São Paulo, domingo, 30 de dezembro de 2007

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Avanço da cana ameaça ecoturismo em SP

Valorização do produto faz com que fazendeiros desistam de abrir propriedades para atrair visitantes à região de Brotas

Pontos turísticos ficam rodeados por plantações de cana-de-açúcar na Chapada Guarani; invasão preocupa setor no interior do Estado

MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BROTAS

O avanço da cana-de-açúcar ameaça a expansão do ecoturismo na Chapada Guarani, na região de Brotas (245 km a noroeste de São Paulo).
A euforia em torno do álcool e a valorização dos preços da cana no início deste ano levaram muitos proprietários da região a arrendar parte dos seus terrenos para as usinas, o que limitou e cercou as áreas reservadas para os turistas.
Campos de cerrado e mata ciliar que contornam nascentes, cachoeiras, morros isolados e paredões, considerados patrimônio arqueológico do Estado, estão "ilhados" entre canaviais -isso em plena área de proteção ambiental de Corumbataí.
Na safra deste ano, a área de plantio da cana na chapada foi 78.536 hectares, afirma o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A área equivale a mais de 95 mil campos de futebol. Cada hectare corresponde a 10 mil metros quadrados.
Na safra 2003/2004, a área era de 54.407 hectares -crescimento de 44% no período.
A Folha visitou a Chapada Guarani: Brotas, Analândia e Torrinha (a região inclui ainda Itirapina e São Carlos) e observou o avanço dos canaviais.
Em Brotas, que se intitula "capital nacional dos esportes de aventura", trilhas que levam às famosas cachoeiras em que se praticam rafting e bóia-cross (descidas de corredeiras em botes e bóias, respectivamente) têm agora passagens por plantações de cana.
O turismo na cidade movimenta, por ano, R$ 27 milhões. "Essa expansão nos assustou. Fizemos um zoneamento ambiental em parceria com a USP e vimos que, dos 30 mil hectares de cana que havia em Brotas, a área, de repente, saltou para 41 mil, sendo que o município todo tem 110 mil hectares. Queremos fazer um "escudo protetor" das áreas nativas", diz o prefeito Orlando Barreto.
Na vizinha Analândia, ambientalistas e empresários do turismo dizem que o cinturão de cana já compromete o ecoturismo. "Temos até medo de perder o título de estância climática. Vendemos imagens das belezas naturais e estamos numa ilha de cana", diz Gabriela Dabronzo, do Posto de Atendimento ao Turista da prefeitura.
"Durante sete anos resisti, mas desta vez me "pegaram'", diz o fazendeiro Luiz Antonio Canello, que neste ano arrendou 65% da propriedade dele para uma usina. Canello foi atraído pelo preço do produto, cotado a R$ 53 a tonelada em janeiro -em dezembro, o preço era de R$ 33.
Numa área de cerca de 50 mil metros quadrados, ele está construindo um camping, perto de uma cachoeira, a principal atração turística da fazenda -já cercada pelos canaviais e por onde devem passar os treminhões (caminhões para transporte de cana-de-açúcar) na época da colheita.
Perto dali, na Fazenda Pedra Viva, o morro do Cuscuzeiro, pedra de 220 metros de altura considerada um dos melhores pontos de escalada do Estado, está rodeado pela cana.
"Não posso negar que é o produto mais rentável", diz Oldair Calchi, dono da fazenda.
Na cidade de Torrinha, onde se estima haver mais de 50 cachoeiras, donos das áreas não permitem passeios, mas cederam terrenos para usinas, que pagam em média R$ 2.000 ao mês pelo "aluguel".


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