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TRANSIÇÃO ECONÔMICA
Para indústria e varejo, o ano que vem deve apresentar resultados piores ou iguais aos de 2002
Cautela é a palavra de ordem para 2003
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Serão necessários 120 dias
-quatro meses-para os setores
industriais e o varejo reverem as
previsões conservadoras de desempenho para 2003. Essa "trégua" será dada até que sinais
substanciais sobre os resultados
da economia se apresentem, informam líderes de segmentos ouvidos pela Folha.
"Ainda é preciso aguardar um
período para ver como o mercado
consumidor reage aos primeiros
meses de novo governo. Nossa
economia é uma caixinha de surpresas", diz Marcos Augusto de
Abreu, coordenador de análise
setorial da Serasa (Centralização
de Serviços Bancários).
"Pelo desempenho de janeiro e
fevereiro não dá para saber muita
coisa, é preciso dar mais um ou
dois meses para ter maior clareza
dos fatos", diz Denis Ribeiro, economista da Abia, entidade que representa a indústria alimentícia.
A cautela é reflexo do fato de
que ninguém cresceu o que esperava em 2002. E, para não repetir a
dose em 2003, as previsões de expansão são tímidas e só serão revistas mais à frente.
Expectativa em baixa
Há empresários prevendo crescimento zero no próximo ano, em
relação a 2002. Setores fortemente
exportadores também controlaram o ânimo. Como temem um
mercado externo menos comprador, frearam expectativas.
Pelas contas do IBS (Instituto
Brasileiro de Siderurgia), a produção neste ano de aço, se dezembro repetir o mês anterior, não
passará de 29,5 mil toneladas, o
que representará uma expansão
do setor de pouco mais de 6% sobre 2001.
Uma taxa inferior ao que se esperava (até 10%), mas elevada
quando comparada a outros setores da economia, como o automobilístico, por exemplo. Para 2003,
analistas de mercado que estudam o setor siderúrgico não
crêem numa produção superior a
30 mil ou 31 mil toneladas -que
resultará num crescimento médio
de 3,5% em 2003 sobre 2002.
"A produção foi recorde neste
ano e a questão é saber se em 2003
o mercado externo estará demandando produto. Acreditamos que
a produção no próximo ano fique
na casa das 30 mil toneladas, perto da alcançada em 2002", afirma
David Wong, gerente da consultoria Booz Allen Hamilton.
No caso do setor automobilístico -que é comprador de aço no
país-, o cenário é muito mais desanimador. A produção de veículos não ultrapassará 1,8 milhão de
unidades em 2002, o mesmo número de 2001. A exportação, que
deveria atingir US$ 4,5 bilhões como se previa, foi revista para US$
4 bilhões -número que já estava
difícil de ser atingido, de acordo
com os resultados de novembro.
O valor é 2% inferior ao alcançado
em 2001, informa a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).
Esperança
Para 2003, nada muda. Empresários do setor, ligados à Anfavea,
esperam expansão zero na produção no ano que começa. A exportação deve crescer US$ 200 milhões no período.
As saídas para 2003: mercado
mexicano -que fechou acordo
bilateral com o Brasil neste final
de ano-, as vendas ao Chile e a
chance de uma leve retomada no
mercado argentino. "As exportações serão nossa pauta mais importante", diz Ricardo Carvalho,
presidente da Anfavea.
Foi essa a cartilha usada pela indústria de alimentos em 2002 e
pode ajudar nos resultados de
2003. Só a receita operacional da
Sadia, em novembro, cresceu
74% sobre 2001. Para o mercado
interno, tímida alta de 11%.
Se continuar nesse patamar, a
Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos) acredita
que esse mercado crescerá de 3%
a 3,5% no ano que vem -a mesma variação esperada para o PIB
(Produto Interno Bruto).
Essa era a mesma taxa prevista
para 2002 -porém não alcançada. Isso porque o setor crescerá
em 2002 algo em torno de 2,2%. É
menos que o esperado, mas nada
mal se compararmos o resultado
com o de outros segmentos. "Temos de agradecer", diz Denis Ribeiro, economista da Abia.
Comércio
O comércio em geral no país,
por exemplo, deve acumular queda no faturamento real de 2,6%
em 2002, informa a Serasa (Centralização de Serviços Bancários).
Para 2003, a Fecomércio não espera elevação do faturamento
maior do que 1,5%.
Na comparação com a indústria
em geral, o setor de alimentos
também se destaca. No início deste ano, a previsão da Fiesp, entidade que representa a indústria paulista, era de que a produção industrial das empresas cresceria 2,5%.
A previsão foi revista três vezes:
primeiro para algo em torno de
1,5% a 2%; depois, para 1%. Agora, em dezembro, já fala-se em retração de 1%.
O desempenho dos setores industriais está diretamente ligado
aos indicadores básicos como taxa de juros -que é parâmetro para o juro cobrado nas vendas ao
consumidor- renda, desemprego e dólar.
Renda em elevação ajuda, porém não há a menor expectativa
de recuperação na renda em 2003,
na visão dos economistas. O mesmo vale para reversão nos empregos perdidos em 2002 -até novembro, só a indústria paulista fechou 61,4 mil postos de trabalho,
recorde desde 1999.
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