São Paulo, segunda-feira, 30 de dezembro de 2002

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TRANSIÇÃO ECONÔMICA

Para indústria e varejo, o ano que vem deve apresentar resultados piores ou iguais aos de 2002

Cautela é a palavra de ordem para 2003

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Serão necessários 120 dias -quatro meses-para os setores industriais e o varejo reverem as previsões conservadoras de desempenho para 2003. Essa "trégua" será dada até que sinais substanciais sobre os resultados da economia se apresentem, informam líderes de segmentos ouvidos pela Folha.
"Ainda é preciso aguardar um período para ver como o mercado consumidor reage aos primeiros meses de novo governo. Nossa economia é uma caixinha de surpresas", diz Marcos Augusto de Abreu, coordenador de análise setorial da Serasa (Centralização de Serviços Bancários).
"Pelo desempenho de janeiro e fevereiro não dá para saber muita coisa, é preciso dar mais um ou dois meses para ter maior clareza dos fatos", diz Denis Ribeiro, economista da Abia, entidade que representa a indústria alimentícia.
A cautela é reflexo do fato de que ninguém cresceu o que esperava em 2002. E, para não repetir a dose em 2003, as previsões de expansão são tímidas e só serão revistas mais à frente.

Expectativa em baixa
Há empresários prevendo crescimento zero no próximo ano, em relação a 2002. Setores fortemente exportadores também controlaram o ânimo. Como temem um mercado externo menos comprador, frearam expectativas.
Pelas contas do IBS (Instituto Brasileiro de Siderurgia), a produção neste ano de aço, se dezembro repetir o mês anterior, não passará de 29,5 mil toneladas, o que representará uma expansão do setor de pouco mais de 6% sobre 2001.
Uma taxa inferior ao que se esperava (até 10%), mas elevada quando comparada a outros setores da economia, como o automobilístico, por exemplo. Para 2003, analistas de mercado que estudam o setor siderúrgico não crêem numa produção superior a 30 mil ou 31 mil toneladas -que resultará num crescimento médio de 3,5% em 2003 sobre 2002.
"A produção foi recorde neste ano e a questão é saber se em 2003 o mercado externo estará demandando produto. Acreditamos que a produção no próximo ano fique na casa das 30 mil toneladas, perto da alcançada em 2002", afirma David Wong, gerente da consultoria Booz Allen Hamilton.
No caso do setor automobilístico -que é comprador de aço no país-, o cenário é muito mais desanimador. A produção de veículos não ultrapassará 1,8 milhão de unidades em 2002, o mesmo número de 2001. A exportação, que deveria atingir US$ 4,5 bilhões como se previa, foi revista para US$ 4 bilhões -número que já estava difícil de ser atingido, de acordo com os resultados de novembro. O valor é 2% inferior ao alcançado em 2001, informa a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).

Esperança
Para 2003, nada muda. Empresários do setor, ligados à Anfavea, esperam expansão zero na produção no ano que começa. A exportação deve crescer US$ 200 milhões no período.
As saídas para 2003: mercado mexicano -que fechou acordo bilateral com o Brasil neste final de ano-, as vendas ao Chile e a chance de uma leve retomada no mercado argentino. "As exportações serão nossa pauta mais importante", diz Ricardo Carvalho, presidente da Anfavea.
Foi essa a cartilha usada pela indústria de alimentos em 2002 e pode ajudar nos resultados de 2003. Só a receita operacional da Sadia, em novembro, cresceu 74% sobre 2001. Para o mercado interno, tímida alta de 11%.
Se continuar nesse patamar, a Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos) acredita que esse mercado crescerá de 3% a 3,5% no ano que vem -a mesma variação esperada para o PIB (Produto Interno Bruto).
Essa era a mesma taxa prevista para 2002 -porém não alcançada. Isso porque o setor crescerá em 2002 algo em torno de 2,2%. É menos que o esperado, mas nada mal se compararmos o resultado com o de outros segmentos. "Temos de agradecer", diz Denis Ribeiro, economista da Abia.

Comércio
O comércio em geral no país, por exemplo, deve acumular queda no faturamento real de 2,6% em 2002, informa a Serasa (Centralização de Serviços Bancários). Para 2003, a Fecomércio não espera elevação do faturamento maior do que 1,5%.
Na comparação com a indústria em geral, o setor de alimentos também se destaca. No início deste ano, a previsão da Fiesp, entidade que representa a indústria paulista, era de que a produção industrial das empresas cresceria 2,5%. A previsão foi revista três vezes: primeiro para algo em torno de 1,5% a 2%; depois, para 1%. Agora, em dezembro, já fala-se em retração de 1%.
O desempenho dos setores industriais está diretamente ligado aos indicadores básicos como taxa de juros -que é parâmetro para o juro cobrado nas vendas ao consumidor- renda, desemprego e dólar.
Renda em elevação ajuda, porém não há a menor expectativa de recuperação na renda em 2003, na visão dos economistas. O mesmo vale para reversão nos empregos perdidos em 2002 -até novembro, só a indústria paulista fechou 61,4 mil postos de trabalho, recorde desde 1999.


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