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Lucro do BNDES pode capitalizar o banco
Dinheiro que hoje vai para o Tesouro para engordar superávit primário atenderia a demanda maior por financiamento
Paulo Bernardo diz que mudança depende de aprovação da CPMF; estimativa é que medida engorde capital em R$ 8 bi
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo pretende abrir
mão de parte do lucro do
BNDES que iria para os cofres
do Tesouro Nacional para capitalizar o banco e aumentar a capacidade de a instituição fazer
empréstimos no ano que vem.
Segundo o ministro Paulo Bernardo (Planejamento), a estimativa é que cerca de R$ 8 bilhões sejam usados com essa finalidade. Os recursos referem-se a lucros apurados pelo banco
federal em 2006 e 2007.
A proposta, no entanto, só será efetivada se o governo conseguir aprovar a prorrogação da
CPMF. "Preciso saber se financeiramente vai ser possível. Se
vou estar com as minhas contas
em ordem. Querem reaplicar
esse dinheiro em investimentos, para chegar ao total que o
BNDES almeja para o ano que
vem. Mas se eu perder uma receita muito importante, não
posso abrir mão desse dinheiro", comentou Bernardo.
O pedido foi feito pelo próprio BNDES e faz parte da engenharia financeira sendo
montada pelo presidente do
banco, Luciano Coutinho, para
aumentar a atuação da instituição em 2008. Segundo ele, o
BNDES acumula demanda de
financiamentos de cerca de R$
80 bilhões, mas o banco só tem
R$ 50 bilhões para emprestar.
Com isso, nas últimas semanas, os técnicos do governo
buscam alternativas para que o
BNDES possa alavancar mais
financiamentos. Além de usar
parte do próprio lucro, outra
proposta prevê o uso de cerca
de US$ 10 bilhões de recursos
que sobram no mercado de
câmbio e engordam as reservas
internacionais do país para
operações de financiamento do
banco no exterior.
Apesar da resistência do
Banco Central, essa proposta
está sendo estudada pelos técnicos da Fazenda e do BC por
determinação do presidente
Luiz Inácio Lula Silva. Mostrando interesse em ajudar o
BNDES,Bernardo admite que
esse é um projeto de governo.
"A orientação que o presidente
nos deu foi de ajudarmos o
BNDES nesse esforço de ampliar o financiamento para as
empresas. Queremos alavancar
o crescimento. Queremos ajudar, mas temos que fechar as
contas", insistiu o ministro.
O BNDES, assim como as
instituições financeiras controladas pela União, como o BB
e a Caixa, têm sido responsáveis por boa parte do superávit
primário (economia feita para
pagar juros da dívida).
Por determinação do governo, as instituições elevaram a
parcela de recursos repassada
aos cofres da União em função
do lucro apurado nos anos anteriores. Com isso, ajudaram a
engordar as receitas em períodos mais difíceis.
No ano passado, o BNDES repassou R$ 3,041 bilhões ao Tesouro. Neste ano, até outubro, o
total de repasses já soma R$
923,6 milhões. O BNDES tem
até três anos para pagar os dividendos de cada ano ao Tesouro.
O repasse mínimo é de 25%.
Mas pode chegar a até 95%. Os
5% restantes do lucro vão para
o fundo de reserva social.
A estimativa do BNDES é de
gerar R$ 4 bilhões em dividendos neste ano. Nos últimos oito
anos, a média de repasse de dividendos foi de 55,4% do lucro
líquido. Em 2005, foram 71%.
(com Sheila D'Amorim e Valdo Cruz)
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