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RECUPERAÇÃO
Segundo relatório do banco americano, economia argentina apresenta menos vulnerabilidades do que a brasileira
Citibank recomenda Argentina, e não Brasil
JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
A Argentina é uma opção de investimento, no médio prazo, mais
atraente que o Brasil. A conclusão
é de economistas do Citibank,
maior grupo financeiro mundial,
e consta de um relatório interno
produzido em Nova York. O documento, obtido pela Folha, é do
último dia 13 de dezembro.
O principal argumento usado
pelos autores do texto seria uma
fragilidade maior da economia
brasileira ante possíveis choques
externos. Combinada à dívida líquida do país, na maior parte corrigida por juros altos praticados
no mercado interno, a vulnerabilidade tornaria questionáveis supostas vantagens da economia local, afirma o relatório. Além disso,
62% dos débitos do Brasil em
moeda local seriam papéis de curto prazo, de vencimento próximo.
"No médio prazo, a Argentina
será menos vulnerável a choques
que o Brasil [...] Estará menos exposta a guinadas de liquidez internacionais", afirma o documento.
"O serviço da dívida argentina
ficará em torno de 3% do PIB entre os próximos 12 e 24 meses,
comparado a cerca de 7% ou 8%
do PIB no Brasil", observam os
economistas, referindo-se ao valor consumido por ano com pagamento de juros da dívida pública.
No estudo, os analistas simularam um cenário pessimista semelhante para ambos os países e
concluíram que a Argentina estaria em franca vantagem na comparação com o vizinho.
Para o economista Jan Kregel,
chefe de Análise Política e Desenvolvimento da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre
Comércio e Desenvolvimento), a
economia argentina não é mais
forte que a do Brasil. "Houve um
crescimento expressivo das exportações brasileiras desde 1999,
quando houve a maxidesvalorização", afirma. "A indústria argentina, até agora, não conseguiu se recuperar do fim da paridade e ainda está pouco competitiva."
O documento do Citibank não
diz com todas as letras que valeu a
pena o calote argentino, decretado em 2001, quando o país suspendeu o pagamento da dívida
alegando cobrança extorsiva de
juros. A única menção no texto é
que "os investidores devem levar
em conta que a política econômica argentina não parece ter a
aprovação do FMI e está longe,
por vezes, de ser considerada
amigável com os mercados, se
comparada ao Brasil".
Além disso, os técnicos do Citibank lembram haver falhas na regulação da economia argentina e
uma grande interferência do Estado junto ao setor privado. Mesmo
assim, recomendam a compra de
papéis da Argentina lastreados
em euros e ienes.
No Brasil
Por aqui, o estudo do Citibank
teve o mérito de unir opiniões geralmente antípodas. Economistas
locais consideram que o banco
norte-americano tem outras razões para chancelar uma análise
favorável à Argentina, apesar de o
documento conter vários aspectos que consideram razoáveis.
"É preciso ver qual é a posição
financeira do Citibank na Argentina, antes de qualquer conclusão.
"A opinião do Citi influencia os
mercados. Um documento desse
tipo ajuda a elevar o preço dos ativos argentinos. Qualquer um que
detenha muitos papéis de lá gostaria que o preço subisse antes de
vender", disse o economista Luiz
Gonzaga Belluzzo, professor da
Universidade de Campinas.
Para o ex-ministro Luiz Carlos
Mendonça de Barros, sócio-diretor da MB Associados, "a análise é
precipitada, porque a economia
brasileira é mais eficiente que a
argentina". "Mas, se eles tiverem
uma gestão adequada, é provável
que em três ou quatro anos os
efeitos da moratória já tenham
passado", afirma.
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