São Paulo, domingo, 30 de dezembro de 2001

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PREÇOS

Arroz, feijão, carne e salada ficam 24% mais caros e eles se tornam os "vilões" do bolso do consumidor em 2001

"Prato feito" sobe o triplo da inflação no ano

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O brasileiro pagou mais pela refeição de cada dia neste ano. Um prato popular que inclui arroz, feijão, carne e salada custa hoje 24% a mais do que há um ano.
Ao incluir nessa conta o pedido de uma água mineral, para acompanhar o prato, foi preciso pagar 14% a mais, segundo dados da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
No mesmo período, a inflação medida pela instituição foi bem menor: atingiu 7,15%.
O arroz e o feijão dispararam de preço e tornaram-se os vilões do prato do brasileiro neste ano. Foram os dois itens que mais pressionaram o bolso do consumidor em 2001.
O arroz teve aumento de 41,5% de dezembro de 2000 até novembro deste ano -a terceira maior variação entre os 197 itens alimentícios analisados pela pesquisa. O produto só perde para o óleo de soja (49,4%) e a mandioquinha (43%).
Já o feijão teve aumento de 31,4% no mesmo período. A elevação acabou tornando a cesta básica mais cara nas capitais do país. Juntos, o arroz e o feijão correspondem a quase 11% do preço final da cesta básica -que custa hoje cerca de R$ 155.

Oferta menor
A elevação no preço desses itens foi tamanha que pode até ser comparada com o reajuste acumulado dos produtos desde o início do Plano Real. Em sete anos (de julho de 1994 a julho de 2001) o arroz registrou alta de 41,67%, praticamente o mesmo aumento apurado apenas neste ano.
A razão para essa disparada está na redução da oferta dos produtos no país. Houve queda de até 57% na produção de feijão em alguns Estados. Isso ocorreu devido à estiagem prolongada em Minas Gerais e na Bahia, segundo dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos).
No caso do arroz, houve redução na importação do produto da Argentina e do Uruguai. A alta do dólar encareceu fortemente o produto, inviabilizando sua compra. Se em janeiro o pacote do arroz (tipo 2) custava R$ 3,73, neste mês já está custando R$ 5,08.
Ao cruzar esses dados com informações da POF (Pesquisa de Orçamento Familiar) do IBGE, é possível verificar quem mais saiu perdendo com essa subida nos preços. Os maiores consumidores da dupla arroz-feijão moram nas regiões Norte e Nordeste.
As populações de Belém e de Fortaleza gastam porcentagens maiores do salário mínimo para comprar esses produtos do que os moradores de Curitiba e do Rio de Janeiro.
Logo, a população daqueles Estados sentiu de forma mais considerável essa elevação no preço das mercadorias.
Na opinião de Heron do Carmo, coordenador da Fipe, uma série de fatores positivos vai impedir nova disparada nos preços no próximo ano.
Ele não espera elevação brutal na cotação do dólar e acredita que o país terá boa safra agrícola, especialmente de arroz e de feijão. E isso colaborará para a contenção nos preços dos gêneros alimentícios.
"Esse cenário de disparada no valor de alguns itens, como arroz e feijão, não deve se repetir."

Sai a carne, entra o frango
A inflação acumulada nos últimos 12 meses está em 7,14%, mas o preço da carne bovina sofreu reajustes superiores. O valor do produto subiu, em média, 9%.
Essa elevação foi motivada por razões especulativas. Devido à queda no preço da arroba, muitos pecuaristas reduziram a oferta de carne, fazendo com que o preço subisse.
O frango, eleito no passado como símbolo do Plano Real, causou boa surpresa, caindo 4% no ano, segundo dados da Fipe.
A má notícia, porém, fica por conta do pão francês, que sofreu aumento de quase 22% nos últimos 12 meses.
Os importadores de trigo tiveram que arcar com forte aumento nos custos, que foi parar nas contas das padarias do país. Como todo o insumo para a fabricação do pão é importado, o preço do produto subiu velozmente após a valorização do dólar.
Só a farinha de trigo subiu 33,8% no ano, segundo o Dieese. Resultado: o pãozinho custa hoje, nas padarias de São Paulo, até R$ 0,25, contra R$ 0,15 em janeiro.

Café menos amargo
O pão pode ter ficado mais caro, o que acabou tornando mais amargo o preço do café da manhã, mas o café com leite não subiu tanto de preço.
Pelas contas da Fipe, o café em pó ficou mais barato neste ano (19,5%). E o leite sofreu pequena alta (de 0,2%) em relação ao ano passado. Logo, se ficou cada vez mais difícil pagar o almoço, o café da manhã não subiu tanto de preço, pelas contas dos técnicos.
A possibilidade de substituir o arroz e feijão pelo macarrão, para tentar escapar desses aumentos, não deu resultado. O produto registrou aumento de 18,7% nos últimos 12 meses. A alta ainda é menor que o aumento do arroz, por exemplo, mas também é uma elevação considerável se comparada com a inflação do período (7,1%).
Se incluir nessa refeição o pedido de uma sobremesa, como uma fruta ou doce, a conta sofre acréscimo de até 15%, de acordo com os dados da Fipe.

Mais gastos
Além dos altos custos com as refeições, o brasileiro também teve que arcar neste ano com gastos elevados com tarifas e manutenção do veículo.
O preço da eletricidade apresentou aumento de 27,3% de dezembro de 2000 a novembro de 2001. A água sofreu reajuste de 12,8%. Para 2002, a Fipe prevê inflação próxima de 4,5%. Portanto não acredita numa pressão forte por conta dessas tarifas.


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