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Avanço da cana ameaça ecoturismo em SP
Valorização do produto faz com que fazendeiros desistam de abrir propriedades para atrair visitantes à região de Brotas
Pontos turísticos ficam rodeados por plantações de cana-de-açúcar na Chapada Guarani; invasão preocupa setor no interior do Estado
MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BROTAS
O avanço da cana-de-açúcar
ameaça a expansão do ecoturismo na Chapada Guarani, na região de Brotas (245 km a noroeste de São Paulo).
A euforia em torno do álcool
e a valorização dos preços da
cana no início deste ano levaram muitos proprietários da
região a arrendar parte dos
seus terrenos para as usinas, o
que limitou e cercou as áreas
reservadas para os turistas.
Campos de cerrado e mata ciliar que contornam nascentes,
cachoeiras, morros isolados e
paredões, considerados patrimônio arqueológico do Estado,
estão "ilhados" entre canaviais
-isso em plena área de proteção ambiental de Corumbataí.
Na safra deste ano, a área de
plantio da cana na chapada foi
78.536 hectares, afirma o Inpe
(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A área equivale a
mais de 95 mil campos de futebol. Cada hectare corresponde
a 10 mil metros quadrados.
Na safra 2003/2004, a área
era de 54.407 hectares -crescimento de 44% no período.
A Folha visitou a Chapada
Guarani: Brotas, Analândia e
Torrinha (a região inclui ainda
Itirapina e São Carlos) e observou o avanço dos canaviais.
Em Brotas, que se intitula
"capital nacional dos esportes
de aventura", trilhas que levam
às famosas cachoeiras em que
se praticam rafting e bóia-cross
(descidas de corredeiras em
botes e bóias, respectivamente) têm agora passagens por
plantações de cana.
O turismo na cidade movimenta, por ano, R$ 27 milhões.
"Essa expansão nos assustou.
Fizemos um zoneamento ambiental em parceria com a USP
e vimos que, dos 30 mil hectares de cana que havia em Brotas, a área, de repente, saltou
para 41 mil, sendo que o município todo tem 110 mil hectares.
Queremos fazer um "escudo
protetor" das áreas nativas", diz
o prefeito Orlando Barreto.
Na vizinha Analândia, ambientalistas e empresários do
turismo dizem que o cinturão
de cana já compromete o ecoturismo. "Temos até medo de
perder o título de estância climática. Vendemos imagens das
belezas naturais e estamos numa ilha de cana", diz Gabriela
Dabronzo, do Posto de Atendimento ao Turista da prefeitura.
"Durante sete anos resisti,
mas desta vez me "pegaram'",
diz o fazendeiro Luiz Antonio
Canello, que neste ano arrendou 65% da propriedade dele
para uma usina. Canello foi
atraído pelo preço do produto,
cotado a R$ 53 a tonelada em
janeiro -em dezembro, o preço era de R$ 33.
Numa área de cerca de 50
mil metros quadrados, ele está
construindo um camping, perto de uma cachoeira, a principal atração turística da fazenda
-já cercada pelos canaviais e
por onde devem passar os treminhões (caminhões para
transporte de cana-de-açúcar)
na época da colheita.
Perto dali, na Fazenda Pedra
Viva, o morro do Cuscuzeiro,
pedra de 220 metros de altura
considerada um dos melhores
pontos de escalada do Estado,
está rodeado pela cana.
"Não posso negar que é o
produto mais rentável", diz Oldair Calchi, dono da fazenda.
Na cidade de Torrinha, onde
se estima haver mais de 50 cachoeiras, donos das áreas não
permitem passeios, mas cederam terrenos para usinas, que
pagam em média R$ 2.000 ao
mês pelo "aluguel".
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