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ATA DA DISCÓRDIA
Para presidente, nota da Petrobras mostra oposição à política de juro
Lula desaprova rixa pública, mas gosta de bronca no BC
KENNEDY ALENCAR
EM SÃO PAULO
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva desaprovou o ataque da Petrobras anteontem ao Copom,
mas, na intimidade, demonstrou
satisfação com o "safanão político" que a estatal deu no Comitê de
Política Monetária. Ele está preocupado que uma forte elevação da
taxa de juros, como sinalizou o
Copom, interrompa a retomada
do crescimento econômico.
Para Lula, o lado ruim da polêmica é a exposição pública de divergências no governo a respeito
da política econômica de modo
geral e da taxa de juros em particular. O Copom é o órgão do BC
(Banco Central) que se reúne
mensalmente para fixar a taxa básica de juros da economia, a Selic,
hoje em 16,75% ao ano.
O lado que levou Lula a demonstrar satisfação em conversas
reservadas foi fazer o Copom sentir que setores fortes do governo
não estão satisfeitos com o que
consideram excesso de ortodoxia
do BC na fixação dos juros.
Apesar de apoiar o ministro da
Fazenda, Antonio Palocci Filho, e
de dar sinais de que confia nele, o
presidente tem reservas em relação ao Copom. Na própria equipe
de Palocci há aqueles que também
discordam de um suposto exagerado do BC na fixação dos juros e
na perseguição à meta de inflação.
Palocci, porém, prefere tratar
dessa divergência em absoluto sigilo, porque as considera naturais
e porque não deseja minar a credibilidade da política econômica.
Lula o apóia nesse sentido, mas
demonstrou insatisfação com a
ata do Copom por avaliar que ela
atemoriza os investidores e sinaliza que o crescimento previsto para 2005, da ordem de 3,5% do PIB
(Produto Interno Bruto), pode
não ser atingido.
Membros do governo que
apóiam Palocci nas disputas internas com um grupo mais afinado com as idéias do ministro José
Dirceu (Casa Civil) também demonstraram satisfação com a nota da Petrobras. A nota foi uma
reação à ata do Copom a respeito
da reunião da semana passada,
quando elevou os juros em 0,5
ponto percentual e contrariou Lula. A ata do órgão do BC criticou a
política de reajuste de preços dos
combustíveis da Petrobras.
A nota refletiu uma disputa entre os grupos de Palocci e de Dirceu. Palocci queria um reajuste
maior da gasolina do que o concedido há duas semanas (4% nas refinarias da estatal) e deseja que
um novo aumento ocorra o mais
breve possível. Já o presidente da
Petrobras, José Eduardo Dutra,
que se alia a Dirceu, atua por um
reajuste a conta-gotas.
Para o grupo de Palocci, a prioridade é a saúde financeira e a lucratividade da Petrobras. Isso reforçaria a credibilidade da política
econômica. Já a ala liderada por
Dirceu gostaria que a estatal fosse
usada como um instrumento de
política econômica e também como arma política, segurando preços na temporada eleitoral.
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