São Paulo, quarta-feira, 31 de janeiro de 2001

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Temos de ter cuidado e não ficar otimistas, afirma diretor do BC

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S/A

O diretor de política monetária do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo, considera natural o otimismo do mercado com relação aos bons resultados da economia. Só o Banco Central, a seu ver, não pode compartilhar desse otimismo. Mesmo assim, ele aposta num crescimento do PIB superior a 4,5% neste ano.
Leia abaixo trechos de entrevista concedida à Folha.

Folha - Não é hora de usar parte do superávit recorde de 2000 para investir mais no social?
Figueiredo
- Foi esse superávit que possibilitou, por exemplo, aumentar em 50% o orçamento de educação neste ano.

Folha - O senhor não acha que há muito otimismo na economia?
Figueiredo
- É natural, o mercado reage assim mesmo. O que não pode é a gente ficar otimista.

Folha - Como assim?
Figueiredo
- O Banco Central não pode ficar otimista. Nós temos que olhar tudo com muito cuidado. Nós não podemos ser levados pela emoção. O mercado pode estar cada vez mais otimista, mas nós não. Nós temos que ficar olhando para tomarmos as decisões tecnicamente.

Folha - A desaceleração norte-americana não está sendo mais forte do que se previa?
Figueiredo
- É muito provável que a parada na economia dos EUA seja por dois trimestres e só retome a normalidade no segundo semestre. O risco mais sério é o de algum problema de crédito, o que parece não ser o caso.

Folha - E se houver um acidente?
Figueiredo
- O Brasil seria certamente um dos países menos afetados no caso de um acidente. Nesse caso, não seria necessário um aumento nos juros para atrair capital com o fim de cobrir o déficit da balança de conta corrente. Isso porque o déficit cairá, independentemente do que acontecer com as exportações e a entrada de investimentos diretos. O déficit cai porque o preço do petróleo diminui e nós somos grandes importadores de petróleo.

Folha - O senhor acompanha os encontros de Davos e de Porto Alegre? Qual a opinião do sr.?
Figueiredo
- Eu estou na linha do presidente FHC. Os dois fóruns são complementares. Qual é, afinal, o objetivo de ter uma situação econômica saudável? É poder cuidar da educação, saúde, mas, para isso, é preciso cumprir uma agenda microeconômica. Se não formos capazes de aumentar a produtividade, não seremos capazes de ter mais receita para educação e saúde.

Folha - O governo prevê um crescimento de 4,5% do Produto Interno Bruto este ano. Diante de tanto otimismo, o senhor considera possível o crescimento ser maior?
Figueiredo
- O que está acontecendo é que o crescimento do Produto Interno Bruto em 2000 irá superar 4%, e isso faz com que o ano de 2001 já comece mais acelerado. Diante disso, é possível o crescimento ser maior do que 4,5% neste ano. A inflação vai continuar bem comportada.


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