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OPINIÃO ECONÔMICA
Onde o macroeconomista errou em 1997
GUILHERME DA NÓBREGA
Para os profissionais que militam na análise macroeconômica,
1997 foi um ano difícil. São jornalistas, cientistas políticos e, é claro,
economistas que se dedicam a estudar temas como PIB, contas públicas, inflação, juros, câmbio e
balanço de pagamentos. A partir
de conceitos aprendidos na escola
e raciocínios desenvolvidos no
dia-a-dia, traçam cenários para as
chamadas variáveis macroeconômicas.
Cenários não são certezas e, por
isso, estão sempre sujeitos a erro.
A pergunta é: por que erram mais
em um ano do que em outro?
Em 1997, os macroeconomistas
começaram a errar em janeiro. No
primeiro bimestre, os déficits comerciais foram o dobro do previsto pela maioria dos bons analistas.
Ao longo do ano, os erros de previsão na balança foram constantes. Até agosto ou setembro, pouca
gente arriscaria sua carreira estimando um déficit comercial abaixo de US$ 10 bilhões em 1997, como efetivamente teremos.
Na área de inflação, os preços subiram quase sempre menos do que
apontavam as mais bem cuidadas
projeções. Já na atividade econômica, achou-se que a economia tinha começado o ano em ritmo
mais forte do que realmente se verificou.
No ambiente interno, o colapso
financeiro dos Tigres asiáticos foi
um tombo ainda maior. Do dia para a noite, esses países antes invejados passaram a vilões irresponsáveis. Suas possantes economias
passaram a quimeras amparadas
em regimes políticos opacos. A
América Latina -quem diria-
virou exemplo de modelo econômico bem-sucedido.
Dificilmente um macroeconomista poderia perceber a crise que
se avizinhava na Coréia e nos demais Tigres. Em retrospectiva, o
Sudeste Asiático sofre as dores da
passagem para a vida adulta, em
que os mecanismos que fizeram
seu crescimento acelerado são insuficientes para gerir suas agora
complexas economias.
Um dia, teriam de confrontar
seus dilemas. O difícil era saber
quando isso ocorreria e, após a crise, lidar com a violência das rupturas que desfizeram cenários antes
consensuais.
Macroeconomistas erram porque lidam com uma realidade
complexa a partir de modelos incompletos. O avanço da teoria macroeconômica tem sido bem mais
lento do que a análise da conjuntura exige. É enorme a interação
com fatores políticos ou puramente casuais. E a globalização aumenta a dificuldade, ao forçar o
analista a fazer juízos sobre muitas
realidades diferentes.
Como a velocidade de resposta
exigida é altíssima, é necessária
uma grande dose de bom senso
nas inevitáveis improvisações, como foi o caso das primeiras análises sobre a Ásia que apareceram
após a crise.
Em 1998, a vida do macroeconomista continuará difícil. Reverberam ainda as ondas do terremoto
financeiro mundial do final de
1997, e há dúvidas sobre seu impacto no lado real das economias.
Na Ásia e no resto do mundo, o
principal trabalho será separar o
que é conjuntural do que é permanente, para compreender o verdadeiro impacto sobre o resto do
mundo e o Brasil.
Esses desenvolvimentos externos terão enorme importância para os rumos da economia brasileira no ano que se inicia. Se puderem aprimorar sua capacidade de
examinar tendências econômicas
e políticas mundiais e avançar
mais ainda na compreensão da
nova economia brasileira, os macroeconomistas terão condições
de acertar mais em 1998.
Guilherme da Nóbrega, 31, economista pela
London School of Economics, é sócio da Tendências Consultoria Integrada.
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