UOL


São Paulo, sexta-feira, 31 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LUÍS NASSIF

A tutela do Fome Zero

Economista da Unicamp e novo presidente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), vinculada ao Ministério da Agricultura, Luiz Carlos Guedes Pinto sustenta que o Fome Zero é apenas um programa emergencial, que não substitui ações de caráter estrutural. Considera que está havendo confusão pelo fato de muito gente estar falando por ele, dentro e fora do governo.
É correta a estratégia -explicada por ele- de testar o programa em pequena escala, para depois conferir escala nacional. Quanto à tutela do gasto do dinheiro, diz Guedes que especialistas da FAO (organismo das Nações Unidas para agricultura e alimentação) "recomendam expressamente que, num programa de combate à fome, os recursos entregues às famílias sejam destinados à compra de alimentos, portanto é preciso algum acompanhamento do uso desses recursos". Será?
Segundo Guedes, não há nenhuma determinação sobre a entrega de nota fiscal ou coisa parecida para comprovação por parte das famílias. Basta uma declaração oral sobre o que comprou. Na prática, com nota fiscal ou não, mantém-se o caráter de tutela sobre as doações.
A mesma Unicamp, de Guedes, por meio do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas, produziu o trabalho "As Estruturas de Gastos das Famílias Beneficiadas pelo Renda Mínima de Campinas", de autoria de Mariana Bittar.
O trabalho constatou que, sem nenhuma espécie de tutela do Estado, os alimentos respondiam por 43% do dinheiro recebido de todas as famílias classificadas (casais jovens ou velhos, chefiadas por homens ou mulheres). Depois, vinham gastos com moradia (aluguel, água, luz, gás etc.), seguidos por vestuário, eletrodomésticos e móveis, remédios e transportes, todos variando de 5% a 15%, dependendo do perfil da família. Bebidas e cigarros representavam apenas 2% dos gastos das famílias, sem a necessidade de nenhuma tutela do Estado.
Aliás, o bispo Mauro Morelli comandou certa vez uma distribuição de alimentos de todos os estoques da Conab de milho e arroz. Segundo um especialista da época, as prefeituras tinham que pagar o transporte do milho (que ia de Santa Catarina). Chegava o caminhão, soldados abriam os sacos na carroceria e iam enchendo panelas, latas e sacolas, sem nenhuma forma de controle. Foi um desperdício amplo.

Criatividade
No encerramento do encontro organizado pela Folha, para discutir a União Européia e a sociedade civil, o comissário do Comércio do bloco, Pascal Lamy, apresentou uma linha de argumentação extraordinariamente criativa sobre os subsídios agrícolas europeus.
Disse que, diferentemente de outras atividades econômicas, o agricultor, além de plantar, presta um serviço público: preservar o ambiente. Quando vende seu produto no supermercado, é remunerado pelo plantio; quando recebe o subsídio, é remunerado pela prestação de serviços. Ou seja, não existe subsídio agrícola, mas remuneração pela prestação de serviços ecológicos.
Falou, disse e nem corou.

E-mail - LNassif@uol.com.br


Texto Anterior: Teles: Embratel usa estratégia de preços por minuto para conquistar telefonia local
Próximo Texto: Ano do dragão: Inflação recua, mas já pára de ceder, diz FGV
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.