São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2008

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BC terá US$ 30 bi do Fed para agir no câmbio

Recursos estarão disponíveis até abril do ano que vem; uso dos dólares depende ainda de regulamentação do CMN

Operação é feita por meio da troca de moedas: o BC brasileiro recebe dólares do Fed e, em troca, entrega um valor equivalente de reais


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Federal Reserve anunciou ontem que colocou US$ 30 bilhões à disposição do Banco Central do Brasil para intervenções no mercado de câmbio. Pacotes do mesmo valor foram liberados pelo BC dos EUA para três outros países: Cingapura, Coréia do Sul e México.
A operação é feita por meio da troca de moedas: o BC brasileiro recebe dólares do Fed e, em troca, entrega montante equivalente de reais. Depois, a operação é desfeita, e os dólares voltam ao Fed. Não são cobrados juros na operação.
Os recursos estarão disponíveis para o Brasil até abril do ano que vem. O BC brasileiro, porém, informou ontem que ainda não decidiu se irá ou não usar os dólares oferecidos pelo Fed. Uma operação desse tipo só será possível devido a uma autorização dada pela medida provisória nº 443, baixada pelo governo na semana passada.
Na ocasião do anúncio da medida, o presidente do BC, Henrique Meirelles, havia dito que a iniciativa de mudar a legislação para permitir que o país tivesse acesso a esse tipo de socorro tinha apenas caráter "preventivo".
"Não existe essa necessidade no momento. É meramente um processo de antecipação de possíveis necessidades futuras, baseado no que estamos olhando na experiência internacional", afirmou Meirelles há uma semana.
Ontem, o presidente do BC fez um pronunciamento à imprensa, em que se recusou a responder perguntas e afirmou que o anúncio do acordo é importante porque representa "a inclusão formal do Brasil entre as economias que são sistemicamente importantes no mundo". "É um reconhecimento importante da qualidade da política econômica implementada no Brasil", completou.
Por meio de nota, o BC informou que os recursos servirão para "incrementar os fundos disponíveis para as operações de provisão de liquidez em dólares". Ou, em outras palavras, permitirão que o BC intervenha no mercado de câmbio sem gastar os dólares depositados nas reservas internacionais do país, hoje em US$ 203 bilhões.
Neste mês, o BC já colocou cerca de US$ 7 bilhões no mercado de câmbio, sendo que, desse valor, US$ 3,3 bilhões equivalem a vendas definitivas de dólar. O restante corresponde a leilões casados de compra e venda, em que os bancos são obrigados a revender ao BC os dólares adquiridos depois de um certo período de tempo.
A nota do BC diz ainda que o acordo do Brasil com o Fed "contribuirá para preservar o sistema financeiro nacional das restrições de liquidez no mercado financeiro internacional". A medida foi anunciada como parte da "estratégia de mitigação do impacto da crise financeira internacional sobre a economia brasileira".
Já o Fed divulgou um comunicado em que afirma que a decisão de oferecer os recursos para esse grupo de países visa "combater as dificuldades enfrentadas por economias sólidas e bem administradas para conseguir dólares".
Acordos semelhantes já foram fechados pelo Fed com os BCs de Austrália, Canadá, Dinamarca, Inglaterra, Nova Zelândia, Japão, Noruega, Suécia e Suíça, além do BC Europeu.
O BC já havia anunciado algumas medidas para tentar conter a alta do dólar. Para poder intervir no câmbio preservando as reservas internacionais, a atuação da instituição tem se concentrado nas chamadas operações de "swap cambial". Na semana passada, o BC já havia anunciado que estava disposto a colocar até US$ 50 bilhões desses contratos em circulação no mercado.
Embora esses contratos sejam negociados em reais, eles são corrigidos pela variação do câmbio e têm efeito semelhante ao de uma venda futura de dólares, ajudando a reduzir a pressão sobre a moeda.
Pelo contrato de "swap", o BC se compromete a pagar aos bancos que participam da operação toda a variação da cotação do dólar em determinado período. Em troca, recebe uma taxa de juros predeterminada.


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