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TENSÃO GLOBAL
Economia norte-americana resfria-se, o que não indica recessão, mas faz os países emergentes espirrarem
EUA têm o menor crescimento em 4 anos
DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
Há quatro anos a economia dos
Estados Unidos não crescia tão
pouco. Os lucros das empresas
aumentaram no menor ritmo
desde o final de 1998, os investimentos esfriaram e a construção
de novos imóveis também. O nível de confiança dos consumidores caiu.
Não se trata de sinais de recessão. Nem de prova definitiva de
pouso, suave ou brusco, da maior
e mais produtiva economia do
planeta. Mas os EUA esfriaram e
os países emergentes espirram.
No terceiro trimestre deste ano,
a economia dos EUA cresceu a
um ritmo de 2,4%, anualizado (isto é, se o país produzisse o ano todo à mesma taxa do terceiro trimestre, seu PIB cresceria 2,4%).
Trata-se de uma forte queda em
relação ao segundo trimestre,
quando a expansão foi de 5,6%.
No ano, o crescimento acumulado até setembro é de 5,3%.
Os lucros das empresas aumentaram 0,6%, contra 2,5% no segundo trimestre. O investimento
em programas de informática e
computadores ainda cresce, mas
a uma velocidade 30% menor.
Os dados foram divulgados ontem pelo Departamento (ministério) do Comércio dos EUA. De
pronto, indicam que a política de
aumento de juros do banco central norte-americano (o Fed) estaria puxando as rédeas de uma
economia que cresce há mais de
nove anos. Sugerem também que
pode haver motivo de preocupação para quem tomou ou toma
empréstimos demais (dentro e fora dos EUA) e exporta para o mercado norte-americano.
Dívidas
"Nós tivemos um período de
crescimento muito rápido, alimentado por crédito fácil, o que
estimulou um monte de maus investimentos. A economia está
ameaçada por um enorme aumento da dívida no setor privado,
nos últimos dois ou três anos,
com um monte de empresas endividadas até o pescoço", comenta
Paul Kasriel, economista do Northern Trust, em Chicago.
Países emergentes, como o Brasil, especialmente os asiáticos, não
dependem de maneira importante de exportações para os EUA. O
Sudeste Asiático, exportador de
componentes eletrônicos, depende do investimento norte-americano em tecnologia.
As dificuldades de empresas endividadas, ainda maiores com juros altos e vendas menores, fazem
com que os emprestadores se tornem mais cautelosos, dentro e fora dos EUA, o que emperra novos
investimentos e torna o crédito
mais caro para países altamente
dependente de capitais externos,
como o Brasil.
Há economistas, porém, que
não acreditam que tenha começado um ciclo de crédito escasso nos
EUA, nem que a economia norte-americana vai parar, pelo menos
enquanto houver ganhos de produtividade e inflação sob controle. No entanto, os ganhos de produtividade foram em boa parte
baseados na renovação tecnológica, que ora perde força, com a
queda nos investimentos no setor.
Juros altos?
De resto, alguns economistas
começam a ficar preocupados se
o Fed exagerou no aperto do crédito. O banco central manteve a
inflação sob controle, sem no entanto reduzi-la.
Mas os investidores acreditam
que os rendimentos futuros das
empresas serão prejudicados por
uma desaceleração do crescimento do país, o que provoca a venda
das ações e baixas fortes nas Bolsas.
Esse temor, e os maus resultados de muitas empresas da nova
economia, vêm promovendo
quedas contínuas do Nasdaq. Se o
índice terminar dezembro no nível atual, 2000 terá sido seu pior
ano desde 1974, quando a desvalorização ficou em 35%.
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