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HERANÇA DOS CHOQUES
Governo vê distorções em saques e estuda reter multa de 40% para cobrir correção e evitar fraude
"Irregularidade" pode tapar rombo do FGTS
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Ministério do Trabalho começou a investigar distorções nos
saques do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) em
2000. A suspeita é que a multa de
40% paga aos funcionários demitidos sem justa causa seja a origem de supostas irregularidades.
O problema pode ser usado pelo
governo como mais um argumento para reter a multa no próprio fundo. O Ministério do Trabalho vinha considerando a retenção uma alternativa para a correção dos saldos do FGTS pelos
planos econômicos.
As suspeitas de problemas surgiram com o cruzamento de informações sobre recolhimento do
FGTS, saques e pagamento do seguro-desemprego em 2000.
No ano passado, 21 milhões de
trabalhadores registrados foram
beneficiados com recolhimento
de depósitos para o fundo. No
mesmo período, a Caixa Econômica Federal registrou 10,7 milhões de saques por demissão
-quase 50% da mão-de-obra.
O número de saques não inclui
retirada para a compra de casa
própria, por aposentadoria ou
por motivos de doença.
Ao comparar o volume de saques com o total de pedidos de seguro-desemprego, uma nova surpresa. Somente 4 milhões de pedidos foram formalizados em 2000.
Contribui para o descasamento
dos números o fato de o mercado
de trabalho formal ter apresentado recuperação em 2000. O Caged
(Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados), pesquisa do
Ministério do Trabalho, indica a
geração de 880 mil empregos com
carteira assinada até novembro.
Embora um mesmo trabalhador possa ter sido demitido mais
de uma vez e realizado vários saques no ano, a disparidade entre
os números levou o ministro do
Trabalho, Francisco Dornelles, a
encomendar uma investigação.
A Folha apurou que, em alguns
setores da economia, o governo já
detectou distorções nos saques do
FGTS em razão do pagamento da
multa de 40%.
Os casos mais comuns são os de
"acordos" entre empresas e empregados. O trabalhador pede que
seja demitido para ter direito ao
saque do saldo do FGTS.
A multa de 40% paga ao ex-funcionário é devolvida para a empresa, vai para o caixa-dois do
empresário ou é embolsada pelo
funcionário responsável pelo departamento pessoal.
Com a retenção da multa no
próprio fundo, o governo estaria
ao mesmo tempo corrigindo uma
falha e capitalizando o FGTS para
corrigir os saldos referentes aos
planos econômicos. O passivo é
estimado em R$ 40 bilhões.
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