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Reflexo da crise nos EUA chega a grandes marcas de varejo
Redes como Coach, Target, Starbucks e Abercrombie & Fitch prevêem baixo crescimento nas vendas de inverno
Queda no movimento de fim de ano afetou grifes consideradas "definidoras de tendências" e que sempre tiveram consumidores fiéis
MICHAEL BARBARO
DO "NEW YORK TIMES"
Enquanto os comerciantes
dos EUA começavam a se debruçar sobre as receitas das
vendas de fim de ano na quarta-feira, surgia um padrão surpreendente: até marcas que há
anos inspiram uma devoção
eterna dos consumidores sentiram o aperto em suas carteiras.
Redes que pareciam imbatíveis, como Coach, Target, Starbucks e Abercrombie & Fitch,
estão prevendo um crescimento desanimador neste inverno,
depois de superar as expectativas mais animadoras em várias
temporadas.
Apesar de venderem produtos diferentes por preços variados, essas empresas tinham os
mesmos direitos a se gabar:
seus clientes as consideravam
indispensáveis e até expressões
de quem eles eram. Mas na
atual crise econômica, o indispensável se torna descartável.
"Esta temporada foi um teste
de lealdade às marcas", disse
Marshal Cohen, analista-chefe
do NPD Group, uma firma de
pesquisas de varejo.
Queda nas vendas
No início de dezembro, o começo tradicional da corrida às
compras de fim de ano, Coach,
Target e Starbucks -talvez os
maiores definidores de tendências entre os varejistas dos
EUA- advertiram que o número de consumidores que entravam nas lojas começara a cair.
A Coach advertiu que o crescimento de 20% em vendas de
bolsas nos últimos anos provavelmente cairia 10% nos meses
finais de 2007-nada do que se
envergonhar, mas um revés significativo. A Target, que está
habituada a aumentos mensais
de vendas de 4% ou mais em
suas lojas, disse que os resultados de dezembro poderão cair
1%, uma raridade na rede.
Uma avaliação final das vendas da temporada pela maioria
das redes só estará disponível
nesta semana. Mas uma projeção inicial da MasterCard Advisors, uma unidade da companhia de cartão de crédito, descobriu que as vendas de 23 de
novembro a 24 de dezembro tiveram um desempenho fraco.
Quando ajustados à inflação, os
gastos gerais basicamente não
mudaram no último ano.
Lynn Brisbois é o tipo de consumidora que está perturbando as vendas dessas empresas.
No shopping Twelve Oaks perto de Detroit, na quarta-feira,
Brisbois, 46, vasculhou as prateleiras de uma loja Coach não
muito abastecida, mas não
comprou nada.
Quando ela entrou na Abercrombie & Fitch, não foi para
comprar, mas para devolver
um pijama e um moletom para
ganhar um desconto pós-Natal,
que abateu US$ 25 dos US$ 98
que ela tinha pagado.
Os executivos do varejo haviam previsto que a combinação dos altos preços da gasolina
com a queda dos preços dos
imóveis residenciais e a incerteza econômica prejudicariam
a maioria das lojas, ou mesmo
todas, neste inverno.
Mas pensavam que essas redes fossem diferentes. Há décadas os analistas e varejistas que
as acompanham queixam-se da
morte da fidelidade às marcas,
o que já foi uma característica
do comércio nos EUA. Um
cliente da Sears, ou da Woolworth, o seria para sempre.
A explosão do comércio de
massa significou que o mesmo
produto, por exemplo uma câmera digital Sony, pode ser encontrado em uma dúzia de lojas
concorrentes. Isso inspirou os
consumidores a fazer opções de
compras mais com base nos
preços baixos do que na lealdade a uma determinada loja.
Mas um punhado de varejistas, como Coach e Target, prosperou por meio de lojas elegantes, publicidade bem-feita e mercadorias irresistíveis. Na
indústria de varejo elas ganharam o apelido de "marcas de estilo de vida", porque conseguiam refletir a atitude e o gosto de seus clientes, superando
preocupações com o preço.
A Coach, por exemplo, tornou-se tão popular nos últimos
dez anos que muitas mulheres
normalmente comedidas compraram seis de suas bolsas de
US$ 500, com desenhos elaborados e cores chamativas. Suas
vendas, lucros e cotação na Bolsa dispararam.
Um pouco abaixo na hierarquia do varejo, a Target, com
seus estilistas convidados como Isaac Mizrahi (para vestidos) e Thomas O'Brien (para
utensílios domésticos), ganhou
seguidores zelosos. Os consumidores chegaram a chamá-la
de "Targê", numa imitação de
francês, devido ao seu estilo
que a distinguia da Wal-Mart.
Como na Coach, as vendas da
Target cresceram.
Menor desempenho
Neste ano as duas marcas estão pondo os pés no chão. Ao
que parece, a Starbucks também. Depois de anos de vendas
fortes, a rede revelou no mês
passado que o movimento de
clientes caiu 1% nos EUA no verão, a primeira queda desde que
ela começou a divulgar essas informações, há três anos.
Há exceções. A Apple, por
exemplo, ampliou sua clientela
com todos os novos "i-produtos" (iTouch, iPhone, iPod, etc).
Mas os consumidores parecem relutantes em gastar muito com suas marcas favoritas. A
popular divisão Hollister da
Abercrombie, uma loja com temática surfista para um cliente
ligeiramente mais jovem que o
da matriz, disse que as vendas
não aumentaram em novembro, comparado com o ano passado -uma decepção para uma
marca de rápido crescimento.
Tom Lennox, um porta-voz
da Abercrombie, disse que,
"embora se afirme que o gasto
está mais difícil, nossas marcas
continuam se saindo muito
bem". De fato, nas lojas da marca Abercrombie as vendas aumentaram 4% em novembro.
Shining Young, 25, e Ray
Chou, 29, ambos estudantes
universitários, esperaram as liquidações para comprar roupas na quarta-feira na loja Hollister no Westfield San Francisco Centre. Afinal compraram uma jaqueta forrada por
US$ 80 (preço normal: US$
128) e um moletom com zíper
por US$ 30 (antes US$ 50).
Com um orçamento apertado e gastos maiores, os estudantes só compram na Hollister "quando tem liquidação",
segundo Young.
Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES
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