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PREÇOS
Arroz, feijão, carne e salada ficam 24% mais caros e eles se tornam os "vilões" do bolso do consumidor em 2001
"Prato feito" sobe o triplo da inflação no ano
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O brasileiro pagou mais pela refeição de cada dia neste ano. Um
prato popular que inclui arroz,
feijão, carne e salada custa hoje
24% a mais do que há um ano.
Ao incluir nessa conta o pedido
de uma água mineral, para acompanhar o prato, foi preciso pagar
14% a mais, segundo dados da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
No mesmo período, a inflação
medida pela instituição foi bem
menor: atingiu 7,15%.
O arroz e o feijão dispararam de
preço e tornaram-se os vilões do
prato do brasileiro neste ano. Foram os dois itens que mais pressionaram o bolso do consumidor
em 2001.
O arroz teve aumento de 41,5%
de dezembro de 2000 até novembro deste ano -a terceira maior
variação entre os 197 itens alimentícios analisados pela pesquisa. O produto só perde para o óleo
de soja (49,4%) e a mandioquinha
(43%).
Já o feijão teve aumento de
31,4% no mesmo período. A elevação acabou tornando a cesta
básica mais cara nas capitais do
país. Juntos, o arroz e o feijão correspondem a quase 11% do preço
final da cesta básica -que custa
hoje cerca de R$ 155.
Oferta menor
A elevação no preço desses itens
foi tamanha que pode até ser
comparada com o reajuste acumulado dos produtos desde o início do Plano Real. Em sete anos
(de julho de 1994 a julho de 2001)
o arroz registrou alta de 41,67%,
praticamente o mesmo aumento
apurado apenas neste ano.
A razão para essa disparada está
na redução da oferta dos produtos no país. Houve queda de até
57% na produção de feijão em alguns Estados. Isso ocorreu devido
à estiagem prolongada em Minas
Gerais e na Bahia, segundo dados
do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Sócio-Econômicos).
No caso do arroz, houve redução na importação do produto da
Argentina e do Uruguai. A alta do
dólar encareceu fortemente o
produto, inviabilizando sua compra. Se em janeiro o pacote do arroz (tipo 2) custava R$ 3,73, neste
mês já está custando R$ 5,08.
Ao cruzar esses dados com informações da POF (Pesquisa de
Orçamento Familiar) do IBGE, é
possível verificar quem mais saiu
perdendo com essa subida nos
preços. Os maiores consumidores
da dupla arroz-feijão moram nas
regiões Norte e Nordeste.
As populações de Belém e de
Fortaleza gastam porcentagens
maiores do salário mínimo para
comprar esses produtos do que os
moradores de Curitiba e do Rio
de Janeiro.
Logo, a população daqueles Estados sentiu de forma mais considerável essa elevação no preço das
mercadorias.
Na opinião de Heron do Carmo,
coordenador da Fipe, uma série
de fatores positivos vai impedir
nova disparada nos preços no
próximo ano.
Ele não espera elevação brutal
na cotação do dólar e acredita que
o país terá boa safra agrícola, especialmente de arroz e de feijão. E
isso colaborará para a contenção
nos preços dos gêneros alimentícios.
"Esse cenário de disparada no
valor de alguns itens, como arroz
e feijão, não deve se repetir."
Sai a carne, entra o frango
A inflação acumulada nos últimos 12 meses está em 7,14%, mas
o preço da carne bovina sofreu
reajustes superiores. O valor do
produto subiu, em média, 9%.
Essa elevação foi motivada por
razões especulativas. Devido à
queda no preço da arroba, muitos
pecuaristas reduziram a oferta de
carne, fazendo com que o preço
subisse.
O frango, eleito no passado como símbolo do Plano Real, causou boa surpresa, caindo 4% no
ano, segundo dados da Fipe.
A má notícia, porém, fica por
conta do pão francês, que sofreu
aumento de quase 22% nos últimos 12 meses.
Os importadores de trigo tiveram que arcar com forte aumento
nos custos, que foi parar nas contas das padarias do país. Como todo o insumo para a fabricação do
pão é importado, o preço do produto subiu velozmente após a valorização do dólar.
Só a farinha de trigo subiu
33,8% no ano, segundo o Dieese.
Resultado: o pãozinho custa hoje,
nas padarias de São Paulo, até R$
0,25, contra R$ 0,15 em janeiro.
Café menos amargo
O pão pode ter ficado mais caro,
o que acabou tornando mais
amargo o preço do café da manhã, mas o café com leite não subiu tanto de preço.
Pelas contas da Fipe, o café em
pó ficou mais barato neste ano
(19,5%). E o leite sofreu pequena
alta (de 0,2%) em relação ao ano
passado. Logo, se ficou cada vez
mais difícil pagar o almoço, o café
da manhã não subiu tanto de preço, pelas contas dos técnicos.
A possibilidade de substituir o
arroz e feijão pelo macarrão, para
tentar escapar desses aumentos,
não deu resultado. O produto registrou aumento de 18,7% nos últimos 12 meses. A alta ainda é menor que o aumento do arroz, por
exemplo, mas também é uma elevação considerável se comparada
com a inflação do período (7,1%).
Se incluir nessa refeição o pedido de uma sobremesa, como uma
fruta ou doce, a conta sofre acréscimo de até 15%, de acordo com
os dados da Fipe.
Mais gastos
Além dos altos custos com as refeições, o brasileiro também teve
que arcar neste ano com gastos
elevados com tarifas e manutenção do veículo.
O preço da eletricidade apresentou aumento de 27,3% de dezembro de 2000 a novembro de 2001.
A água sofreu reajuste de 12,8%.
Para 2002, a Fipe prevê inflação
próxima de 4,5%. Portanto não
acredita numa pressão forte por
conta dessas tarifas.
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