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São Paulo, terça-feira, 30 de dezembro de 2003

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DESVIOS DO CAPITAL

Promotores dizem que falsificação permitiu à empresa italiana emitir títulos em meio à crise financeira

Dono da Parmalat é acusado de liderar fraude

DA REDAÇÃO

Promotores italianos acusaram o fundador da Parmalat, Calisto Tanzi, de apropriação indébita no valor de 800 milhões de euros (US$ 1 bilhão) em fundos de seu conglomerado alimentício, na década passada, de acordo com documentos relacionados à investigação judicial.
Eles também acusaram Tanzi de trabalhar com seis executivos da Parmalat, atuais e passados, e com dois auditores externos para cometer diversos delitos entre os quais fraude e falsificação de contabilidade -para ocultar os problemas financeiros da empresa enquanto ela continuava a colocar papéis no mercado.
Um dos juízes da investigação acusou Tanzi de ter agido com perfeito conhecimento do caráter fraudulento de seus atos.
As acusações estão contidas em uma ordem judicial, cópia da qual foi obtida pela Reuters na segunda-feira, emitida pelos dois magistrados que estão conduzindo a investigação. A ordem abriu caminho para que a polícia detivesse o ex-chefe da Parmalat.
Tanzi foi levado para a prisão de San Vittore, em Milão, enquanto os promotores públicos investigam as fraudes no oitavo maior grupo industrial italiano.
Na segunda-feira, as autoridades aumentaram a pressão sobre Tanzi, 65, que fez da Parmalat um dos líderes mundiais no setor de alimentos e uma das jóias na coroa industrial italiana.
Ele foi forçado a renunciar aos seus postos de presidente do conselho e de executivo-chefe do grupo duas semanas atrás, quando a empresa se viu envolvida em uma das maiores crises corporativas da Europa.
A polícia na segunda-feira realizou buscas nos escritórios da Parmalat em Milão, e também visitou a sede da La Coloniale, a holding da família Tanzi, controladora de pouco mais de 50% da Parmalat.
Os promotores pediram que um juiz de Milão emita um segundo mandado de prisão contra Tanzi, por suspeita de falência fraudulenta -crime que acarreta uma sentença de prisão de até 10 anos- e de formação de quadrilha.
Um mandado de prisão anterior, emitido no domingo, envolvia acusações de manipulação de mercado e falsificação.
Os promotores dizem que sua investigação, iniciada 10 dias atrás, descobriu uma rede de companhias no exterior que serviam como fachadas para encobrir os prejuízos da Parmalat, que até a semana passada era uma das ações mais procuradas na Bolsa de Milão. Hoje, as ações perderam quase todo o seu valor.
Não foram apresentadas acusações formais contra Tanzi ou qualquer outro envolvido na crise da Parmalat.
Depois de sua detenção, no entanto, as autoridades podem manter Tanzi na cadeia por até seis meses, enquanto prosseguem as investigações.
O mandado emitido no sábado pelos dois magistrados alega que ele "desviou em seu favor e para empresas que não eram parte do grupo (Parmalat) a soma de cerca de 800 milhões de euros".
Os magistrados disseram que Tanzi havia ordenado a destruição de documentos que descreviam a criação de bilhões de euros em falsos ativos para inflar as contas da Parmalat.
O mandado afirmava também que existia um risco de que Tanzi, que saiu da Itália na semana passada depois do início da investigação, fugisse, caso não fosse detido. O advogado de Tanzi negou que o fundador da Parmalat e outros tivessem conspirado para cometer delitos. "Não creio que haja qualquer conspiração, especialmente para cometer crimes", disse Michele Ributti a jornalistas na segunda-feira.

Ativos inexistentes
No domingo, Ributti disse que havia itens de crédito "inexistentes" nas contas da Parmalat, que segundo os promotores mostram um rombo que pode superar os 10 bilhões de euros. Mas o advogado disse que nenhum dinheiro havia desaparecido.
"Não sumiu dinheiro nenhum, apenas ativos inexistentes", disse Ributti depois que Tanzi foi interrogado por mais de seis horas por promotores de Milão e Parma.
Magistrados também decretaram a prisão de dois antigos vice-presidentes financeiros da Parmalat, um dos quais é Fausto Tonna, interrogado por mais de nove horas em Milão na semana passada, bem como de dois executivos da subsidiária italiana do grupo norte-americano de auditoria Grant Thornton.
Os executivos da Grant Thornton SpA, Lorenzo Penca e Maurizio Bianchi, negaram quaisquer delitos, na segunda-feira, e disseram desejar apresentar sua versão da história aos promotores.
A insolvência da Parmalat permite que ela se mantenha em operação e continue a pagar seus trabalhadores, os pecuaristas e os fornecedores.
A imponente prisão de San Vittore, onde Tanzi está detido, transformou-se num símbolo nacional italiano depois de servir de cárcere a políticos e empresários durante a operação "Mãos Limpas" de combate à corrupção, nos anos 90, que levou à queda de toda uma classe política.


Tradução de Paulo Migliacci

Com agências internacionais e "Financial Times"



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