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Presidente do Ipea diz que os juros inviabilizam crescimento sustentado
RAFAEL CARIELLO
ENVIADO ESPECIAL A CAXAMBU
O sociólogo Glauco Arbix, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) -órgão ligado ao governo federal e
elaborador da política industrial
da gestão Luiz Inácio Lula da Silva-, disse anteontem à noite, em
Caxambu (MG), que "ninguém
sustenta crescimento com os juros que estão aí".
Arbix elogiava o atual ritmo de
crescimento da economia do país
e defendia a idéia de que os juros
não conseguiram inibir a arrancada, mas fez a ressalva. "Para sustentar, os juros vão ter que abaixar. Assim como vai ter que diminuir a carga tributária. Não tem
nem por onde", disse o sociólogo
durante debate no 28º Encontro
Anual da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais).
Sobre a redução da carga tributária, disse não ser tarefa fácil, comentando ainda a ineficiência do
Estado brasileiro. "Diminuição da
carga tributária significa diminuição do bolo estatal para tudo o
que o Estado faz. Ah, mas o Estado é ineficiente. Vai continuar por
um longo período -nossos netos, bisnetos."
Ele não deu prazo desejável para
a queda nem defendeu uma taxa
ideal. Mais tarde, no mesmo debate, disse concordar com outro
integrante da mesa, o economista
José Marcio Rêgo, da Fundação
Getúlio Vargas de São Paulo, que
havia criticado a taxa básica de juros praticada no país, afirmando
que ela inibe políticas industriais.
Arbix, no entanto, disse não
acreditar que o debate sobre juros
seja o mais importante nem que a
política industrial dependa dessa
discussão para acontecer.
"Posso até concordar com você
que os juros poderiam estar mais
baixos. Mas é uma discussão que
eu não saberia fazer. Não sou a
pessoa adequada para fazer", disse, acrescentando que "ninguém
no mundo" vai convencê-lo de
que juros na casa de "14,75% ou
13,75%" fariam com que o país estivesse "às mil maravilhas". A Selic (taxa básica fixada pelo governo) está em 16,75%.
E disse também, imitando um
suposto crítico da política econômica do governo Lula: ""Ah, porque o superávit primário é alto, é
um escândalo". Óbvio. Porque os
credores não se dispõem mais a
sustentar o país. Nem os externos
nem os internos. "Ah, por que o
Brasil não tem juros de Primeiro
Mundo?" Porque o Brasil não é
um país de Primeiro Mundo, não
vai ter nunca juros de primeiro
mundo. O credor não vai deixar".
O presidente do Ipea apresentou as características fundamentais de uma política industrial para o país, diferente do "dirigismo
estatista dos anos 60 e 70" e da
"fragmentação dos anos 90". Essa
política, ele disse, investirá em
produtos capazes de concorrer no
mercado internacional -citou
semicondutores, softwares, bens
de capital e medicamentos-,
mas será distante "da política que
beneficia os velhos grupos", como
o empresariado paulista.
Após afirmar que "estamos hoje
crescendo a mais de 7% ao ano",
que a vulnerabilidade externa é
menor e elogiar o atual ciclo de
crescimento como um dos mais
duradouros desde o Plano Real,
Arbix disse que a macroeconomia
impõe "entraves", "limitações" e
"constrangimentos totais muito
grandes... mas não impede que façamos política industrial".
Ontem, o ex-ministro das Comunicações do governo Fernando Henrique Cardoso, Luiz Carlos Mendonça de Barros, em outro debate na Anpocs, disse que o
projeto de política industrial do
governo Lula é mero "penduricalho" e que o grupo chefiado pelo
ministro Antonio Palocci Filho
(Fazenda) "não acredita em política industrial, em intervenção".
Sobre as taxas de juro, após criticar o modo como o Brasil vem se
inserindo na economia mundial,
disse que "o Copom vai subir
mais 2% os juros". "Se formos ler
corretamente a ata do Copom, é
mais 2%, 2,5%. Não adianta reclamar", declarou.
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