Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Temos de ter cuidado e não ficar
otimistas, afirma diretor do BC
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S/A
O diretor de política monetária
do Banco Central, Luiz Fernando
Figueiredo, considera natural o
otimismo do mercado com relação aos bons resultados da economia. Só o Banco Central, a seu ver,
não pode compartilhar desse otimismo. Mesmo assim, ele aposta
num crescimento do PIB superior
a 4,5% neste ano.
Leia abaixo trechos de entrevista concedida à Folha.
Folha - Não é hora de usar parte
do superávit recorde de 2000 para
investir mais no social?
Figueiredo - Foi esse superávit
que possibilitou, por exemplo,
aumentar em 50% o orçamento
de educação neste ano.
Folha - O senhor não acha que há
muito otimismo na economia?
Figueiredo - É natural, o mercado reage assim mesmo. O que não
pode é a gente ficar otimista.
Folha - Como assim?
Figueiredo - O Banco Central
não pode ficar otimista. Nós temos que olhar tudo com muito
cuidado. Nós não podemos ser levados pela emoção. O mercado
pode estar cada vez mais otimista,
mas nós não. Nós temos que ficar
olhando para tomarmos as decisões tecnicamente.
Folha - A desaceleração norte-americana não está sendo mais forte do que se previa?
Figueiredo - É muito provável
que a parada na economia dos
EUA seja por dois trimestres e só
retome a normalidade no segundo semestre. O risco mais sério é o
de algum problema de crédito, o
que parece não ser o caso.
Folha - E se houver um acidente?
Figueiredo - O Brasil seria certamente um dos países menos afetados no caso de um acidente.
Nesse caso, não seria necessário
um aumento nos juros para atrair
capital com o fim de cobrir o déficit da balança de conta corrente.
Isso porque o déficit cairá, independentemente do que acontecer
com as exportações e a entrada de
investimentos diretos. O déficit
cai porque o preço do petróleo diminui e nós somos grandes importadores de petróleo.
Folha - O senhor acompanha os
encontros de Davos e de Porto Alegre? Qual a opinião do sr.?
Figueiredo - Eu estou na linha
do presidente FHC. Os dois fóruns são complementares. Qual é,
afinal, o objetivo de ter uma situação econômica saudável? É poder
cuidar da educação, saúde, mas,
para isso, é preciso cumprir uma
agenda microeconômica. Se não
formos capazes de aumentar a
produtividade, não seremos capazes de ter mais receita para educação e saúde.
Folha - O governo prevê um crescimento de 4,5% do Produto Interno Bruto este ano. Diante de tanto
otimismo, o senhor considera possível o crescimento ser maior?
Figueiredo - O que está acontecendo é que o crescimento do
Produto Interno Bruto em 2000
irá superar 4%, e isso faz com que
o ano de 2001 já comece mais acelerado. Diante disso, é possível o
crescimento ser maior do que
4,5% neste ano. A inflação vai
continuar bem comportada.
Texto Anterior: Contas públicas: Aperto fiscal faz país superar meta com FMI Próximo Texto: Governo consegue ampliar prazo para pagamento da dívida interna Índice
|