São Paulo, sexta-feira, 30 de novembro de 2007

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Rateio da BM&F limita pequeno investidor

Investidor pessoa física pediu reserva entre R$ 5.000 e R$ 300 mil, mas só levou R$ 1.820 em ações da Bolsa

Rateio reacende discussão sobre elevar oferta para pessoa física, hoje limitada a no máximo 20% da oferta pública inicial de ações

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

O pequeno investidor de varejo que fez pedido de reserva entre R$ 5.000 e R$ 300 mil para as novas ações da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) ficou com apenas R$ 1.820 em papéis, o equivalente a 91 ações por CPF, na operação de abertura de capital que mais despertou o interesse do investidor pessoa física. Como na oferta da Bovespa, quem foi considerado "sem prioridade" -aquele que vende as ações logo após o início das negociações- ficou sem ações.
Apostando em valorização rápida dos papéis, como aconteceu quando as ações da Bovespa subiram 52% já no primeiro dia de negociação, possivelmente mais de 200 mil pessoas teriam feito pedido de reserva de ações da BM&F. Os números finais sairão na próxima semana. A oferta da própria Bovespa teve adesão de 63.929 pessoas físicas. O mercado acionário brasileiro tem 310 mil contas de pessoa física.
As regras do Novo Mercado da Bovespa estabelecem que no mínimo 10% das ações ofertadas devem ir para o varejo. Esse percentual tem sido o teto na maioria das aberturas de capital. No caso da BM&F, o prospecto diz que entre 10% e 20% poderiam ir para o varejo. O restante dos papéis vai parar nos fundos e gestores de investimentos nacionais e estrangeiros, chamados investidores institucionais. O rateio abre a discussão sobre um aumento do percentual reservado para pessoa física, argumento utilizado pela Bovespa quando decidiu adotar o filtro contra pequenos especuladores de mercado. Com o filtro, a Bovespa afirmava que as empresas poderiam alocar um percentual maior para o investidor pessoa física, o que ainda não aconteceu.
Para o consultor Luiz Antonio Vaz das Neves, da KNA Consultores, o pequeno percentual reservado para o investidor de varejo explica a diminuição gradual da participação da pessoa física na Bovespa e o aumento dos estrangeiros e dos institucionais, que envolvem os fundos e gestores de recursos.
Em 2003, 26,2% dos negócios da Bovespa estavam nas mãos de pessoas físicas. O último dado de 2007 mostrava que 23,2% das transações eram de pessoa física. "10% são um cala-boca. Se não fosse a Bovespa, os bancos não dariam nada para o varejo. Não é a toa que a participação da pessoa física diminui."
Corretoras afirmam ter recebido em média 300 novos pedidos por dia de abertura de contas. Várias só aceitavam abrir novas contas até a sexta-feira da semana passada, alegando que precisavam de tempo para processar as informações e consultar serviços como o de proteção ao crédito. Uma das preocupações era a de fraude com investidor utilizando CPFs alheios.
Para o superintendente da Ancor (Associação Nacional das Corretoras), Gilberto Biojone, as corretoras não agiram com excesso de rigor e só atenderam às regras da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que pode responsabilizá-las em caso de omissão. Ele afirma que os interessados tiveram um prazo e que não podiam deixar a abertura para a última hora.
"Claro que sai frustrado [quem não conseguiu as ações]. Quem não conseguiu e acredita na empresa que compre [hoje].
É um pregão público. Se a motivação não é só o lucro de curto prazo, então compra", disse. "Ficou aquela sensação de que, se pouca gente soubesse, talvez eu teria levado mais. A festa não acabou, mas não dá para entrar em toda a festa.
Também nem todo o IPO é bom. Quem ficou com dinheiro sobrando deve ficar atento a outras operações. Se perceber uma forte queda na Bolsa, pode ser a hora de comprar", disse Marcos Crivelaro, da Fiap (Faculdade de Informática e Administração Paulista).
Para Ricardo Almeida, professor do Ibmec-SP, a pessoa física que ficou sem as ações pedidas não deve sair comprando papéis da BM&F antes de avaliar o comportamento do grande investidor, que terá o poder de alavancar ou não o preço dos papéis. Almeida lembra que, diferentemente da pessoa física, o investidor institucional pode ter sido atendido quase que na totalidade o seu pedido.
"Se vir que o institucional não está reagindo [comprando], pode desistir da idéia de entrar agora. Pior do que a frustração de ficar sem a ação seria a ação abrir com queda. Como [vetor] de popularização da Bolsa, o IPO foi um sucesso.
Muita gente que não tinha conta em corretora abriu", disse. "Descobrir que não tem dinheiro fácil é uma realidade benéfica para o mercado. Diminui o risco de euforia e de bolha. O interesse da pessoa física pela Bolsa cresceu exponencialmente no Brasil. O sucesso da Bovespa gerou uma demanda colossal pela BM&F. Cada vez mais a participação da pessoa física vai crescer, e o lançamento da BM&F se encaixa nisso", disse Ricardo Amorim, diretor do banco WestLB.
No IPO da Bovespa Holding, os estrangeiros ficaram com 78% da oferta. Dessa parcela, os investidores com base na Inglaterra ficaram com a maior fatia (40%), seguidos pelos alocados nos EUA, que levaram 37%.


Colaborou FABRICIO VIEIRA, da Reportagem Local


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