São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 2000

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TENSÃO GLOBAL
Economia norte-americana resfria-se, o que não indica recessão, mas faz os países emergentes espirrarem
EUA têm o menor crescimento em 4 anos

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Há quatro anos a economia dos Estados Unidos não crescia tão pouco. Os lucros das empresas aumentaram no menor ritmo desde o final de 1998, os investimentos esfriaram e a construção de novos imóveis também. O nível de confiança dos consumidores caiu.
Não se trata de sinais de recessão. Nem de prova definitiva de pouso, suave ou brusco, da maior e mais produtiva economia do planeta. Mas os EUA esfriaram e os países emergentes espirram.
No terceiro trimestre deste ano, a economia dos EUA cresceu a um ritmo de 2,4%, anualizado (isto é, se o país produzisse o ano todo à mesma taxa do terceiro trimestre, seu PIB cresceria 2,4%).
Trata-se de uma forte queda em relação ao segundo trimestre, quando a expansão foi de 5,6%. No ano, o crescimento acumulado até setembro é de 5,3%.
Os lucros das empresas aumentaram 0,6%, contra 2,5% no segundo trimestre. O investimento em programas de informática e computadores ainda cresce, mas a uma velocidade 30% menor.
Os dados foram divulgados ontem pelo Departamento (ministério) do Comércio dos EUA. De pronto, indicam que a política de aumento de juros do banco central norte-americano (o Fed) estaria puxando as rédeas de uma economia que cresce há mais de nove anos. Sugerem também que pode haver motivo de preocupação para quem tomou ou toma empréstimos demais (dentro e fora dos EUA) e exporta para o mercado norte-americano.

Dívidas
"Nós tivemos um período de crescimento muito rápido, alimentado por crédito fácil, o que estimulou um monte de maus investimentos. A economia está ameaçada por um enorme aumento da dívida no setor privado, nos últimos dois ou três anos, com um monte de empresas endividadas até o pescoço", comenta Paul Kasriel, economista do Northern Trust, em Chicago.
Países emergentes, como o Brasil, especialmente os asiáticos, não dependem de maneira importante de exportações para os EUA. O Sudeste Asiático, exportador de componentes eletrônicos, depende do investimento norte-americano em tecnologia.
As dificuldades de empresas endividadas, ainda maiores com juros altos e vendas menores, fazem com que os emprestadores se tornem mais cautelosos, dentro e fora dos EUA, o que emperra novos investimentos e torna o crédito mais caro para países altamente dependente de capitais externos, como o Brasil.
Há economistas, porém, que não acreditam que tenha começado um ciclo de crédito escasso nos EUA, nem que a economia norte-americana vai parar, pelo menos enquanto houver ganhos de produtividade e inflação sob controle. No entanto, os ganhos de produtividade foram em boa parte baseados na renovação tecnológica, que ora perde força, com a queda nos investimentos no setor.

Juros altos?
De resto, alguns economistas começam a ficar preocupados se o Fed exagerou no aperto do crédito. O banco central manteve a inflação sob controle, sem no entanto reduzi-la.
Mas os investidores acreditam que os rendimentos futuros das empresas serão prejudicados por uma desaceleração do crescimento do país, o que provoca a venda das ações e baixas fortes nas Bolsas.
Esse temor, e os maus resultados de muitas empresas da nova economia, vêm promovendo quedas contínuas do Nasdaq. Se o índice terminar dezembro no nível atual, 2000 terá sido seu pior ano desde 1974, quando a desvalorização ficou em 35%.



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