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Hidrovia parada ameaça escoamento da safra
Disputa na Justiça paralisa as operações na Tietê-Paraná; transporte de mais de 1 milhão de toneladas de grãos está em risco
Carga de grãos deverá ser transportada por caminhão, o que eleva o custo do transporte e os riscos nas estradas do interior de SP
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
O transporte da safra de
grãos de parte do Centro-Oeste
rumo ao porto de Santos deve
piorar muito em 2009.
Uma disputa que foi parar na
Justiça entre a DNP Indústria e
Navegação, principal companhia de navegação da hidrovia
Tietê-Paraná, e a Marinha paralisou as operações dos sete
comboios de soja operados no
trecho entre São Simão, sul de
Goiás, e os terminais graneleiros de transbordo para trens,
em Pederneiras (SP), ou caminhões, em Anhembi (SP).
É a primeira vez desde o início das operações da hidrovia,
há 15 anos, que o transporte ficará parado e sem perspectiva
de retomada.
A Caramuru, um das maiores
tradings de capital nacional e a
maior usuária da hidrovia, ainda não anunciou o que pretende fazer para transportar mais
de 1 milhão de toneladas de
grãos devido à paralisação de
todo o complexo logístico da
Tietê-Paraná.
Em 2008, a DNP transportou
1,2 milhão de toneladas de soja
e projetava elevar esse volume
para 1,4 milhão a 1,5 milhão de
toneladas neste ano não fosse a
punição aplicada pela Marinha.
A paralisação das atividades
da DNP foi determinada pela
Capitania Fluvial do Tietê-Paraná, ligada ao 8º Distrito Naval
da Marinha. Desde o dia 15 de
dezembro, cinco tripulações da
DNP estão suspensas, impedidas de comandar comboios de
transporte de soja e açúcar. Outras duas tripulações já estavam suspensas por determinação da Marinha.
A decisão foi tomada pelo vice-almirante Terenilton Souza
Santos, depois que os comandantes fluviais da companhia
de navegação desrespeitaram a
exigência de desmembramento
dos comboios de quatro barcaças que cruzam o vão sob a ponte SP-191, no interior de São
Paulo, na região de Botucatu.
A Marinha exige que todos os
comboios da DNP -a única armadora da hidrovia a operar
nesse trecho para alcançar o
terminal de Anhembi- sejam
ancorados e as tripulações executem manobras de desmembramentos dos comboios para a
passagem de duas barcaças por
vez sob a ponte.
A Capitania do Tietê-Paraná
alega que a operação faz parte
das medidas de segurança e
tem como objetivo evitar acidentes, como choques entre os
comboios e os pilares da ponte.
Em nota, o 8º Distrito Naval
afirmou que a empresa tem
descumprido a exigência.
Tamanho do vão
Segundo a empresa, o vão de
77 metros -tamanho da passagem considerando as proteções
dos dois pilares- é suficiente
para a passagem dos quatro
comboios de uma só vez, sem a
necessidade de desmembramento. A empresa alega ainda
que a própria Marinha autoriza
a passagem de comboios em
vãos menores sem o desmembramento, como o vão livre das
pontes SP-225, com 64 metros,
e SP-595, com 68 metros.
Mesmo depois do cumprimento da suspensão imposta
pela Marinha, as tripulações
não poderão voltar à navegação. Segundo a DNP, a Marinha
exige da empresa o pagamento
das multas aplicadas pelo não
cumprimento da exigência. A
companhia de navegação entrou com ações na Justiça questionando a aplicação das multas. O assunto está sub judice.
Sem a autorização para navegação, os comboios não podem
transitar pelo canal. Criou-se
um impasse cujo desfecho é imprevisível em relação ao tempo
e à solução a que se chegará.
Por conta dessa incerteza em
relação ao retorno da operação,
a DNP já informou à Caramuru, maior usuária do transporte
hidroviário, que não tem como
garantir a execução do contrato. "Já dissemos que não vamos
ter como cumprir o contrato.
Já disponibilizamos a estrutura para que a Caramuru possa
usar", disse Pedro Burin, diretor da DNP. Em dezembro, a
companhia diz que deixaria de
transportar 60 mil toneladas de
soja -prejuízo de R$ 2 milhões.
Disputa antiga
A disputa entre a DNP e a
Marinha é antiga. A companhia
navegadora alega que as regras
impostas para a operação na
Tietê-Paraná representam um
entrave ao desenvolvimento
desse transporte.
O desmembramento é uma
exigência que reduz brutalmente a produtividade da hidrovia e é apontada por usuários e pela maior armadora da
Tietê-Paraná como uma das razões para o baixo volume de
carga transportada por essa
modalidade no Estado. Basta
observar os volumes de transporte realizados neste ano.
A hidrovia Tietê-Paraná foi
projetada para suportar o tráfego de 20 milhões de toneladas
de carga por ano. Em 2008, as
projeções indicam que pelo canal de navegação -que interliga regiões produtoras do Centro-Oeste aos terminais de Pederneiras e Anhembi- passaram 2 milhões de toneladas.
Sem a maior transportadora
da hidrovia, a previsão é que o
volume de carga com destino
ao porto de Santos, 97% do que
transita pela hidrovia, passe a
ser transportado sobre caminhões, uma modalidade de
transporte muito mais cara, perigosa e poluente.
Os números sobre a capacidade de transporte dos comboios de soja mostram o potencial hoje ignorado pelo país.
Uma única barcaça transporta 1.500 toneladas, volume
equivalente a 15 vagões, ou
mais de 50 carretas. Cada tonelada transportada pela hidrovia
custa cerca de US$ 0,025 por
quilômetro. O valor sobe para
US$ 0,064 na ferrovia e para
US$ 0,084 quando a carga é
transportada em rodovias.
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