das reservas internacionais.

Déficit dos EUA
Um estudo divulgado este mês pela LCA Consultores afirma que a situação econômica internacional ainda é bastante incerta. O crescente déficit público norte-americano estaria pressionando as taxas de juros de longo prazo, dificultando a recuperação da atividade econômica naquele país. Além disso, o dólar estaria tendo seu valor sustentado por aquisições feitas por bancos centrais.
A perspectiva da consultoria é a de que haja uma "correção" dos desequilíbrios dentro de algum tempo. Mas uma queda adicional do dólar afetaria muito as economias européias e asiáticas por causa das exportações para o mercado norte-americano, que ficariam mais caras.
Canuto explicou que a tendência é a de que a cotação do dólar se ajuste de forma gradual. "No futuro o problema de desempenho comercial dos Estados Unidos deixaria de ser tão preocupante quanto é hoje."

Pilha de dinheiro
O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, não quis falar ontem sobre valores para o novo acordo, mas disse que o país não necessita de "uma pilha enorme de dinheiro". Ele lembrou que o governo já tem US$ 33,5 bilhões do FMI depositados nas reservas do BC (Banco Central). "Nós temos um colchão, não precisamos de uma coisa estratosférica."
Segundo reportagem publicada pela Folha ontem, o governo quer pedir ao FMI algo entre US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões.
Levy afirmou, porém, que não é intenção do governo mexer nas metas de superávit primário (economia de receitas para pagamento de juros). Para 2004, está prevista uma economia equivalente a 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto) para o setor público (governo federal, Estados, municípios e empresas estatais). "Não ficaríamos confortáveis com 3,5% ou 3,75% do PIB", disse.
Apesar da segurança que um novo acordo poderá dar aos mercados, Levy disse que o crescimento econômico não depende disso. "O FMI pode oferecer um ambiente em que as pessoas se concentrem no que elas têm de fazer, mas não vamos transformar o Fundo em um fetiche."

Argentina
Levy foi questionado sobre as vantagens que estariam sendo negociadas no novo acordo, já que a Argentina conseguiu metas fiscais e condições de pagamento melhores em sua negociação com o Fundo Monetário.
O governo argentino havia deixado de cumprir metas e até de pagar parcelas dos empréstimos. Segundo o secretário, porém, a Argentina não obteve vantagem nenhuma. "Eles só regularizaram sua situação", disse.


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