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DESVIOS DO CAPITAL
Promotores dizem que falsificação permitiu à empresa italiana emitir títulos em meio à crise financeira
Dono da Parmalat é acusado de liderar fraude
DA REDAÇÃO
Promotores italianos acusaram
o fundador da Parmalat, Calisto
Tanzi, de apropriação indébita no
valor de 800 milhões de euros
(US$ 1 bilhão) em fundos de seu
conglomerado alimentício, na década passada, de acordo com documentos relacionados à investigação judicial.
Eles também acusaram Tanzi
de trabalhar com seis executivos
da Parmalat, atuais e passados, e
com dois auditores externos para
cometer diversos delitos entre os
quais fraude e falsificação de contabilidade -para ocultar os problemas financeiros da empresa
enquanto ela continuava a colocar papéis no mercado.
Um dos juízes da investigação
acusou Tanzi de ter agido com
perfeito conhecimento do caráter
fraudulento de seus atos.
As acusações estão contidas em
uma ordem judicial, cópia da qual
foi obtida pela Reuters na segunda-feira, emitida pelos dois magistrados que estão conduzindo a
investigação. A ordem abriu caminho para que a polícia detivesse o ex-chefe da Parmalat.
Tanzi foi levado para a prisão de
San Vittore, em Milão, enquanto
os promotores públicos investigam as fraudes no oitavo maior
grupo industrial italiano.
Na segunda-feira, as autoridades aumentaram a pressão sobre
Tanzi, 65, que fez da Parmalat um
dos líderes mundiais no setor de
alimentos e uma das jóias na coroa industrial italiana.
Ele foi forçado a renunciar aos
seus postos de presidente do conselho e de executivo-chefe do grupo duas semanas atrás, quando a
empresa se viu envolvida em uma
das maiores crises corporativas
da Europa.
A polícia na segunda-feira realizou buscas nos escritórios da Parmalat em Milão, e também visitou
a sede da La Coloniale, a holding
da família Tanzi, controladora de
pouco mais de 50% da Parmalat.
Os promotores pediram que
um juiz de Milão emita um segundo mandado de prisão contra
Tanzi, por suspeita de falência
fraudulenta -crime que acarreta
uma sentença de prisão de até 10
anos- e de formação de quadrilha.
Um mandado de prisão anterior, emitido no domingo, envolvia acusações de manipulação de
mercado e falsificação.
Os promotores dizem que sua
investigação, iniciada 10 dias
atrás, descobriu uma rede de
companhias no exterior que serviam como fachadas para encobrir os prejuízos da Parmalat, que
até a semana passada era uma das
ações mais procuradas na Bolsa
de Milão. Hoje, as ações perderam
quase todo o seu valor.
Não foram apresentadas acusações formais contra Tanzi ou
qualquer outro envolvido na crise
da Parmalat.
Depois de sua detenção, no entanto, as autoridades podem
manter Tanzi na cadeia por até
seis meses, enquanto prosseguem
as investigações.
O mandado emitido no sábado
pelos dois magistrados alega que
ele "desviou em seu favor e para
empresas que não eram parte do
grupo (Parmalat) a soma de cerca
de 800 milhões de euros".
Os magistrados disseram que
Tanzi havia ordenado a destruição de documentos que descreviam a criação de bilhões de euros
em falsos ativos para inflar as contas da Parmalat.
O mandado afirmava também
que existia um risco de que Tanzi,
que saiu da Itália na semana passada depois do início da investigação, fugisse, caso não fosse detido.
O advogado de Tanzi negou que o
fundador da Parmalat e outros tivessem conspirado para cometer
delitos. "Não creio que haja qualquer conspiração, especialmente
para cometer crimes", disse Michele Ributti a jornalistas na segunda-feira.
Ativos inexistentes
No domingo, Ributti disse que
havia itens de crédito "inexistentes" nas contas da Parmalat, que
segundo os promotores mostram
um rombo que pode superar os 10
bilhões de euros. Mas o advogado
disse que nenhum dinheiro havia
desaparecido.
"Não sumiu dinheiro nenhum,
apenas ativos inexistentes", disse
Ributti depois que Tanzi foi interrogado por mais de seis horas por
promotores de Milão e Parma.
Magistrados também decretaram a prisão de dois antigos vice-presidentes financeiros da Parmalat, um dos quais é Fausto
Tonna, interrogado por mais de
nove horas em Milão na semana
passada, bem como de dois executivos da subsidiária italiana do
grupo norte-americano de auditoria Grant Thornton.
Os executivos da Grant Thornton SpA, Lorenzo Penca e Maurizio Bianchi, negaram quaisquer
delitos, na segunda-feira, e disseram desejar apresentar sua versão
da história aos promotores.
A insolvência da Parmalat permite que ela se mantenha em operação e continue a pagar seus trabalhadores, os pecuaristas e os
fornecedores.
A imponente prisão de San Vittore, onde Tanzi está detido,
transformou-se num símbolo nacional italiano depois de servir de
cárcere a políticos e empresários
durante a operação "Mãos Limpas" de combate à corrupção, nos
anos 90, que levou à queda de toda uma classe política.
Tradução de Paulo Migliacci
Com agências internacionais
e "Financial Times"
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